São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Na Penha, Romário já tem 1.500 gols

Para amigo, dono de time e "historiador", o atacante vascaíno marcou, só no campinho esburacado do Aliança, mais de 500

Jogador tenta hoje, pelo Estadual do Rio, diante do Botafogo, no Maracanã, alcançar o milésimo gol, segundo sua própria conta

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O campo é esburacado, só conta com alguma grama nas laterais, arquibancada não existe, e vestiário, nem pensar.
Apesar da precariedade, o campo do Aliança, da Vila da Penha, serviu de palco para o futebol de Romário há 30 anos.
Hoje, diante do Botafogo, pelo Estadual do Rio, no Maracanã, às 18h10, o vascaíno poderá marcar seu milésimo gol. Mas, para amigos de infância, o jogador de 41 anos já superou "a marca de 1.500 gols".
""Só aqui, ele já marcou uns 500 gols. Num só jogo, quando éramos adolescentes, ganhamos de 9 a 0, e o Patão [apelido de Romário no Aliança] fez todos", declarou o autônomo Luiz Pereira, 50, no ensolarado campo do subúrbio carioca.
Chamado de ""Cabecinha" pela estrela do Vasco, Pereira é uma espécie de historiador das peladas do bairro e dono do atual Roma-Rio -time do jogador no conjunto habitacional do Quitungo. A equipe joga semanalmente no campo do bairro e ""sempre quando pode" conta com a ajuda de Romário.
""Agora, com a sua volta ao Vasco, ele deu uma parada. Mas, na última vez em que ele entrou neste campo, há uns três meses, fez três golaços, e ganhamos cinco caixas de cerveja do time do pessoal do Bonde do Tigrão [grupo de funk]. O cara é rei. Fazer gol é com ele", afirmou Pereira, que escala o jogador ""sempre como titular" no time da Vila da Penha.
Até o vascaíno ficar famoso, o Roma-Rio tinha outro nome: Corizonte, uma extensão do Estrelinha, equipe que jogava com só cinco jogadores na linha e fundada pelo pai do jogador.
O autônomo afirma que o atacante não mudou muito desde a adolescência. ""Ele nunca gostou de correr, fazer exercício. O Patão sempre foi baixinho, bundudinho, ficava parado no campo. Mas, quando a bola chegava ao pé dele, o gol aparecia", contou Pereira, que já barrou muito amigo famoso de Romário na pelada.
""Só ele tem lugar garantido aqui. Este time é coisa séria. Não dá para chegar e sair jogando. Até o Edmundo já ficou de fora", acrescentou o autônomo.
Apesar de considerar o vascaíno ""o melhor jogador de todos os tempos", o dono do Roma-Rio garante que o atacante ""é um peladeiro nato".
""Ele gosta tanto daqui que uma vez estava de perna enfaixada e tirou toda a gaze para jogar com a galera. Na época, o Patão estava no PSV Eindhoven [da Holanda], e esta história deu muita polêmica por lá", falou Pereira, dando risadas. Outros quatro moradores do conjunto confirmaram o fato.
Mesmo o amigo sendo dono de uma recheada conta bancária, o porta-voz da Vila da Penha diz que o jogador é ""o mesmo dos tempos de dureza".
""O cara sempre foi calado, cheio de marra, mas muito justo. Ele sabe o que é pobreza. Morava numa casa simples, não tinha tênis, e a comida não sobrava. Por isso, não tem frescura e gosta dos amigos pobres. Depois da pelada, toma banho na minha casa e não tem problema. O cara é dez", disse Pereira, que mora até hoje no conjunto habitacional, famoso nos últimos anos pela violência.
Até o ano passado, a região era dominada por traficantes de drogas. Há alguns meses, milicianos (grupo formado de forma ilegal por policiais e bombeiros) controlam a região.


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