São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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São Caetano alega que não foi alertado sobre Serginho

Médico do clube quebra silêncio, diz que mantinha relação de pai e filho com o zagueiro, afirma que desconhecia perigo da doença e nega alerta do Incor

KLEBER TOMAZ
PAULO COBOS

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de quatro dias de silêncio, o médico do São Caetano, Paulo Forte, reapareceu para dizer que o zagueiro Serginho estava bem de saúde. Ele também negou que tenha recebido do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP) qualquer tipo de conselho para afastar o atleta dos gramados.
Abatido e com os olhos marejados, ele fez ontem um rápido pronunciamento (sem direito de perguntas dos jornalistas) no estádio Anacleto Campanella sobre a morte do zagueiro de 30 anos, com quem tinha, segundo ele, uma "relação de pai e filho".
"Fizemos uma avaliação de praxe em fevereiro. O teste ergométrico do Serginho apresentou uma arritmia leve, discreta. Então o Incor pediu para fazer novos exames em junho [uma ressonância e um cateterismo], mas não houve conclusão que o Sérgio devesse parar de jogar futebol", disse Forte, também negando qualquer aviso dos médicos do Incor no sentido de que a continuação da carreira do jogador representaria um risco para a sua vida.
"O São Caetano não recebeu do Incor nenhum documento que impedia Serginho de jogar. Não havia laudo nenhum sobre isso", disse o médico do time do ABC, que antes de fazer seu pronunciamento ficou reunido por quase uma hora com cartolas e jogadores do clube.
Primeiro, em uma nota, o Incor manteve a postura de não comentar o caso em público.
O hospital diz que não pode, sem autorização dos envolvidos ou de autoridades, "divulgar quaisquer informações ou documentos de pacientes, inclusive laudos médicos". Mas, no final da tarde, convocou uma entrevista coletiva para dizer que passou sim a Serginho e Forte os resultados dos exames.
A Folha apurou que tanto Serginho quanto Forte foram notificados sobre a gravidade do caso. Mas o jogador disse aos médicos do Incor que nem o risco de morte o faria encerrar a carreira.

"Fatalidade"
O médico do São Caetano apontou outros motivos para Serginho estar jogando normalmente.
"O Serginho estava bem, não se queixava de nada. Foi uma fatalidade o que aconteceu."
Para Forte, o tamanho do coração do jogador, muito maior do o normal, era comum. "Todo atleta, por sua atividade física, tem um coração maior".
Forte, que diz ter recebido elogios por sua conduta no caso dos familiares de Serginho, falou que seria incapaz de colocar em risco a vida de um jogador.
"Eu entro no clube às 7h da manhã e só o deixo às 7h da noite. Penso na saúde dos jogadores em primeiro lugar", afirmo Forte, que prometeu voltar a falar com a imprensa brevemente.
Enquanto isso, a Polícia Civil -que investiga se houve negligência no atendimento ou imprudência na escalação do zagueiro- afirmou ontem que não irá mais se pronunciar sobre o caso até o fim do inquérito.
"Já falei para todos os órgãos de imprensa e vou falar para vocês [da Folha] também: não dou entrevistas até o final do inquérito, daqui a 30 dias", disse o delegado Guaracy Moreira Filho, titular do 34º Distrito Policial, responsável pelas investigações.
"Semana que vem, possivelmente, começarei a ouvir os depoimentos", concluiu Moreira Filho, que expediu mais de 20 intimações. Dentre os convocados, estão o presidente do São Caetano, Nairo de Souza, e Forte. Vários jogadores, como o goleiro Silvio Luiz, também irão prestar depoimento nos próximos dias.
Além da polícia, também o Conselho Regional de Medicina investiga o caso envolvendo o atleta do time do ABC.


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