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No Tatuapé, reduto corintiano, torcida emula nervosismo e festa da equipe em Buenos Aires

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Quando começou a noite de ontem, o Tatuapé eram os gritos de guerra, o pagode, as camisas e as bandeiras, que o demarcavam como território só corintiano no dia da final diante do Boca Juniors.

O que justificava o título de capital informal alvinegra em São Paulo. É lá que está a sede do clube. É lá uma das maiores concentrações da torcida. São 42% deles na zona leste 1, onde fica o bairro, segundo o Datafolha.

Um percentual igual ao de todos os rivais. Mas eles não estavam nas ruas. Os bares foram dominados por gritos de "Vai, Corinthians" quando começou o jogo.

E, depois, veio um quase silêncio. Corpos inclinados, tensos, à frente, voltados ao telão do Bar da Rua São Jorge, onde se juntavam cerca de cem torcedores.

Os minutos passaram e o barulho voltou. "Aperta!" e "Sai, zica!" eram os gritos de quem tentava transpor os quilômetros de distância e incentivar o time. Nada dos cantos de arquibancadas.

Havia festejos a cada dividida. Havia elogios a Alessandro, "o poste", por rebater bicicleta de Santiago Silva.

O jogo se arrasta; o público continua inquieto. A morena deixou de roer as unhas para atacar as cutículas. Não achava posição às pernas, até parar em pose de alongamento, em cima da mesa do bar.

Explosão só quando Emerson trombou com um argentino e ameaçou ir para a briga. "Timão, e ô!". Sobrou ânimo para xingar Maradona.

O segundo tempo vira silêncio e corpos contraídos para trás quando Riquelme manda rente à trave.

O domínio do Boca levava um a coçar o queixo, o outro parou com punhos cerrados. A pouca mobilidade do time se refletia no Tatuapé.

O gol do Boca foi festejado por um rapaz com os braços, discreto. Foi repreendido pelo barman. Outro cantou "Boca", baixo, e o pai mandou cortar o uísque. "Ele vai apanhar", justificou.

No gol corintiano: quem apanhou foi o palco de pagode, com chutes e pulos.

Quando a noite e o jogo acabaram, a zona leste eram só buzinas e fogos. Era um mini-Ano-Novo.

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