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Antonio Prata Boi na linha Entre os cartazes publicitários do metrô há uma charge, produzida pela prefeitura: uma amazona e seu cavalo descem pela escada rolante de uma estação, obstruindo a passagem de uns 20 típicos cidadãos londrinos: um senhor de turbante, um punk, uma executiva, um rasta, um yuppie... Embaixo, o aviso: "Até 1 milhão de passageiros extras todo dia. A maioria dos trajetos por Londres será afetada. Prepare-se para mudar seus hábitos de transporte. Antecipe-se aos Jogos". Em bom português: "Queridão, vai zoar geral: não adianta bufar". O cartaz resume bem o clima pré-Jogos, algo entre a apreensão e o desespero -impossível saber o ponto exato, pois eles são ingleses, povo muito misterioso em sua introspectiva extroversão. Enquanto a contagem regressiva do relogião na Trafalgar Square vai se aproximando do zero, contudo, e muitos dos 8,8 milhões de ingressos disponíveis vão sendo vendidos, percebemos mais e mais nos olhos de alguns a pergunta "onde fui amarrar meu burro?!" -para continuarmos nas imagens equinas. Quando foram escolhidos para sediar os Jogos, em 2005, os ingleses sabiam bem onde iriam amarrar o burro, não sabiam era como: no meio da pior crise financeira desde 1929, um ano depois de protestos que levaram a saques e incêndios pela cidade, com os atentados à bomba no metrô ainda vívidos na memória. O que o cartaz da prefeitura nos mostra é que, apesar de saberem o tamanho da encrenca, os londrinos resolveram encará-la com aquela que é a segunda maior contribuição britânica à civilização, talvez empatada com a cerveja e abaixo apenas de Elizabeth Taylor em "Cleópatra": o humor. Uma das séries de maior sucesso por aqui é "Twenty Twelve", documentário fictício, exibido pela BBC, sobre a montagem dos Jogos -espécie de "The Office" olímpico. Até a chuva, que ameaça cair em muitas provas, tem sido motivo de piada -vide a "campanha" do "Times", em seus editoriais, "contra" o mau tempo. O "Guardian" abriu seu guia dos Jogos, publicado no último sábado, descrevendo a preparação da Olimpíada como o tipo de enrosco que "você prefere deixar que outra pessoa resolva". Não deixaram. Se a coisa vai funcionar ou não, só saberemos a partir de sexta. Até aqui, as únicas certezas são que humor e cerveja não faltarão -e que Elizabeth Taylor, infelizmente, não dará o ar de sua graça. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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