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Xico Sá

A arte da guerra

Há uma versão brasileira errada do que seria esse tal de espírito copeiro dos rivais latinos

Amigo torcedor, amigo secador, ou o Corinthians acaba com esta história de espírito de Libertadores ou o espírito de Libertadores desencarna o Corinthians, mais uma vez, da competição continental.

O time mosqueteiro, de origem operária, já nasceu aguerrido. É uma característica natural. Mais que isso, vira fúria, avexamento e desequilíbrio, como na noite de anteontem em Guayaquil.

Sim, o juiz fez algumas trapaças de varejo que prejudicaram o alvinegro, mas não ao ponto de ter decidido o destino do jogo. Se for perder a razão cada vez que isso ocorrer fora de casa, em alguma cordilheira da América, melhor desistir da taça.

Há uma versão brasileira errada do que seria esse tal de espírito copeiro dos adversários latino-americanos. O que eles sempre usaram, principalmente os argentinos e uruguaios, donos do maior número de títulos, foi a catimba, que vem a ser o espírito de porco. Não o afobamento.

Eles têm a arte de minar a paciência dos brasileiros a cada lance. Nós caímos feito uns patinhos de tiro ao alvo de parque de diversões. A catimba é o avesso do repetido, ad nauseam, espírito de Libertadores.

Catimbar também não é recomendável, até porque esta patente não é verde-amarela, exige aprendizado e cátedra. O máximo que os times daqui conseguem é fazer cera -apenas um dos itens do pacote antijogo. Isso não quer dizer que os boleiros tupiniquins sejam inocentes. Na hora de bater, por exemplo, batem tanto quanto ou mais.

Voltemos ao mundo fantasma. Quantas vezes os brasucas triunfaram somente com o espírito de Libertadores? Sempre que esta pergunta incendeia o botequim, alguém lembra do bicampeão Grêmio, equipe que desperta em nosso imaginário a ideia de "guerras" e "batalhas".

É certo que o tricolor gaúcho contava com o espírito de cruzada medieval do Dinho em 1995, mas a gente esquece do quanto jogavam Arce e Carlos Miguel, sempre deixando Jardel pronto para dar boa noite Cinderela aos arqueiros inimigos. O título de 1983 nem se fala: De Leon, Renato, Tarcísio...

O São Paulo dos 90 tinha espírito de Libertadores? Batia era um bolão, isso sim, seu Telê que o diga. Os outros campeões idem. Galeria que tem, entre outros timaços, o Fla de Júnior e Zico e os Santos de Pelé, Neymar e uma maternidade inteira de meninos.

Sem essa de espírito de Libertadores.

Vale o mantra das antigas: o jogo é jogado, o lambari é pescado.

@xicosa

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