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Lúcio Ribeiro

Salsicha de soja

Quer se transformar em um ser humano melhor? Frequente um estádio de futebol

Fomos sempre levados a acreditar que é o Maracanã, mas talvez o estádio mais famoso do mundo seja mesmo o Coliseu Romano, erguido nos anos 80. Eu digo 80 d.C.. Lugar de jogos sangrentos entre homens e animais e entre homens e homens mesmo, o Coliseu era um bom ambiente, acreditavam os romanos, para crianças e jovens aprenderem ensinamentos práticos sobre sociabilidade, ordem e luta pela sobrevivência.

Mais de 1.900 anos depois da construção do "estádio" de Roma, estava eu semana passada no Couto Pereira, em Curitiba, para ver Coritiba e Londrina, um jogo sangrento entre homens da capital e homens do interior pela liderança do Paranazão.

Já tinha ouvido falar sobre, mas placas por todo lugar me avisavam que era proibido fumar em qualquer dependência do estádio, sob pena da lei. Não que eu fume -pelo contrário, tenho asco de cigarro-, mas fico imaginando a fissura de um fumante nervoso diante de um jogo idem em um estádio aberto em que não se pode fumar.

Sem fazer de meu argumento um estudo sociológico sobre a violência do futebol, roçando na polêmica da cerveja na Copa e agregando pensamento à lei "antibaixaria" que tentam emplacar na Bahia (para proibir manifestações musicais que contenham ofensas em eventos públicos, o que deve chegar logo às arquibancadas), chegamos ao ponto em que o estádio de futebol está revisitando os preceitos romanos na formação de um humano melhor.

O estádio enquanto laboratório da humanidade: cigarro faz mal à saúde, seja uma pessoa educada, não cante músicas com palavrão e preconceito no estádio; pela ordem social, não beba nas duas horinhas em que seu time está jogando.

Não importa que haja leis demais e fiscalização de menos onde realmente interessa. Que o entorno do estádio venda mais bebida que o Oktoberfest. Que as pessoas se matem fora do estádio, mas dentro a violência está contida. Que cambistas e flanelinhas façam a festa nas cercanias. Porque, no estádio, a lei e a vigilância imperam.

Fico imaginando o que ainda vamos ver dentro de um estádio num futuro próximo, nesse raciocínio de que ele é o espelho do "homem de bem": cafezinho vendido apenas com açúcar mascavo; cachorro quente com "salsicha de soja"; distribuição de fones de ouvidos para o público avesso a pagode e Ivete Sangalo sintonizar rock no intervalo; exigência de depilação dos jogadores, por questões higiênicas; os gritos de guerra das torcidas vão ter que obedecer uma cota de 20% de cânticos educativos tipo "não maltrate os animais"

Alguém se espantaria?

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