São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

onipresente

Dunga será o treinador na Olimpíada

Técnico deixa claro que pretende contar com a presença de Romário na comissão da seleção nos Jogos de Pequim-08

Encontro com presidente da CBF definirá se medalhões, como Kaká e Ronaldinho, serão ou não convocados para reforçar time sub-23

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O técnico Dunga ganhou um ""presente" anteontem, ao completar 44 anos. Ele foi convidado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para comandar o time na Olimpíada de Pequim, em agosto. E aceitou.
Em entrevista à Folha, por telefone, o treinador deu detalhes do planejamento da equipe que vai tentar a conquista do inédito ouro olímpico na China. Medalha de prata em Los Angeles-84, Dunga deixou claro que quer contar com a ajuda de Romário no Oriente. O atacante de 41 anos trabalharia na comissão técnica nos Jogos.
O capitão da equipe nacional na conquista do tetra adiantou que não convocará todos os medalhões, como Ronaldinho, Kaká e Robinho, para a disputa do torneio, que só permitirá três atletas acima dos 23 anos.
Apesar da vontade de Dunga de contar com os jogadores mais experientes, Teixeira ainda não deu o aval ao treinador para chamá-los. Na próxima semana, os dois vão se reunir para decidir sobre a convocação dos atletas, astros do esporte. O dirigente teme uma forte oposição dos clubes europeus, que poderia atrapalhar a seleção principal nas eliminatórias.
Apesar de admitir que não ganhará um aumento salarial, Dunga não teme terminar como Vanderlei Luxemburgo, último treinador que acumulou as duas funções na seleção.
Após o fracasso em Sydney-2000, quando o Brasil terminou em sétimo lugar, ele foi demitido. O fiasco colaborou para que a CBF enfrentasse duas CPIs em Brasília.

 

FOLHA - Depois de aceitar o convite de trabalhar em Pequim, a medalha de ouro é o objetivo?
DUNGA -
Sim. Sempre quando a seleção entra numa competição é para buscar o título. Dessa vez, não será diferente. Na seleção, qualquer título me serve. Quero participar sempre. A seleção é algo indescritível e tem que estar acima de tudo.

FOLHA - Você ficou surpreso com o convite?
DUNGA -
Desde que assumi a seleção, pedi ao presidente para tomar algumas decisões. Que, talvez, seria melhor ficar calmo, mas tinha que trabalhar para a seleção. Desde então, fui chamando os jogadores com idade olímpica. Integrando os atletas mais novos ao grupo. Já levei o Marcelo, o Gladstone, o Alex, o Carlinhos, o Lucas, o Denílson, o Rafael Sóbis, o Jô. Chamei vários novatos para viver esse ambiente da seleção, conviver com a pressão de lá.

FOLHA - A partir de agora, você terá a pressão de escolher apenas três jogadores acima de 23 anos. Levará Ronaldinho, Kaká e Robinho para Pequim?
DUNGA -
As minhas decisões serão para a seleção. Não é para agradar. Vai depender do que a seleção necessitar naquele momento. Se tiver um grande goleiro no momento, será o goleiro. Se precisar de um zagueiro mais experiente, será o zagueiro. Não vou levar os três maiores nomes para agradar a todo mundo. Quem tem que ficar contente é a seleção.

FOLHA - Na Suíça, o Romário disse que pensa em ajudar a seleção. Vocês dividiam o quarto na seleção quando jogadores [inclusive na Copa de 94] e são muito amigos. Pensa em aproveitá-lo na China?
DUNGA -
Ele está jogando ainda [risos]. Temos que esperar as coisas acontecerem com naturalidade. O Romário está presente na seleção sempre. Nós somos amigos e queremos sempre ganhar. Depende de ele decidir. Ele sempre esteve disposto a ajudar.

FOLHA - Então, nada impede?
DUNGA -
Não. Não tem nada que o impeça.

FOLHA - Então, o Romário vai estar com você na China?
DUNGA -
Ele tem é que decidir o que vai fazer. Mas disse para ele que vou colocar um despertador na cabeça dele. Falei isso de brincadeira. Com o Baixinho, não tem problema.

FOLHA - Para você, quem foi o melhor jogador, Pelé ou Romário?
DUNGA -
Só vi o Pelé por vídeo. Nunca o vi jogar. No futebol, temos que parar de ficar nessa de quem é o melhor. Tem isso na música? Os caras são mitos. Os dois fizeram mil gols. Então, são mitos. Não tem que dizer quem é o melhor.

FOLHA - Nos últimos jogos da seleção, você se mostrava tenso e discutiu algumas vezes com os jornalistas. Tem dificuldade de conviver com as críticas?
DUNGA -
Não. Não estava chateado, mas tenho uma forma de responder mais dura, que é da minha característica do Sul. Gosto de não deixar ninguém sem resposta. Além disso, como gosto da democracia, quando não concordo, dou minha opinião. Não fico calado. Uma vez, um cara me perguntou: "Vou fazer uma pergunta banal, que todos fazem, mas não quero uma resposta simples...". Então, falei: "Quando você fizer uma pergunta inteligente, vou dar uma resposta inteligente". E o cara ficou bravo comigo. Podia até não responder, mas é minha caraterística, é mais forte do que eu.

FOLHA - Você teme que um insucesso nos Jogos Olímpicos possa atrapalhar o seu futuro na seleção, como aconteceu com o Vanderlei Luxemburgo, em 2000?
DUNGA -
Seleção não tem jeito. Se não tiver [pressão] de um lado, você tem de outro. Tenho que confiar no meu trabalho. A vida sempre nos leva a acertos e erros. Você tem que arriscar na vida. Seria mais fácil ficar na [seleção] principal, mas estou aqui feliz da vida.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: CBF esvazia a CPI do Corinthians
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.