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FUTEBOL
A classe operária vai ao paraíso?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Dada a instabilidade atual
do Cruzeiro, o Santos é, a
meu ver, o melhor time do Brasil
no momento. Mas isso não significa que ele seja favorito para vencer hoje o São Caetano e chegar à
final paulista.
Primeiro, porque no futebol as
coisas não se passam de modo tão
simples. Nem sempre é a melhor
equipe que vence. Segundo, porque o São Caetano está longe de
ser um adversário fácil, como ficou comprovado no primeiro jogo
entre os dois, domingo passado.
O São Caetano, na verdade, é
quase um mistério. Embora não
tenha ganhado nenhum título
importante, é talvez o clube brasileiro que se manteve com mais regularidade nas primeiras colocações dos torneios dos últimos quatro anos. Pode conferir: dos quatro Brasileiros que disputou, o
Azulão foi vice duas vezes, ficou
uma vez em quarto e uma em
sexto. À parte isso, foi vice da Libertadores em 2002.
Que outro clube nacional teve
uma performance tão boa em tão
pouco tempo? Nunca é demais
lembrar que o São Caetano só
tem 14 anos de vida. O Santos, seu
adversário hoje, está fazendo 92.
Nos quase cinco anos que se
passaram desde que o Azulão ganhou visibilidade nacional, ao subir meteoricamente rumo à final
do Brasileirão de 2000, a equipe
mudou de elenco e de técnico várias vezes. Do time que chegou
àquela decisão, só restam hoje Silvio Luiz, Dininho e Serginho.
Mesmo assim, é possível detectar a permanência, se não de um
padrão de jogo, ao menos de um
espírito, ou melhor, de um caráter. Pois com qualquer treinador
(Jair Picerni, Mário Sérgio, Tite
ou Muricy) o São Caetano foi
sempre aguerrido e solidário, com
jogadores capazes de exercer várias funções em benefício do coletivo. Por isso, costuma-se dizer
que o Azulão é "time operário".
Talvez seja pela origem geográfica, o ABC paulista, berço da indústria metalúrgica e do moderno sindicalismo brasileiro. Talvez
seja o azul do uniforme, que lembra o dos macacões dos trabalhadores fabris.
O fato é que o São Caetano em
campo sempre dá a impressão de
solidez, potência e confiabilidade
de uma linha de produção.
Mas não uma produção automatizada e impessoal como a que
vemos em "Tempos Modernos",
de Chaplin, ou em "Metrópolis",
de Fritz Lang.
A produção do São Caetano
comporta a nostalgia do artesanato e da manufatura. Traz a
marca indelével do humano, da
sagrada transformação da matéria pelo trabalho. Nessa curta história sem grandes mitos ou heróis, adquire uma tonalidade de
parábola bíblica o episódio do lateral-esquerdo César (hoje na Europa), reabilitado pelo futebol no
São Caetano depois de ter cumprido pena de prisão por assalto.
O poder regenerador do trabalho e da ação coletiva. Hoje em
dia, quando a classe operária parece minguar, por conta do desemprego e do esvaziamento da
política, é essa bela idéia que o
São Caetano nos traz de volta.
Mesmo que, mais uma vez, seja
barrado na porta do paraíso.
Futebol zero
O jogo da seleção contra o Paraguai foi ruim porque o "trio de
ouro" (Kaká e os Ronaldos)
não se entrosou e porque os
três ficaram isolados do restante da equipe. Parece que Parreira somente sabe montar esquemas defensivos. As ações ofensivas ele deixa por conta do improviso dos craques. Gol (seja a
favor ou contra) parece ser uma
coisa à qual o técnico da seleção
brasileira tem horror.
Talento instável
Se conseguir domar o temperamento turbulento de Piá, Oswaldo Oliveira poderá montar
um meio-campo com um mínimo de qualidade e talento no
Corinthians, algo que não ocorre desde a saída de Ricardinho
-que hoje em dia esquenta o
banco do medíocre Middlesbrough, na Inglaterra.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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