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Edgard Alves

Tempos de glória

A situação não é tão confortável, mas Cuba dá mostras de que não jogou a toalha nem vai jogar

Nos últimos 40 anos, a pequena ilha de Cuba foi a pedra no sapato dos países na busca por posições de destaque no quadro geral de medalhas dos Jogos Olímpicos. Chegou a ser considerada "potência olímpica" e incomodou rivais. Faltando dois dias para o encerramento dos Jogos de Londres, a situação não é tão confortável como nos bons tempos, mas o país ainda dá mostras de que não jogou a toalha nem vai jogar. Insiste na luta pelo pódio.

Apesar das 13 medalhas conquistadas em seis modalidades -atletismo, boxe, judô, tiro, peso e luta-, a marca é a menor desde Montréal-76, com o mesmo total. Três delas são de ouro, uma a mais do que há quatro anos em Pequim. No atletismo, destaque da Olimpíada, levou uma prata e um bronze e fez seis finais. O boxe, antes orgulho da delegação (em Atenas levou cinco ouros, duas pratas e um bronze), agora contenta-se só com quatro.

Cuba está na Inglaterra com sua menor delegação desde os Jogos de 1964, no primeiro ciclo olímpico da revolução que levou Fidel Castro ao poder em 1959. Enviou apenas 27 atletas para competir em Tóquio. Agora são 110 contra, por exemplo, 229 em Sydney-2000, quando arrebatou 29 medalhas. Desta vez, influiu na redução da delegação o fato de o país não ter classificado equipe em nenhum esporte coletivo.

Em Pequim-2008, somou 24 pódios, enquanto no auge do sucesso olímpico, em Barcelona-1992, chegou ao quinto lugar no quadro de medalhas, com 31 (14 ouros, seis pratas e 11 bronzes). A ilha tem população de 11 milhões de pessoas, e a proporção medalha/habitante pode ser considerada alta. O prestígio do esporte alcançado por Cuba roda o mundo, onde cerca de cem países contam como consultores ou técnicos esportivos cubanos.

O que determinou a queda? A resposta mais cômoda e direta é a carência de recursos econômicos a partir dos anos 90 -quando o país perdeu benefícios que desfrutava devido ao respaldo da ex-União Soviética, que se desmembrou-, agravada pelo bloqueio econômico liderado pelos EUA, inimigo implacável do governo cubano. Isso pressionou a ilha a redefinir suas metas gerais num processo lento, buscando um sistema multipartidário e uma economia de livre mercado. Pelo menos existe a coincidência no tempo dos dois processos. A ameaça de um colapso, que repercutiu em todos os setores da sociedade, só foi abortada com ajudas financeiras da Venezuela, de créditos baratos oferecidos pela China e dos investimentos da Espanha no turismo na ilha.

Verbas do orçamento estatal bancam os programas esportivos, que recebem um tratamento especial do governo. Dado que o futuro do regime é ainda uma incógnita, o que esperar do país no Rio, em 2016? As duas incertezas caminham juntas.

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