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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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FUTEBOL

O sonho acabou; viva o sonho

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O sonho começou a acabar aos 20min do primeiro tempo, no primeiro ataque do Boca, e foi definitivamente enterrado aos 38min do segundo, na única bola chutada a gol pelos argentinos naquela etapa.
Quando tomou o primeiro gol, o Santos já tinha criado pelo menos três chances claras e sofrido um pênalti (em Diego) não marcado pelo árbitro. Quando tomou o segundo pressionava para virar o placar e manter viva a esperança.
Diante de um trauma desse tipo, a tendência é buscar um culpado, uma razão clara, uma explicação definitiva.
A culpa é de Alex, que deu o passe errado que originou o primeiro contra-ataque fatal do Boca? Ou dos volantes, que não fizeram a cobertura a tempo? Ou do esquema demasiado ofensivo e imprudente adotado por Leão? Ou de Fábio Costa, que estava quase no meio de campo na hora do segundo gol? Ou de Fabiano, que cochilou e deixou o adversário tomar-lhe a bola e lançar para Delgado livre? Ou dos atacantes que não converteram em gol as chances que tiveram?
A culpa não é de ninguém. Depois de ter perdido por 2 a 0 em Buenos Aires, o Santos não tinha muita escolha: era atacar ou atacar. Indo à frente, era inevitável que corresse riscos. Diante de uma equipe madura e eficiente como o Boca -que tinha tudo a seu favor, e portanto podia jogar de cabeça fresca-, qualquer erro poderia ser fatal. E foi.
Mas, como dizia o velho líder comunista Luís Carlos Prestes, que errou muito pela vida afora, "só erra quem faz". O Santos só perdeu porque chegou lá. Não fracassou. Fracassou quem ficou no meio do caminho, ou no início.
Seria fácil dizer agora que faltou experiência à equipe santista. Só que esse elenco supostamente inexperiente foi campeão brasileiro no ano passado e chegou à final da Libertadores. E os experientes, o que conseguiram?
Foi uma bela jornada, a desses garotos amadurecidos a toque de caixa. Não foram campeões, mas tiraram as teias de aranha da nossa sensibilidade embotada e nos fizeram sonhar novamente.
Foi bonito ver, neste espaço que ocupo agora, todo mundo manifestar seu sincero e entusiasmado apoio ao Santos, não apenas o santista Torero, mas também o flamenguista Marcos Augusto Gonçalves, a palmeirense Soninha e o (presumo) cruzeirense Tostão, além do corintiano maloqueiro e sofredor que vos fala.
Estou certo de que o que nos moveu não foi patriotismo de algibeira, mas o amor ao futebol alegre e criativo que o Santos revitalizou. Em suma, como cantou Gilberto Gil, "o sonho acabou; quem não dormiu no "sleeping bag" nem sequer sonhou".
 
Justiça seja feita também ao Boca Juniors, uma máquina de objetividade e eficiência. Deixemos de lado o controvertido pênalti que resultou no seu terceiro gol. Os dois primeiros gols foram um prodígio de lucidez e precisão.
Não é o futebol dos nossos sonhos, mas merece respeito.

O grande ausente
O corte de Elano na véspera da final foi, sem trocadilho, de cortar o coração. Fez lembrar o azar de Romário em 1998 e o de Emerson em 2002, se bem que este último talvez tenha sido um mal que veio para bem.

Seleção do mundo
O Real Madrid botou mais uma estrela em seu firmamento. Do ponto de vista técnico e tático, é difícil dizer que o time estivesse precisando de Beckham, um jogador bem inferior, na minha opinião, a Figo, Zidane e Ronaldo. Do ponto de vista do marketing, claro, é um reforço considerável. E o clube ainda tenta tirar Ronaldinho do Paris Saint-Germain. Não quer deixar nada para os outros. A tendência é tornar-se uma trupe de exibição, uma espécie de Harlem Globetrotters do futebol.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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