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Potência regional, Irã edita Jogos e os mistura com política

Redes de televisão só transmitem provas com atletas locais e cortam cenas que contrariam ideais do regime

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

Uma onda de euforia tomou conta do Irã depois que atletas locais conquistaram nos Jogos de Londres a maior safra de medalhas olímpicas de toda a história do país.

Até agora, a República Islâmica faturou quatro ouros, cinco pratas e um bronze. É mais do que a soma dos pódios de todo o restante do Oriente Médio reunido.

A Olimpíada londrina atiça o patriotismo à flor da pele dos iranianos e tem dominado conversas em comércios, transportes públicos e rodas de amigos. Os rostos dos heróis nacionais estão dia após dia estampados nas capas de jornais e de revistas.

Mas a performance esportiva não escapou de ser contaminada pela política num país onde um regime ideológico governa uma sociedade altamente polarizada.

Autoridades editam a transmissão das competições, controlam cada gesto dos atletas -proibidos de falar com jornalistas estrangeiros- e apresentam cada feito como glória à Revolução Islâmica de 1979, que originou o atual regime.

A mão onipresente do governo gerou situações embaraçosas. A emissora estatal Irib teve que interromper as imagens da entrega de medalha ao campeão da luta greco-romana na categoria até 60 kg, Omid Noroozi, depois que ele apertou a mão de uma representante do COI (Comitê Olímpico Internacional).

A lei iraniana veta qualquer contato físico em público entre homens e mulheres sem vínculos familiares.

Com um batalhão de repórteres em Londres, as redes de TV iranianas só transmitem eventos que tenham participação de atletas nacionais e com imagens em "delay".

Modalidades que deixam corpos à mostra, casos de vôlei de praia e natação, são quase sempre ignoradas.

Para contornar as restrições, milhões de iranianos assistem a canais esportivos internacionais por meio de antenas parabólicas, que estão sujeitas à apreensão e multa.

POPULAÇÃO SE DIVIDE

Simpatizantes do regime apoiam o cerco aos Jogos em nome da preservação moral. Eles acreditam que a logo da Olimpíada de 2012 é um símbolo sionista (pró-Israel) e endossam a proibição aos atletas iranianos de enfrentar competidores israelenses.

Para os apoiadores do governo, a recusa do Reino Unido em conceder um visto para que o presidente Mahmoud Ahmadinejad pudesse ir a Londres assistir aos Jogos prova que existe uma campanha contra o Irã.

"As medalhas são boas para o povo e para o governo", comemora o taxista Mohamad, 58, um dos apoiadores.

Para os críticos, as conquistas obtidas pelos medalhistas iranianos não devem nada às autoridades.

"Estou muito orgulhoso dos nossos atletas, que fazem bonito apesar do descaso do governo em relação ao esporte", diz o médico Reza, 33.

A Olimpíada também acirra o ressentimento de muitos iranianos em relação à imagem internacional do país.

"As políticas do governo nos deixaram isolados do mundo. E é por isso que muita gente assemelha os atletas iranianos aos dirigentes iranianos", lamenta Atiyeh, 23, que é funcionária de uma agência de turismo.

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