São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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JOSÉ GERALDO COUTO

A alegria há de voltar


Com a derrota, a concepção triste, carrancuda e bélica de futebol de Dunga talvez seja sepultada


AH, COMO seria fácil tripudiar agora sobre o arrogante, autoritário e malcriado Dunga, que passou os últimos meses atacando os jornalistas e culpando a imprensa por todo e qualquer problema que aparecia ou pudesse vir a aparecer na seleção.
Seria fácil também culpar pela derrota Felipe Melo, que, como observou o colega Rodrigo Bueno, começou a partida como Gérson e terminou como... Felipe Melo.
Tudo isso seria fácil, mas também injusto. Com todos os seus erros -o principal deles foi o de não convocar os jogadores mais talentosos para o meio-campo da seleção-, Dunga montou uma equipe forte e coesa, que era considerada com todos os méritos uma das fortes candidatas ao título.
Ocorre que no futebol existe o tal imponderável, aquela miríade de pequenos acasos e acidentes que pode mudar os rumos de uma partida.
E existe um adversário -fato óbvio, mas do qual frequentemente nos esquecemos. Quantas vezes você já ouviu a frase, de uma empáfia inigualável, "O Brasil só perde para si mesmo"?
Ora, ontem, antes do bate-cabeça de Júlio César e Felipe Melo que gerou o primeiro gol holandês, até eu achei que o jogo estava ganho.
Aquele golzinho "achado" pelos holandeses, que até então não estavam jogando nada, teve um efeito semelhante ao que imagino ter havido no Maracanã em 1950, quando Schiaffino fez o primeiro gol uruguaio.
De repente ficamos todos -jogadores, imprensa, torcida- conscientes da nossa vulnerabilidade. Principalmente, talvez, porque a falha envolvia o até então inexpugnável Júlio César.
O Brasil poderia ter goleado no primeiro tempo e poderia ter sido goleado no segundo.
Futebol tem dessas coisas. O estado de espírito é quase tudo. Quanto a isso, foi estranho, quando a seleção brasileira ainda estava vencendo, ver Dunga esbravejar, chutar o ar, esmurrar o banco de reservas. Ele deve ter passado esse desequilíbrio para seus atletas.
Perder é sempre ruim, mas há um consolo. Com a derrota, a concepção bélica, triste e carrancuda de futebol do treinador talvez seja sepultada, ao menos por um tempo.
Talvez voltemos a ver o futebol como um espetáculo, uma festa, uma alegria.

jgcouto@uol.com.br


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