São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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JUCA KFOURI

Quatro anos pífios

Jamais este país teve no poder um presidente que gostasse tanto de esportes. E para que serviu? Para nada

HOJE É dia de votar para presidente. Coisa que, nós, brasileiros, não pudemos fazer por quase 40 anos. Dia, ainda, de fazer um balanço, de olhar para trás e perguntar: "O país está melhor hoje do que estava quatro anos atrás"? No esporte, infelizmente, não. Está, no mínimo, igual, com um agravante: está, também, bastante frustrado.
Pelo menos estão frustrados os que acreditaram na possibilidade de ver Lula fazer o que prometeu na área, ele que é torcedor militante de futebol e que tem vivo interesse por outros esportes.
Como tanto gosta de dizer o presidente, nunca este país teve um comandante tão interessado pelo tema. Para quê?
Para muito pouco, quase para nada, fora alguns retrocessos. E olhe que começou bem, com a assinatura do Estatuto do Torcedor e da chamada Lei de Moralização do Esporte. Mas o próprio governo tratou de sabotar o que assinou, talvez por ser fruto da gestão anterior, filho que não tinha como enjeitar, mas não querido.
Se, então, a Casa Civil foi forte o suficiente para enfrentar uma ameaça de paralisação do Campeonato Brasileiro em protesto contra a assinatura dos dois textos legais, hoje sabe-se que o próprio ministro do Esporte tentou sabotar o que seria assinado, ao fazer coro com os cartolas. Coisa que, aliás, esta Folha denunciou à época e este colunista não viu, ao acreditar na palavra de Agnelo Queiroz.
Palavra desmoralizada tempos depois por sua assinatura num papel que ele jurara não ter assinado e que propunha retirar artigos essenciais da nova legislação. Se, à época, prevaleceu a posição poderosa de José Dirceu, depois, no episódio da Timemania, ele já não teve força para impedir o retrocesso que premiou a incompetência, os devedores e, em boa parte, a corrupção pura e simples -que Lula fez questão de inocentar num discurso cuja emenda conseguiu ser pior que o soneto.
Não é por acaso que os pelegos do esporte, os que há anos querem dinheiro do Estado para continuar em suas sinecuras, não param de fazer juras de amor ao presidente. Alguns até capazes de, ao mesmo tempo, fazer discursos modernizantes e moralizadores, mas somente da boca para fora, porque o que interessa mesmo é a boca, a boquinha.
Já o torcedor segue maltratado, e a população, sem acesso à prática esportiva. Mais: vítima de programas recauchutados de gestões passadas com novos nomes e números inchados. Como o tal Segundo Tempo, que diz beneficiar 1 milhão de crianças (o que seria pouco, mesmo se verdadeiro) e que, de fato, vira e mexe é alvo de relatórios demolidores do Tribunal de Contas de União.
Com a mesma sem-cerimônia com que beijou a mão de Jader Barbalho, Lula amancebou-se com a CBF e nem seria preciso dizer mais nada. Ou seria?
Pois, se seria, será.
Por inútil que seja neste país anestesiado há mais de 500 anos, vítima de uma elite predadora - e de populistas hoje enredados com sindicaleiros da pior espécie, além dos ex-guerrilheiros que confundiram o que aprenderam nos manuais de sobrevivência na selva com o salve-se quem puder para manter-se no poder.
Hoje é dia de eleger o presidente. Brasileiros valorosos, alguns muito jovens, outros maduros, morreram por isso.
Se o panorama é sombrio, mais motivos há para lutar do que para descansar. Mesmo uma democracia capenga e vulnerável como a nossa é menos pior que qualquer outro regime. Desesperar jamais! Às urnas, pois. Joguemos o jogo.


blogdojuca@uol.com.br

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