São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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XICO SÁ

Santos não é Brasil


Para nossa sorte, no Paraguai não estavam o Galvão Bueno e o bordão mais azarado do universo


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, pra começo de conversa, que fique mais patente do que nunca: o Santos não é o Brasil na Libertadores. A razão deste prólogo não é patriótica. É mística e você saberá logo adiante.
Triste de quem pensa que uma partida de futebol só começa quando o juiz apita. O início do jogo é na véspera, no meio de uma insônia, por exemplo.
Assim começou o meu Cerro x Santos. Sem sono, pensando nos amores perdidos e nos campeonatos possíveis, recorri a um Telecine. Para o meu assombro, por uma dessas coincidências que nos põe supersticiosos, acabara de começar "O Corvo", um filme do Roger Corman.
Vixe! Entra aquele pássaro falante, para espanto do mago em seu castelo, e me tremo. Premonição. O Peixe que se cuide lá nos chacos paraguaios. Não será fácil a peleja, como nada na vida.
Já havia sido difícil conter o meu estimado Edgar, da mesma família corvídea, aprendiz de portunhol selvagem na Escola Douglas Diegues, a não tomar a trilha mochileira de Asunción. Agora me vem, pelas mãos do Corman, algo bem pior.
Já viu esse filme? É a oitava maravilha da sétima arte. Na película, começava a partida do Peixe. O jogo, para quem torce ou para quem seca, é superstição pura. Até mesmo quem conta com um Neymar treme.
Mesmo depois do segundo gol, eu só via as caras do Vincent Price, do Peter Lorre e do Boris Karloff, atores da fita. Impossível ver os atletas como protagonistas.
Para a nossa sorte, lá não estavam o Galvão Bueno e o bordão mais azarado do universo. O Cléber Machado, crente na mística, não dizia, mesmo em momento mais otimista, que o Santos era o Brasil na Libertadores. Ou eu estava tão assombrado que não ouvia direito?
E o jogo fácil virou drama greco-guarani. Maldito Corman. Os secadores cresceram, ouvi um "chupa" ou outro na janela do prédio. O que vinha de baixo me atingia sim, o filme rebobinava na minha cabeça. Era quase impossível o milagre paraguaio, mas vai saber. O juiz, dublê de Boris Karloff, trilha o apito. Ufa.
Soy loco por ti, América, e parem com essa peleja idiota entre Neymar e Messi. Esse torneio chinfrim de férias de fim de ano não vale nada. O que vale é a taça agora. Bordadeiras de plantão, por favor, o que interessa é a terceira estrela latina do uniforme.
Assim como a copa do jipe japonês e outros simbolismos, Mundial é ficção da Fifa. Vale só pela farra.

xico.folha@uol.com.br
@xicosa


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