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Na Penha, Romário já tem 1.500 gols
Para amigo, dono de time e "historiador", o atacante vascaíno marcou, só no campinho esburacado do Aliança, mais de 500
Jogador tenta hoje, pelo Estadual do Rio, diante do Botafogo, no Maracanã, alcançar o milésimo gol, segundo sua própria conta
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O campo é esburacado, só
conta com alguma grama nas
laterais, arquibancada não
existe, e vestiário, nem pensar.
Apesar da precariedade, o
campo do Aliança, da Vila da
Penha, serviu de palco para o
futebol de Romário há 30 anos.
Hoje, diante do Botafogo, pelo Estadual do Rio, no Maracanã, às 18h10, o vascaíno poderá
marcar seu milésimo gol. Mas,
para amigos de infância, o jogador de 41 anos já superou "a
marca de 1.500 gols".
""Só aqui, ele já marcou uns
500 gols. Num só jogo, quando
éramos adolescentes, ganhamos de 9 a 0, e o Patão [apelido
de Romário no Aliança] fez todos", declarou o autônomo
Luiz Pereira, 50, no ensolarado
campo do subúrbio carioca.
Chamado de ""Cabecinha"
pela estrela do Vasco, Pereira é
uma espécie de historiador das
peladas do bairro e dono do
atual Roma-Rio -time do jogador no conjunto habitacional
do Quitungo. A equipe joga semanalmente no campo do bairro e ""sempre quando pode"
conta com a ajuda de Romário.
""Agora, com a sua volta ao
Vasco, ele deu uma parada.
Mas, na última vez em que ele
entrou neste campo, há uns
três meses, fez três golaços, e
ganhamos cinco caixas de cerveja do time do pessoal do Bonde do Tigrão [grupo de funk]. O
cara é rei. Fazer gol é com ele",
afirmou Pereira, que escala o
jogador ""sempre como titular"
no time da Vila da Penha.
Até o vascaíno ficar famoso, o
Roma-Rio tinha outro nome:
Corizonte, uma extensão do
Estrelinha, equipe que jogava
com só cinco jogadores na linha
e fundada pelo pai do jogador.
O autônomo afirma que o
atacante não mudou muito
desde a adolescência. ""Ele nunca gostou de correr, fazer exercício. O Patão sempre foi baixinho, bundudinho, ficava parado no campo. Mas, quando a
bola chegava ao pé dele, o gol
aparecia", contou Pereira, que
já barrou muito amigo famoso
de Romário na pelada.
""Só ele tem lugar garantido
aqui. Este time é coisa séria.
Não dá para chegar e sair jogando. Até o Edmundo já ficou de
fora", acrescentou o autônomo.
Apesar de considerar o vascaíno ""o melhor jogador de todos os tempos", o dono do Roma-Rio garante que o atacante
""é um peladeiro nato".
""Ele gosta tanto daqui que
uma vez estava de perna enfaixada e tirou toda a gaze para jogar com a galera. Na época, o
Patão estava no PSV Eindhoven [da Holanda], e esta história deu muita polêmica por lá",
falou Pereira, dando risadas.
Outros quatro moradores do
conjunto confirmaram o fato.
Mesmo o amigo sendo dono
de uma recheada conta bancária, o porta-voz da Vila da Penha diz que o jogador é ""o mesmo dos tempos de dureza".
""O cara sempre foi calado,
cheio de marra, mas muito justo. Ele sabe o que é pobreza.
Morava numa casa simples,
não tinha tênis, e a comida não
sobrava. Por isso, não tem frescura e gosta dos amigos pobres.
Depois da pelada, toma banho
na minha casa e não tem problema. O cara é dez", disse Pereira, que mora até hoje no conjunto habitacional, famoso nos
últimos anos pela violência.
Até o ano passado, a região
era dominada por traficantes
de drogas. Há alguns meses,
milicianos (grupo formado de
forma ilegal por policiais e
bombeiros) controlam a região.
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