São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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FUTEBOL

O destino dos técnicos

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O técnico Murtosa, que deve estar perdendo o emprego depois da goleada sofrida ontem pelo Palmeiras, é um homem de pouca sorte.
Os quatro melhores jogadores do elenco alviverde -Arce, Zinho, Lopes e Pedrinho- estão fora, por conta de contusões. Na partida de ontem, contra o Paraná, o meio de campo palmeirense era composto por Paulo Assunção, Alceu e Juliano. Dificilmente um time com essa formação poderia chegar muito longe.
Mas um placar retumbante como o de ontem, apenas uma semana depois de outra goleada (4 a 0 para o Atlético-MG), faz com que a torcida exija um bode expiatório, e o candidato mais cotado é sempre o técnico. Ou quase sempre. No sábado, o Corinthians tomou de três do Atlético-PR, em casa, e a torcida não pediu a cabeça do treinador, e sim do goleiro -que, aliás, não merecia.
É que Parreira, tendo levado o time aos títulos mais importantes do primeiro semestre, tem ainda um crédito junto à Fiel. Até quando, não se sabe.

A vitória do Atlético-PR não mostrou apenas as limitações do atual Corinthians (já sem Ricardinho no meio-campo e ainda sem Guilherme no ataque), mas principalmente a força do Furacão paranaense. No Pacaembu, o Atlético-PR mostrou as qualidades básicas que fizeram dele o campeão brasileiro de 2001: marcação firme e rapidez na passagem da defesa para o ataque.
Com as trocas de passes e de posições entre os meias Kleberson e Adriano e os atacantes Alex Mineiro e Kléber -todos técnicos e inteligentes-, a equipe multiplica indefinidamente as possibilidades de jogadas ofensivas. A esse quarteto infernal somam-se eventualmente os ótimos laterais Alessandro e Fabiano (autor de um lindo gol no sábado).
Compare esse grupo -que joga junto há mais de um ano- com o combalido elenco que Murtosa tem nas mãos e você chegará à conclusão de que a sorte trata os treinadores de modo desigual.

Na estréia de Ricardinho no São Paulo, ontem no Morumbi, o Grêmio começou a partida dando a impressão de que havia retomado o seu melhor futebol, bem no estilo Tite: marcação por pressão no campo do adversário, deixando-lhe pouco espaço para a troca de passes e a criação ofensiva.
Bastaram, porém, duas bobeadas da defesa, aproveitadas muito bem pelo São Paulo (ambas com Reinaldo pela esquerda), para que a fortaleza gremista ruísse por completo.
Com dois gols de vantagem no placar, o São Paulo ainda criou outras oportunidades no primeiro tempo e depois se acomodou. A segunda etapa foi monótona, pois o Grêmio, mesmo precisando de gols, não conseguiu ameaçar a meta são-paulina, e o São Paulo, por sua vez, mostrou-se satisfeito com o 2 a 0.
A torcida merecia mais, mas a equipe de Oswaldo de Oliveira provou que é tão poderosa que basta jogar seu máximo por alguns poucos minutos para definir uma partida.
Ricardinho, marcado de perto por Tinga, teve pouco espaço para jogar. Mas deixou claro que, com um pouco mais de entrosamento, vai fazer a festa de Kaká, Reinaldo e Luís Fabiano. Só vai sentir falta de Kléber para fazer as lindas tabelas pelo flanco esquerdo. Nem tudo é perfeito.

Volta à Espanha
Ronaldo, finalmente, foi para o Real Madrid, que agora conta em seu elenco com três craques eleitos em anos recentes os melhores do mundo -Zidane, Figo e Ronaldo-, além de dois segundos colocados (Roberto Carlos e Raúl). A transferência arranhou a imagem de bom moço de Ronaldo, mas seu futebol, pelo menos teoricamente, tende a brilhar mais na Espanha do que na Itália, onde as defesas são mais duras e os espaços, menores.

Dois craques
O outro Ronaldinho, o gaúcho, foi agraciado ontem neste espaço com uma bela nota de Tostão, que reconheceu ter se enganado quando disse que o gol do rapaz contra a Inglaterra tinha sido um lance de sorte. Só alguém com a grandeza e a sensibilidade de Tostão é capaz de reconhecer francamente um erro de avaliação tanto tempo depois.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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