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Por privacidade, dupla deixa praia e se tranca em CT
Pioneiras, Juliana e Larissa, representantes do Brasil no Pan do Rio, erguem um centro particular em Fortaleza
"Espiões" e olhares até na hora de tomar uma ducha levaram parceria a optar por estrutura própria, que tem piscina e sala de fisioterapia
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Juliana e Larissa se encontravam todos os dias na Volta
da Jurema, em Fortaleza. O
treino ganhava audiência. Alguns de olho nas táticas, outros
dispostos a ganhar um trocado
em uma improvisada bolsa de
apostas. Os olhares curiosos (e
outros maliciosos) acompanhavam a dupla até na hora de
tirar a areia do corpo.
Com o passar dos anos, a falta
de privacidade, já incômoda,
tornou-se inviável. Principalmente para novatas que se tornaram os maiores fenômenos
do vôlei de praia mundial.
Continuar a treinar na praia
poderia pôr abaixo o plano de
alcançar a medalha olímpica e
de criar uma nova hegemonia.
Para contornar o problema,
as atuais bicampeãs do Circuito
Mundial, que asseguraram ontem a vaga no Pan, mesmo perdendo para as chinesas Tian Jia
e Wang na semifinal da etapa
de Seul, buscaram solução pioneira. Com a ajuda da comissão
técnica, construíram um CT
em Fortaleza, o primeiro de
uma dupla feminina do país.
"Se quiséssemos levar a sério
nosso projeto, teríamos de sair
do oba-oba da praia e criar um
esquema profissional", diz o
técnico Reis Castro.
O centro de treinamento começou a ser construído em
2005, em terreno do preparador físico Oliveira Neto. As
atletas, apoiadas por um patrocinador, assumiram os custos.
"No começo, ficamos em dúvida. Mas, depois que fomos para lá [a quadra ficou pronta em
2006], vimos que a aposta foi
correta", declara Larissa.
O CT foi inaugurado apenas
em maio. Agora, conta com
uma piscina, vestiários, depósito, salas de fisioterapia, de vídeo e de entrevistas.
"A quadra tem areia de duna,
fofa, que nos faz trabalhar o
tempo todo no limite. Apesar
de ser menor, nosso CT é mais
bem equipado que a parte de
vôlei de praia de Saquarema
[centro da confederação brasileira, no Rio]", compara Castro.
O treinador reclama de que,
na Volta da Jurema, era sempre
acompanhado por "espiões". Se
treinava uma jogada, a dupla da
quadra ao lado logo tratava de
estudar como defendê-la.
O local é muito procurado
por equipes da região, que dividem as mesmas quadras.
Para Juliana, 23, e Larissa,
25, o pior problema era a balbúrdia. No fim da tarde, a praia
era ponto de encontro. E o treino delas, a atração principal.
"Nós jogávamos contra os
homens, então algumas pessoas organizavam uma bolsa de
apostas. Acho que muita gente
perdeu dinheiro por não acreditar em nós", brinca Juliana.
Privacidade para as jogadoras na hora de ir ao banheiro ou
de tomar uma ducha após o
treino também era artigo raro.
"Era chato. Você tomava banho
com todo mundo olhando", diz
a paulista Juliana. "Agora não
tem ninguém para nos incomodar mais. É como se estivéssemos mesmo em casa", completa a capixaba Larissa.
O CT foi inaugurado em maio
com um torneio amistoso, mas
continuará fechado para outras
duplas até 2008, após a Olimpíada de Pequim. Depois, pode
se tornar celeiro de talentos.
"Vamos conversar. Pensamos em um projeto social e em
pegar algumas garotas jovens,
para prepará-las para a Olimpíada de 2016", afirma Castro.
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