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Tostão
Não somos idiotas
Diferentemente da seleção de 1982, a atual não deixará nenhuma saudade
APÓS O desorganizado futebol dos quatro primeiros jogos,
havia uma esperança de
que a seleção brasileira
crescesse nos momentos
decisivos e, ao mesmo
tempo, um temor de que
desmoronasse quando enfrentasse fortes adversários. Foi o que aconteceu.
O Brasil jogou muito
mal com o quarteto ofensivo e com os três volantes
no jogo contra a França. O
problema principal não foi
o desenho tático, e sim a
postura apática do estilo
Parreira, de recuar e permitir que o adversário toque a bola com facilidade.
O Brasil assistiu ao excepcional Zidane dar um
show. Contra Portugal,
duvido que ele tenha tanta
moleza. Como disse José
Trajano, o time brasileiro
quis fazer uma homenagem ao craque francês,
que vai parar de jogar após
o Mundial. Gilberto Silva,
em vez de marcá-lo de
perto, jogou quase como
um terceiro zagueiro, sem
função, pois Henry era o
único atacante e já havia
um zagueiro na sobra.
Após a partida, Parreira
disse que Zidane foi bem
marcado. O técnico deve
achar que somos idiotas
e/ou que não entendemos
nada de futebol.
Com freqüência, é preciso esperar uma Copa para termos certeza de que
alguns jogadores que foram importantíssimos por
muito tempo, como Roberto Carlos, Cafu e, talvez, Ronaldo, já deveriam
ter sido substituídos. Sei
que era difícil barrá-los,
pois havia uma esperança
de que poderiam atuar
bem. Além disso, os reservas não empolgavam.
As grandes esperanças,
Ronaldinho e Kaká, decepcionaram. Sabia que
Ronaldinho nunca jogaria
como no Barcelona, mas
poderia ter atuado muito
melhor. Ele sentiu também a responsabilidade de
ser a estrela do Mundial.
A seleção tem tanto
prestígio que ninguém
imagina a sua derrota. Essa autoconfiança, de jogadores, técnicos e até da imprensa, confunde-se várias vezes com a soberba.
Nas conquistas e decepções em uma Copa, surgem dezenas de fatos e/ou
versões que têm pouca ou
nenhuma importância no
resultado.
Diferentemente da seleção de 82, que também tinha muitos craques e perdeu, a atual não deixará
nenhuma saudade.
tostao.folha@uol.com.br
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