São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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José Roberto Torero

Complexo de poodles

O Brasil sofria de complexo de vira-lata, mas o time atual tem outro

FICOU FAMOSA a frase de Nelson Rodrigues na qual ele diz que o brasileiro sofria de complexo de vira-lata. Pois alguns jogadores desta seleção sofrem de um complexo oposto: o complexo de poodles.
Há excesso de badalação, publicidade e festa em cima deles. São jogadores mimados, que, como os poodles, precisam de cortes de cabelo diferentes, perfumes importados e outros luxos. São cães de exposição, e não de caça.
Ronaldo, por exemplo, não se preparou como devia. Era a sua última chance de ser o melhor do mundo. Mas ele pareceu não ter desejo de vencer.
Muito diferente do que fez seu desafeto Pelé em 1970, quando, sabendo que aquela era sua despedida das Copas, treinou como nunca e acabou fazendo o que fez.
Ronaldinho, sem dúvida um grande jogador, também decepcionou. Não acredito que tenha feito corpo mole ou algo assim, mas talvez a conquista pela seleção não lhe pareça tão importante depois de levar o campeonato europeu de clubes pelo Barcelona. Pode ser que tal conquista tenha lhe provocado um "efeito endorfina", aquela substância relaxante que é espalhada pelo nosso corpo depois de um grande esforço.
Os laterais Cafu e Roberto Carlos foram outro caso típico de complexo de poodles. É claro que eles têm uma longa lista de vitórias que lhes serve de pedigree, mas o temor de que já não possuíam condições físicas para jogar nas posições que mais pedem preparo atlético se confirmou. Eles atuaram mal e foram mantidos como titulares por conta de suas glórias passadas.
Parreira, por fim, não foi um grande treinador para esses poodles.
Deveria tê-los deixado com fome de carne e glória. Mas não conseguiu isso. Não conseguiu transformá-los em dobermans famintos. Não conseguiu fazer com que roessem ossos, latissem e mordessem em campo. E nem deu conjunto à matilha com seus treinos esquisitos.
Agora resta torcer pelos portugueses, que jogam como pitbulls raivosos. Sem arte, mas com raça.
torero@uol.com.br


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