São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2010

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UM MUNDO QUE TORCE

Fim de festa

Destroçados com a queda da Azzurra , italianos já pensam na Olimpíada para esquecer a Copa

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

São 16h em Roma, calor de 32C. Na Villa Borghese, os bares estão abertos, a quadra de futebol, à disposição. Os estandes esperam o público. Mas não há um só visitante.
Então ele chega. Toalha enrolada sob o braço direito, mochila, fones de ouvido. Escolhe um lugar. Estende a toalha. Pega um livro, "Crime Lords". E fica ali, aproveitando o verão, o sossego, a tranquilidade. A solidão.
"Eu sabia que aqui seria um lugar calmo", diz Peter Ryan. Não, nem italiano ele é. É irlandês, mora em Roma, estuda artes. E está deitado a poucos metros do telão da Fifa Fan Fest. Um lugar que uma semana antes, no mesmo horário, fervia.
Na quinta anterior, no mesmo horário, começava Itália x Eslováquia, pela última rodada do Grupo F. Vitória dos eslovacos, eliminação dos campeões do mundo.
Um choque que os italianos ainda não assimilaram. Ou que encaram à sua maneira, tentando esquecer que existe uma Copa em curso.
Roma é a 20ª escala da série "Um Mundo Que Torce".
Nas ruas da capital italiana, apenas turistas envergam camisas de seleções.
"O pessoal de fora compra. Os italianos não querem ouvir falar de futebol", conta Simon Hasan, de Bangladesh, camelô às portas do Vaticano, que vende camisas falsificadas a € 6. "Eles estão destroçados. Mas dá para entender. Nós, espanhóis, também ficamos assim nas derrotas", diz José Franco, de Murcia, passeando por ali.
Nas lojas, os preços das camisas oficiais deve dizer algum coisa. As do Brasil, Espanha, Argentina, Holanda e Alemanha, seleções ainda no torneio, custam 70.
A da Itália sai por 45.
Mais: as vitrines tentam tocar a bola para a frente. O foco já é a Olimpíada de 2012.
"Desilusão... Não esperávamos muito, é verdade, mas alguma coisa melhor teria de vir. Agora, só vamos voltar a falar de futebol quando começar o Campeonato Italiano", fala Fulvio Fabiani, 56, condutor de charretes.
Quarenta anos mais novo, Giovanni Marini ataca o ex- -técnico da Azzurra, Marcello Lippi: "Ele errou na convocação, errou nos momentos em que mexeu no time. Não parecia que a Itália estava jogando a Copa do Mundo".
Na Fan Fest, os concessionários das barraquinhas não querem falar sobre prejuízo. "Este calor todo... E não vem ninguém passear, jogar bola", desabafa um vendedor de raspadinhas. Para hoje, esperam lucrar um pouco com torcedores brasileiros.
Mas, apesar da tentativa de deixar a Copa de lado, vira e mexe o fantasma aparece. Ontem, a TV mostrava a entrevista coletiva de Cesare Prandelli, sucessor de Lippi.
Melancólico, e irônico, é o que ocorre nas bancas de jornais pela cidade. As prateleiras ainda expõem as edições de junho das revistas italianas. A edição local da "Men's Health" traz na capa a foto de um sorridente Fabio Cannavaro, capitão do time.
O título, em grandes letras vermelhas e brancas: "Os segredos dos campeões".


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