São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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Brasileiro joga por país onde não pisou

COPA AFRICANA DE NAÇÕES
Goleiro se naturaliza mesmo sem ter qualquer ligação com sua nova pátria


ADRIANO WILKSON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O goleiro Nilson Corrêa, 35, nasceu no Espírito Santo, profissionalizou-se na Bahia, virou ídolo em Pernambuco e joga em Portugal, onde pretende encerrar sua carreira.
A partir de amanhã, porém, defenderá a seleção de Burkina Fasso, um pequeno país africano com o qual ele nunca teve nenhuma ligação e onde nunca sequer esteve.
Depois de um convite feito pela federação de futebol local, Nilson se naturalizou cidadão burquinense e agora é o goleiro titular da seleção.
De Portugal, carregando um forte sotaque lusitano -ele está no país desde 2005-, Nilson explicou à Folha, por telefone, seus planos para a nação que adotou.
"Quero ir em breve com a família até lá, conhecer o país, a cultura, aprender a "parlez français'", disse.
Da língua oficial de Burkina Fasso, o francês, Nilson conhece apenas o básico.
Quem explica a história insólita é o técnico da seleção daquele país, o português Paulo Duarte. Ao assumir o time, ele percebeu que em Burkina Fasso havia carência de goleiros qualificados.
Como conhecia o trabalho de Nilson, um dos destaques da liga portuguesa na posição, resolveu chamá-lo.
"Não há escola de goleiros na África. Eles fazem o mesmo treino dos demais atletas, o que é ridículo. Não há uma preparação especifica. É difícil haver bons goleiros na África", afirma o treinador.
Antes do convite, veio a pergunta. "Ele quis saber se eu ainda sonhava em jogar na seleção brasileira. Eu disse que meu tempo tinha passado", lembra o goleiro, que atuou pela equipe nacional sub-20. Em 1995, foi vice- -campeão mundial na base.
Ele diz não temer possível rejeição da torcida por não ter identificação com o país. Na seleção, há outros dois naturalizados, oriundos de Camarões e Costa do Marfim.
O goleiro explica a opção de jogar por uma equipe que está no 44º lugar no ranking Fifa, cujo melhor resultado foi chegar a uma semifinal de Copa Africana de Nações.
"Vou ganhar 5.000 (R$ 11,5 mil) por convocação, fora premiações por alcançar objetivos. Também vou conhecer uma cultura nova, fazer contatos, ganhar experiência", afirma o jogador.
Ele jamais tinha assistido a um jogo do país africano antes do convite para se naturalizar. "Depois, vi dois jogos deles, em um DVD que o treinador me mandou."
Com passagens por Vitória da Bahia -era reserva de Dida-, Náutico e Santa Cruz, Nilson é o jogador que está há mais tempo no Vitória de Guimarães, clube português que defende desde 2005.
O goleiro treinou durante a semana e amanhã pretende estrear contra Namíbia, nas eliminatórias para a Copa Africana de Nações.
Mas, como o jogo será fora de casa, Nilson se tornará um raríssimo caso de atleta que defende uma seleção sem nunca ter pisado no país.
Para defender um time de outro país, um atleta precisa viver nele por pelo menos cinco anos. Procurada, a Fifa não respondeu se o jogador está irregular. Duarte diz que também questionou a entidade, sem resposta.


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