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FUTEBOL
O sonho acabou; viva o sonho
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O sonho começou a acabar
aos 20min do primeiro tempo, no primeiro ataque do Boca, e
foi definitivamente enterrado aos
38min do segundo, na única bola
chutada a gol pelos argentinos
naquela etapa.
Quando tomou o primeiro gol, o
Santos já tinha criado pelo menos
três chances claras e sofrido um
pênalti (em Diego) não marcado
pelo árbitro. Quando tomou o segundo pressionava para virar o
placar e manter viva a esperança.
Diante de um trauma desse tipo, a tendência é buscar um culpado, uma razão clara, uma explicação definitiva.
A culpa é de Alex, que deu o
passe errado que originou o primeiro contra-ataque fatal do Boca? Ou dos volantes, que não fizeram a cobertura a tempo? Ou do
esquema demasiado ofensivo e
imprudente adotado por Leão?
Ou de Fábio Costa, que estava
quase no meio de campo na hora
do segundo gol? Ou de Fabiano,
que cochilou e deixou o adversário tomar-lhe a bola e lançar para
Delgado livre? Ou dos atacantes
que não converteram em gol as
chances que tiveram?
A culpa não é de ninguém. Depois de ter perdido por 2 a 0 em
Buenos Aires, o Santos não tinha
muita escolha: era atacar ou atacar. Indo à frente, era inevitável
que corresse riscos. Diante de
uma equipe madura e eficiente
como o Boca -que tinha tudo a
seu favor, e portanto podia jogar
de cabeça fresca-, qualquer erro
poderia ser fatal. E foi.
Mas, como dizia o velho líder
comunista Luís Carlos Prestes,
que errou muito pela vida afora,
"só erra quem faz". O Santos só
perdeu porque chegou lá. Não
fracassou. Fracassou quem ficou
no meio do caminho, ou no início.
Seria fácil dizer agora que faltou experiência à equipe santista.
Só que esse elenco supostamente
inexperiente foi campeão brasileiro no ano passado e chegou à
final da Libertadores. E os experientes, o que conseguiram?
Foi uma bela jornada, a desses
garotos amadurecidos a toque de
caixa. Não foram campeões, mas
tiraram as teias de aranha da
nossa sensibilidade embotada e
nos fizeram sonhar novamente.
Foi bonito ver, neste espaço que
ocupo agora, todo mundo manifestar seu sincero e entusiasmado
apoio ao Santos, não apenas o
santista Torero, mas também o
flamenguista Marcos Augusto
Gonçalves, a palmeirense Soninha e o (presumo) cruzeirense
Tostão, além do corintiano maloqueiro e sofredor que vos fala.
Estou certo de que o que nos
moveu não foi patriotismo de algibeira, mas o amor ao futebol
alegre e criativo que o Santos revitalizou. Em suma, como cantou
Gilberto Gil, "o sonho acabou;
quem não dormiu no "sleeping
bag" nem sequer sonhou".
Justiça seja feita também ao Boca Juniors, uma máquina de objetividade e eficiência. Deixemos de
lado o controvertido pênalti que
resultou no seu terceiro gol. Os
dois primeiros gols foram um prodígio de lucidez e precisão.
Não é o futebol dos nossos sonhos, mas merece respeito.
O grande ausente
O corte de Elano na véspera da
final foi, sem trocadilho, de cortar o coração. Fez lembrar o
azar de Romário em 1998 e o de
Emerson em 2002, se bem que
este último talvez tenha sido
um mal que veio para bem.
Seleção do mundo
O Real Madrid botou mais uma
estrela em seu firmamento. Do
ponto de vista técnico e tático, é
difícil dizer que o time estivesse
precisando de Beckham, um jogador bem inferior, na minha
opinião, a Figo, Zidane e Ronaldo. Do ponto de vista do marketing, claro, é um reforço considerável. E o clube ainda tenta
tirar Ronaldinho do Paris
Saint-Germain. Não quer deixar nada para os outros. A tendência é tornar-se uma trupe de
exibição, uma espécie de Harlem Globetrotters do futebol.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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