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XICO SÁ
A vingança dos Aflitos
Será mesmo que o Grêmio é mesmo à prova de azares? Até o meu corvo Edgar não deu resposta de lá do Sul
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, está provado: o Grêmio é
mesmo um time à prova de
agouros. Para completar, um urubu
pousou no ombro e na sorte dos zagueiros do Santos naquela fatídica
noite gelada do mês das noivas do
ano da graça de 2007.
E o pior: meu pobre e indefeso
corvo Edgar, despachado na contramão das correntes frias, até este momento não deu notícias da viagem.
Leonor, a patroa, Amélia-delivery
(não cozinha, mas sabe pedir bem
que é uma beleza!), está inconsolável. Mesmo Cândido, meu otimista e
proativo vira-lata, sente saudades,
embora com as suas reservas e diferenças filosóficas.
Antes do jogo, enfurecidos gremistas, eloqüentes e endiabrados
Peninhas, todos os gremistas são Peninhas na vida, davam conta do calvário do meu miserável bípede, vítima de ataque de quero-queros nos
arredores polares do sítio Azenha.
Espírito esportivo no último, Berna, outro imortal tricolor, tinha tanta convicção no seu time que até alimentou e deu bicadas de vinho à minha inseparável e maldita criatura
no seu restaurante no largo Visconde do Cairú, na invicta Porto Alegre.
Este vai ficar amigo para sempre.
Em campo, no entanto, parecia,
até os 30 e poucos, que Edgar estava
travestido de colorado ali por perto.
Mas que nada. Ficou apenas no "se",
o "se" mortal dos perdedores. Se entra aquela bola do Marcos Aurélio...
A muralha do Grêmio, como diz o
amigo chileno-gaúcho Mauro Dahmer, é também à prova de "se". O time é tão arrojado e ciente que somente por um desastre, aí está a graça da infâmia ludopédica, a muralha
se desmancha tijolo por tijolo como
numa tragédia clássica.
Se o juiz argentino tivesse visto
que o zagueiro do Santos também
estava sendo agarrado no lance do
pênalti... Até Jorge Luis Borges teria
enxergado aquele escândalo, mas...
Não tem desculpas mesmo, quem
sou eu, com meus quase dez graus de
miopia e astigmatismo, para fazer o
novo ensaio da cegueira.
Luxemburgo não sabe jogar mata-matas, noves fora um São Caetano
da vida, aqui é pura provocação mesmo para ver se o time acorda, ele joga com uma tática que fica entre o
desleixo e a soberba. Ora, jogar um
mata-mata e cometer apenas três
faltas, caso do Santos na noite fatídica, não é para quem tem sangue nas
veias, não é para quem tem ganas de
vivir la bida, como o árbitro de Buenos Aires cantaria um clássico do
gremista Wander Wildner, que me
comentou o jogo por mensagens
eletrônicas, grande alma!
Luxa, ainda em trajes de técnico
do Real Madrid, simplesmente viu o
Grêmio desfilar na passarela do
Olímpico a coleção de moletons Tóquio 2007. Sem falar nos passes curtos que ignoravam uma das armas
do tricolor gaúcho, a grama na altura
da medalhinha do pescoço. Até Zulmira, aquela cabra que pasta solitária no campo do São Cristóvão, sabe
que a bola não rola com totozinhos,
gracinhas e calcanhares no capinzal
do Olímpico.
A Libertadores já é do Grêmio, palavra de secador nato, eu aposto.
Mas a minha preocupação é outra:
quero apenas o meu corvo de volta,
qual Fênix, para o último tira-teima.
Será mesmo que o Grêmio é mesmo
à prova de azares ou a Batalha dos
Aflitos ao contrário se aproxima?
xico.folha@uol.com.br
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