São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Por privacidade, dupla deixa praia e se tranca em CT

Pioneiras, Juliana e Larissa, representantes do Brasil no Pan do Rio, erguem um centro particular em Fortaleza

"Espiões" e olhares até na hora de tomar uma ducha levaram parceria a optar por estrutura própria, que tem piscina e sala de fisioterapia

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Juliana e Larissa se encontravam todos os dias na Volta da Jurema, em Fortaleza. O treino ganhava audiência. Alguns de olho nas táticas, outros dispostos a ganhar um trocado em uma improvisada bolsa de apostas. Os olhares curiosos (e outros maliciosos) acompanhavam a dupla até na hora de tirar a areia do corpo.
Com o passar dos anos, a falta de privacidade, já incômoda, tornou-se inviável. Principalmente para novatas que se tornaram os maiores fenômenos do vôlei de praia mundial.
Continuar a treinar na praia poderia pôr abaixo o plano de alcançar a medalha olímpica e de criar uma nova hegemonia.
Para contornar o problema, as atuais bicampeãs do Circuito Mundial, que asseguraram ontem a vaga no Pan, mesmo perdendo para as chinesas Tian Jia e Wang na semifinal da etapa de Seul, buscaram solução pioneira. Com a ajuda da comissão técnica, construíram um CT em Fortaleza, o primeiro de uma dupla feminina do país.
"Se quiséssemos levar a sério nosso projeto, teríamos de sair do oba-oba da praia e criar um esquema profissional", diz o técnico Reis Castro.
O centro de treinamento começou a ser construído em 2005, em terreno do preparador físico Oliveira Neto. As atletas, apoiadas por um patrocinador, assumiram os custos.
"No começo, ficamos em dúvida. Mas, depois que fomos para lá [a quadra ficou pronta em 2006], vimos que a aposta foi correta", declara Larissa.
O CT foi inaugurado apenas em maio. Agora, conta com uma piscina, vestiários, depósito, salas de fisioterapia, de vídeo e de entrevistas.
"A quadra tem areia de duna, fofa, que nos faz trabalhar o tempo todo no limite. Apesar de ser menor, nosso CT é mais bem equipado que a parte de vôlei de praia de Saquarema [centro da confederação brasileira, no Rio]", compara Castro.
O treinador reclama de que, na Volta da Jurema, era sempre acompanhado por "espiões". Se treinava uma jogada, a dupla da quadra ao lado logo tratava de estudar como defendê-la.
O local é muito procurado por equipes da região, que dividem as mesmas quadras.
Para Juliana, 23, e Larissa, 25, o pior problema era a balbúrdia. No fim da tarde, a praia era ponto de encontro. E o treino delas, a atração principal.
"Nós jogávamos contra os homens, então algumas pessoas organizavam uma bolsa de apostas. Acho que muita gente perdeu dinheiro por não acreditar em nós", brinca Juliana.
Privacidade para as jogadoras na hora de ir ao banheiro ou de tomar uma ducha após o treino também era artigo raro. "Era chato. Você tomava banho com todo mundo olhando", diz a paulista Juliana. "Agora não tem ninguém para nos incomodar mais. É como se estivéssemos mesmo em casa", completa a capixaba Larissa.
O CT foi inaugurado em maio com um torneio amistoso, mas continuará fechado para outras duplas até 2008, após a Olimpíada de Pequim. Depois, pode se tornar celeiro de talentos.
"Vamos conversar. Pensamos em um projeto social e em pegar algumas garotas jovens, para prepará-las para a Olimpíada de 2016", afirma Castro.


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