São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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Wraak*

*vingaça em holandês

Em uma praça de Amsterdã , embalados por cerveja, holandeses festejam a vitória sobre o Brasil, uma espécie de vingança pelas derrotas nas Copas de 1994 e 1998

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A AMSTERDÃ

A festa começou assim...
As caixas de som da Museumplein tocavam uma versão remix de "Aquarela do Brasil". Usando perucas laranjas, duas meninas dançavam, aos pulos. De biquíni, outra garota pegou na mão do namorado e eles correram para se jogar no espelho d'água. Um senhor usando um boné com orelhinhas de leão estava estático, olhar no infinito. Latas de cerveja no gramado. Cheiro de maconha.
Na praça cercada por quatro museus, seu principal ponto de manifestações, Amsterdã vibrou com gosto.
Com um quê de desabafo, outro de pirraça. Com vários quês de vingança. Em 94 e 98, o Brasil foi o algoz da Holanda. Ontem, a desforra.
Mas eles querem mais.
"Queremos a Alemanha, queremos muito. Seria a final dos sonhos", diz Joost Zwart, um dos 50 mil torcedores que lotaram a praça ontem.
Os vizinhos foram os vilões da grande tragédia do futebol holandês, a derrota na decisão do Mundial de 74.
"Aquele era nosso grande time, mas não deu. Quem sabe esses garotos não nos vingam? Aprendi nesses anos todos que a bola é redonda, e que você nunca sabe ao certo para onde ela vai", declara Willem Duykers, 68, o senhor das orelhas de leão.
Amsterdã foi a 21ª parada da série "Um Mundo Que Torce", a quarta na Europa.
Uma Amsterdã quente, com jeito de feriado: em um calor de 32ºC, os holandeses deixaram o trabalho depois do almoço e transformaram a área da "praça do museu" numa enorme praia laranja.
"Vamos chutar umas bundas brasileiras hoje. E depois vamos chutar umas da Alemanha", lança, antes da partida, Renco Lushnis, cartola na cabeça. Laranja, claro.
No primeiro tempo, porém, quem chutou foi Robinho: 1 a 0. "A Holanda não está bem. Toda a defesa está num dia ruim", afirma o comentarista do Nederland 1, o canal que transmite o jogo.
Na praça, o sentimento é o mesmo. "Não estamos bem o suficiente", afirma Jurgen Stans, rosto desanimado pintado de vermelho, branco e azul, uma bandeira.
Vem o segundo tempo, e a metamorfose é rápida. O crescimento da seleção holandesa tinha reflexos imediatos no ânimo da torcida.
No empate, canhões sob o telão jogam fitas vermelhas sobre a torcida. Seis minutos depois, chegou uma nova carga. Que explodiu quando Sneijder estabeleceu o 2 a 1.
Explosão é a palavra.
Abraços, gritos, abraços, gritos. Um torcedor corta o supercílio no cotovelo de outro, é atendido pelos médicos e logo retorna, camiseta cheia de sangue. O sossego só volta nos minutos finais da partida. Nervosismo.
O juiz apita o fim de jogo. A festa começa, a cidade invade a noite de sexta festejando pelas ruas. E se você acordou cedo, saiba que, enquanto lê esta reportagem, ainda tem holandês bebendo cerveja.
A festa, provavelmente, ainda não terminou.


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