Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Edgard Alves

Eu vi

Acompanhei Teófilo Stevenson em duas Olimpíadas. Ele era um fenômeno

O ex-peso-pesado Teófilo Stevenson, que morreu aos 60 anos há uma semana em consequência de um infarto do miocárdio, era considerado o melhor boxeador amador da história. Ele foi mesmo um fenômeno dentro dos ringues. Acompanhei lutas dele em duas Olimpíadas e no Pan-79. Impressionavam seus jabs e golpes fulminantes, que massacravam os adversários. Eram golpes mais ou menos como Maguila, o ex-campeão brasileiro dos pesados, costumava explicar pancada forte: onde bate não nasce mais pêlo.

Eu tive um encontro peculiar com Stevenson, nas instalações cubanas da Vila Olímpica de Montréal, em 1976. Passei às mãos dele, um embrulho, com recomendações do Marco Antonio Moraes, o Marquito, que o entrevistara para a Folha no Pan do México, menos de um ano antes.

Ele arregalou os olhos: "Ouço sempre, gosto das canções dele". E, aparentemente orgulhoso, mostrou aos companheiros a capa do long play do cantor brasileiro Nelson Ned. O irriquieto e bom Marquito partiu cedo, senão contaria mais detalhes. Voltei a falar pessoalmente com Stevenson no Pan do Rio-2007. Não havia esquecido do presente que recebera no Canadá.

Defensor ferrenho do regime cubano, Stevenson veio ao Pan como dirigente da delegação que enfrentou a crise da fuga dos boxeadores, o bicampeão olímpico Guillermo Rigondeaux e o campeão mundial Erislandy Lara, repatriados pelo governo brasileiro e personagens de nova fuga, empreendida a partir de Cuba, com respaldo e propostas de empresários de boxe. Não sei se enriqueceram.

Uma trajetória diferente da de Stevenson, como mostrou Eduardo Ohata na Folha na última quarta-feira, na pág. D12, sob o título "Dúvida Eterna", detalhando como foi a especulação do esperado combate que não aconteceu entre Muhammad Ali e Stevenson, que recusou ofertas milionárias pois teria de se profissionalizar. Alegava que sua proposta era defender o comandante Fidel Castro e a revolução, que vetava o profissionalismo no esporte por causa do seu viés capitalista.

Após o anúncio da morte, a TV estatal cubana destacou seus "triunfos, simplicidade e patriotismo". Stevenson conquistou o ouro olímpico nos Jogos de Munique-1972, Montréal-1976 e Moscou-1980. Encerrou a carreira como boxeador após conquistar o título mundial pela terceira vez, e com cartel de 321 lutas, 301 vitórias. Jornalistas americanos que visitaram Cuba relataram que ele consumia álcool. Ocupou cargos em entidades esportivas do país. E virou lenda, uma lenda do esporte revolucionário cubano.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.