São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

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XICO SÁ

A vingança dos Aflitos

Será mesmo que o Grêmio é mesmo à prova de azares? Até o meu corvo Edgar não deu resposta de lá do Sul

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, está provado: o Grêmio é mesmo um time à prova de agouros. Para completar, um urubu pousou no ombro e na sorte dos zagueiros do Santos naquela fatídica noite gelada do mês das noivas do ano da graça de 2007.
E o pior: meu pobre e indefeso corvo Edgar, despachado na contramão das correntes frias, até este momento não deu notícias da viagem. Leonor, a patroa, Amélia-delivery (não cozinha, mas sabe pedir bem que é uma beleza!), está inconsolável. Mesmo Cândido, meu otimista e proativo vira-lata, sente saudades, embora com as suas reservas e diferenças filosóficas. Antes do jogo, enfurecidos gremistas, eloqüentes e endiabrados Peninhas, todos os gremistas são Peninhas na vida, davam conta do calvário do meu miserável bípede, vítima de ataque de quero-queros nos arredores polares do sítio Azenha.
Espírito esportivo no último, Berna, outro imortal tricolor, tinha tanta convicção no seu time que até alimentou e deu bicadas de vinho à minha inseparável e maldita criatura no seu restaurante no largo Visconde do Cairú, na invicta Porto Alegre. Este vai ficar amigo para sempre. Em campo, no entanto, parecia, até os 30 e poucos, que Edgar estava travestido de colorado ali por perto. Mas que nada. Ficou apenas no "se", o "se" mortal dos perdedores. Se entra aquela bola do Marcos Aurélio... A muralha do Grêmio, como diz o amigo chileno-gaúcho Mauro Dahmer, é também à prova de "se". O time é tão arrojado e ciente que somente por um desastre, aí está a graça da infâmia ludopédica, a muralha se desmancha tijolo por tijolo como numa tragédia clássica.
Se o juiz argentino tivesse visto que o zagueiro do Santos também estava sendo agarrado no lance do pênalti... Até Jorge Luis Borges teria enxergado aquele escândalo, mas... Não tem desculpas mesmo, quem sou eu, com meus quase dez graus de miopia e astigmatismo, para fazer o novo ensaio da cegueira.
Luxemburgo não sabe jogar mata-matas, noves fora um São Caetano da vida, aqui é pura provocação mesmo para ver se o time acorda, ele joga com uma tática que fica entre o desleixo e a soberba. Ora, jogar um mata-mata e cometer apenas três faltas, caso do Santos na noite fatídica, não é para quem tem sangue nas veias, não é para quem tem ganas de vivir la bida, como o árbitro de Buenos Aires cantaria um clássico do gremista Wander Wildner, que me comentou o jogo por mensagens eletrônicas, grande alma!
Luxa, ainda em trajes de técnico do Real Madrid, simplesmente viu o Grêmio desfilar na passarela do Olímpico a coleção de moletons Tóquio 2007. Sem falar nos passes curtos que ignoravam uma das armas do tricolor gaúcho, a grama na altura da medalhinha do pescoço. Até Zulmira, aquela cabra que pasta solitária no campo do São Cristóvão, sabe que a bola não rola com totozinhos, gracinhas e calcanhares no capinzal do Olímpico.
A Libertadores já é do Grêmio, palavra de secador nato, eu aposto. Mas a minha preocupação é outra: quero apenas o meu corvo de volta, qual Fênix, para o último tira-teima. Será mesmo que o Grêmio é mesmo à prova de azares ou a Batalha dos Aflitos ao contrário se aproxima?

xico.folha@uol.com.br


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