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Na contramão de costumes, sauditas mantêm clube

DO ENVIADO A LONDRES

Pioneiras no esporte feminino na Arábia Saudita, as treinadoras Mayson Al Sowayigi, 38, e Aminah Al Nahdi, 39, estão na capital inglesa para assistir pela primeira vez a uma Olimpíada.

As duas conseguiram licença para deixar o país muçulmano após convite para trabalhar como voluntárias na Casa do Qatar, uma espécie de embaixada esportiva da nação do golfo Pérsico.

Praticamente isoladas na Arábia Saudita, elas contaram à Folha a luta para conseguir fazer esporte no país, onde as leis proíbem mulheres de dirigir, viajar ou estudar sem o aval de um homem.

"Foi a minha paixão pelo basquete que me levou a lançar esse desafio. Adorava ver o jogo pelo televisão e quis levar isso para minha vida", disse Aminah, que faz questão de usar as roupas femininas tradicionais sauditas mesmo no verão londrino.

Há 11 anos, ela e sua amiga decidiram abrir uma escolinha de basquete na cidade onde moram. Três anos depois, a dupla fundou o Jeddah Green. O clube improvisado funciona num terreno de propriedade de Aminah e reúne 30 mulheres com idade entre 14 e 27 anos.

Apesar de mais de uma década de trabalho das duas, o esporte feminino não avançou. O governo não permite que as meninas participem das aulas de educação física nas escolas públicas e também não concede licença para a criação de clubes com modalidades femininas.

"O governo não nos proíbe, mas só podemos jogar atrás dos muros do nosso clube", contou Mayson, que na quarta-feira assistiu à decisão das medalhas do vôlei de praia feminino, modalidade em que as mulheres disputam os jogos de biquíni.

Segundo a dupla de treinadoras, o esporte feminino na Arábia Saudita se limita a algumas escolas particulares. Além de basquete, as mulheres do Jeddah jogam tênis de mesa, xadrez e boliche.

Neste ano, o time organizou um campeonato de basquete, mas a repercussão não existiu. A competição reuniu dez clubes, mas foi ignorada pelos jornais do país. Até 2010, o torneio era noticiado, segundo as treinadoras.

"Não queremos desafiar o governo. Nossas vidas correm em paralelo. Mas sonhamos com o dia em que todas poderemos praticar o esporte de uma forma mais aberta", afirmou Aminah, que foi a primeira mulher a ganhar um certificado internacional de treinadora na Arábia Saudita. Ela conseguiu essa licença em 1999, ao fazer um curso numa academia no Egito.

O esporte feminino na Arábia Saudita é visto com temor pelos religiosos, que tentam manter as tradições conservadoras em detrimento dos anseios de uma população jovem e cada vez mais voltada para o mundo exterior.

Membro do Conselho de Autoridades Acadêmicas Religiosas, Abd Al Karim Al Khudair fez discurso recente repudiando mulheres no esporte por considerá-lo uma "escada para o Diabo" que conduz à corrupção moral.

"Espero que depois da participação de duas sauditas aqui, o esporte cresça. Espero que no Rio a nossa presença aumente. Acreditamos no futuro. A resposta virá dele", disse Mayson. (SÉRGIO RANGEL)

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