São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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FUTEBOL

Olho no olho

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Na derrota do Brasil para a Bolívia, em La Paz, pelas eliminatórias, Scolari lamentou que os grandalhões brasileiros perderam quase todas as jogadas pelo alto, para os "anõezinhos" bolivianos. Dessa vez, não vieram os anõezinhos maiores, nem os melhores. O Brasil deu um baile pelo alto no jovem time boliviano. Dos seis gols, cinco foram por meio de jogadas aéreas; quatro de bolas paradas. Essa é uma qualidade de todas as equipes dirigidas pelo técnico brasileiro.
Gilberto Silva e Kléberson foram os destaques. Em épocas recentes, os dois, que têm bastante técnica, dificilmente jogariam na posição de volante. A preferência era pelos brucutus.
Para o próximo jogo, Djalminha será a novidade. Sua convocação mostra que Felipão busca mais um armador ofensivo. Kaká é muito jovem. Juninho não atuou bem contra a Bolívia, e o técnico não gosta muito de baixinhos. Apesar das facilidades, Luizão e Edílson, os únicos titulares, foram os que menos se destacaram contra a Bolívia.
Sem um excepcional atacante em forma, como Romário ou Ronaldo, as chances do Brasil são mínimas no Mundial. Se o o time brasileiro não tivesse o Ronaldo na Copa de 98, na França, não chegaria à final.
Por isso, Scolari deveria ter uma conversa franca, transparente, olho no olho com Romário. O jogador assumiria o compromisso de se preparar com todo o entusiasmo para o Mundial, e o treinador de chamá-lo na última convocação, se Romário estivesse mesmo bem.
Melhor do que ter Ronaldo e Romário pela metade é ter um dos dois inteiro.

Três nebulosas esperanças
Na conquista da Copa América em 1999, período em que a seleção era dirigida pelo Wanderley Luxemburgo, havia três novas e grandes esperanças: Vampeta, Alex e Ronaldinho.
Vampeta era o único excelente volante; Alex e Ronaldinho começavam a ser titulares. Além dos três, a seleção tinha Ronaldo, Roberto Carlos e Rivaldo. Romário estava fora e poucos acreditavam em sua presença no Mundial.
Naquele momento, imaginei que Vampeta, Alex e Ronaldinho estariam hoje muito melhores. Com os três e outros já consagrados jogadores, o Brasil formaria uma seleção excepcional e seria o principal favorito ao Mundial.
Hoje, a situação é bem diferente. Vampeta, Alex e Ronaldinho caíram muito de produção; Ronaldo ainda não se recuperou; Rivaldo e Roberto Carlos só brilham intensamente em seus clubes na Espanha, e Felipão não se entende com Romário.
Vampeta se destacava pela técnica, movimentação, capacidade de defender e atacar e pelo excepcional preparo físico. Era o volante que faltava ao futebol brasileiro. Ninguém aguentava mais os brucutus.
Depois de receber muitos elogios, Vampeta achou que era um craque, um novo Gérson, melhor do que era. Só queria driblar e dar passes impossíveis.
Errava muito mais do que acertava. Perdeu também sua excepcional condição física. Nos últimos dois anos, só jogou bem contra a Argentina, pelas eliminatórias. Teve péssimas passagens pela Itália, França e Flamengo.
Alex, outra esperança, tinha momentos excepcionais. Esperava que sua irregularidade fosse passageira. Ele dava a impressão de que em pouco tempo seria o melhor jogador do Brasil. Não foi. Por causa de sua pouca mobilidade joga numa faixa estreita do campo e é facilmente marcado. Ficou muito tempo sem jogar e perdeu a boa forma.
Como Alex, Ronaldinho parecia que seria o grande craque brasileiro. Era comum a discussão sobre qual dos dois era o melhor. Alex era mais técnico, e Ronaldinho, mais criativo. Os dois brilharam no Pré-Olímpico. Um completava o outro.
Depois, os dois fracassaram na Olimpíada. Ronaldinho também ficou sem jogar por um longo tempo e sumiu. Somente agora, no PSG, dá sinais de recuperação. Fez uma belíssima partida nessa semana que passou.
Vampeta, Alex e Ronaldinho vivem hoje situações parecidas. Eles que eram as grandes esperanças correm grandes riscos de não ir ao Mundial. Pressinto que, pensando na Copa, os três vão brilhar nos próximos meses.
Ainda não perdi as esperanças de o Brasil formar uma grande equipe. Imagine se todos os principais jogadores estiverem em forma na Copa... Além deles, o técnico terá de dar uma "mãozinha", arrumando coletivamente o time. Aí, ninguém segura a seleção!

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