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Pacto pelo ouro

Brasileiro lidera time de polo aquático dos EUA que abriu mão de salários para ser campeão na Olimpíada

MARIANA LAJOLO
EDITORA DE “ESPORTE”

A meta é conquistar o inédito ouro olímpico e ajudar a transformar a realidade do esporte no país. Para que atletas não precisem mais se sacrificar e jogar longe de casa.

O projeto de um grupo de já veteranos esportistas se assemelha aos de muitos outros em países periféricos ou emergentes do mundo olímpico. Mas ocorre na maior potência esportiva do planeta.

Liderados pelo brasileiro Anthony Lawrence Azevedo, 30, os jogadores da seleção de polo aquático dos EUA decidiram fazer um pacto pelo ouro nos Jogos de Londres.

Eles abriram mão de contratos com times de potências do leste europeu que poderiam render até € 250 mil (cerca de R$ 645 mil) por uma temporada de nove meses.

Também abandonaram outros trabalhos ou planos de começar novas carreiras.

Foram morar lado a lado e se dedicar apenas à seleção.

"O que estamos fazendo é ainda mais especial pelo fato de estarmos juntos há tantos anos. Crescemos jogando juntos", afirma Tony à Folha.

Uma das motivações para o pacto foi a frustração do grupo em Pequim-2008.

Os EUA eram apenas o nono time do mundo, mas chegaram à final contra a então "imbatível" campeã olímpica Hungria e fizeram um jogo equilibrado. Perderam.

O plano de viver em concentração, no entanto, só se concretizou no ano passado, após conversa de Tony com o técnico Terry Schroeder.

"Nós vimos que, se queremos ganhar o ouro, temos que talvez fazer o maior sacrifício de nossas vidas", diz.

Nascido no Rio, Tony chegou aos EUA ainda criança. O pai, Ricardo, defendeu o Brasil, jogou por times norte-americanos e se tornou técnico da seleção local. Agora é comandante da China.

Com o exemplo paterno em casa, Tony se apaixonou pelo esporte ainda garoto. Hoje, é capitão da equipe e vai à quarta Olimpíada, um recorde no polo aquático dos EUA.

"Espero que possamos ajudar a mudar a realidade do polo aqui. O próximo passo é o ouro. Nosso esporte tem muito a fazer, mudar regras, fazer o jogo parecer melhor na TV, mas são coisas que podemos fazer", afirma Tony.

"Provavelmente eu não estarei mais jogando quando o polo ficar mais popular nos EUA, mas eu quero que meus filhos vivam isso", completa.

A seleção está na Califórnia e treina na Universidade Cal Lutheran, em Thousand Oaks. Para se manterem, os jogadores recebem ajuda da federação de polo e doações de amigos ou desconhecidos.

Eles treinam seis horas por dia, cinco dias por semana. Aos sábados, são três horas de treinamento. "Estamos tentando sobreviver. Se tivéssemos também um trabalho de meio período, iríamos dormir em cima da mesa", brinca o goleiro Merrill Moses.

Em regime de concentração, os atletas conseguiram aprimorar a forma física como nunca. Na Europa, como fazem muitos jogos, não podem treinar tanto. Hungria, Montenegro, Sérvia e Rússia têm as principais ligas.

"Nós não ganhamos milhões em nosso país, mas temos a chance de viajar. Gosto de ir a novos lugares e conhecer novas culturas", diz Tony, que é fluente em italiano e domina as línguas de Sérvia, Croácia e Montenegro. Do português, entende tudo, mas fala com dificuldade.

"Me irrita quando vejo um jogador de basquete reclamando dos milhões de dólares que ganha e ele está [jogando] em casa", afirma.

O ouro em Londres pode ser o primeiro passo para Tony poder ficar em casa. Sem mais sacrifícios.

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