São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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análise

O país de Ping, Pang e Pong e a abertura

LEANDRO KARNAL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1926, estreou a ópera Turandot, de Puccini. Na peça, três funcionários imperiais divertiam a platéia com o simples enunciado dos seus nomes: Ping, Pong e Pang. A China de então era uma república mítica para o mundo ocidental.
Quarenta anos depois, o governo de Mao Tsé-tung liderou a Revolução Cultural que mudou os rumos do gigante chinês. O movimento aprofundou o choque com a ex-aliada, a URSS. O governo de Pequim vinha se afastando há vários anos da influência de Moscou. Os norte-americanos, atolados no Vietnã, viam com simpatia a divisão do bloco comunista.
"O inimigo do meu inimigo é meu amigo." A máxima do realismo político lançava as bases da aproximação EUA-China comunista.
O campo do encontro lembrava os ministros da ópera de Puccini. No Japão, o Mundial de pingue-pongue ocorria na primavera de 1971. Um atleta norte-americano e um chinês, Glenn Cowan e Chuang Tse-tung, iniciaram um diálogo amistoso. O gelo tinha sido quebrado. A foto deles sorrindo era um pretexto muito aguardado.
Pouco tempo depois, o time dos EUA de pingue-pongue seria o primeiro grupo oficial a entrar na China desde a revolução de 1949. Estava estabelecida a "diplomacia pingue-pongue". Esportes sempre tiveram conotações políticas. Os boicotes dos EUA à Olimpíada de Moscou-1980 e da URSS a Los Angeles-1984 são a ponta de uma longa cadeia de relações entre interesses geopolíticos e eventos atléticos.
Poucas vezes, porém, uma atividade física foi tão fundamental para estabelecer um movimento político como o pingue-pongue.
Em 1972, o presidente Nixon visitou a China de Mao, escoltado por Henry Kissinger. Nixon renunciou dois anos após a histórica visita, e Mao morreu em 1976.
Porém as relações sino-americanas estavam bem sólidas quando Den Xiaoping iniciou a revolução econômica que levou a China à situação de potência mundial. As relações entre Washington e Pequim só cresceram desde então. Quem poderia supor que uma raquetada de pingue-pongue mudaria toda a economia mundial do século seguinte? Seria este o sonho do Barão de Coubertin? Meus sobrinhos, Camila e Guilherme Karnal, campeã e vice-campeão gaúchos nas suas categorias de tênis de mesa, não pensam muito na diplomacia do pingue-pongue. Eles pensam nos Jogos de Londres-2012.


LEANDRO KARNAL é professor da História da Unicamp


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