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Rodrigo Bueno

Nada paga isso

Nem todo o dinheiro do mais milionário xeque e de magnata russo vale a emoção que o futebol causa

ONDE você estava e o que fazia no instante em que Aguëro anotou o gol que pôs fim ao jejum de 44 anos sem títulos do Manchester City no Inglês? Eis um exemplo de acontecimento que será lembrado pela vida toda, especialmente por quem assistiu ao vivo a história.

Era Dia das Mães. E a minha, que odeia futebol, sentou perto de mim no sofá nos minutos finais e gritou gol quando Dzeko fez o 2 a 2 já nos acréscimos (dona Maria, simpatizante do Juventus da Mooca, só tinha vibrado, pelo que lembro, com gols da Espanha, seleção do meu saudoso vô). Estranhei aquela reação muito mais que a do meu pai, que não dá bola para jogos de times estrangeiros e que passou momentos do jogo perguntando coisas sobre os Manchesters e o QPR.

Acho que a saudade que meus pais têm sentido de mim fez com que ambos quisessem dividir comigo esse fim de Premier League. Só que eles, pouco se importando com aquilo a princípio, perceberam a grandeza do fato. As cenas de torcedores desesperados e depois extasiados foi como um último capítulo eletrizante de novela, um final feliz que nenhum ótimo roteirista escreveria melhor.

Meus velhos não sabem que o Man City chegou aonde chegou com a grana fácil de um xeque, mas souberam bem captar o sofrimento, o drama, a euforia, aquele final épico. Talvez coisa parecida ocorra na final da Champions League, quando Roman Abramovich pode enfim ganhar a Europa. Um caminhão de dinheiro não garante taça, mas ajuda um bocado, afinal. Só que nada paga cenas como as de Manchester no domingo.

O futebol tem o poder de pagar cerca de R$ 16 milhões por ano a um técnico em afirmação como Mancini e de torrar € 15 milhões e mais um atacante que custou R$ 148 milhões (Niño Torres) num especialista em ser artilheiro da Liga Europa (Falcao Garcia). Mas tem um poder muito maior: mexe com as pessoas de forma singular. Tanto que sábado estarei em um cinema 3D vendo a decisão da Copa dos Campeões com um monte de gente que não conheço, dividindo emoções e esperando por um roteiro que nem precisa ser tão genial como o do Man City (a temporada de "Blue Moon" acabou em "Hey Jude").

Não é à toa que houve agora aumento de 30% no número de brasileiros que viram a Champions League em relação à temporada passada (dados do Esporte Interativo, que teve seu recorde histórico de audiência no Real x Bayern: 4,3 milhões de telespectadores). Não é à toa que eu digo: "O futebol mundial vai dominar o mundo".

rodrigo.bueno@grupofolha.com.br

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