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Wraak*
*vingaça em holandês
Em uma praça de Amsterdã , embalados por cerveja, holandeses festejam a vitória sobre o Brasil, uma espécie de vingança pelas derrotas nas Copas de 1994 e 1998
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A AMSTERDÃ
A festa começou assim...
As caixas de som da Museumplein tocavam uma versão remix de "Aquarela do
Brasil". Usando perucas laranjas, duas meninas dançavam, aos pulos. De biquíni,
outra garota pegou na mão
do namorado e eles correram
para se jogar no espelho d'água. Um senhor usando um
boné com orelhinhas de leão
estava estático, olhar no infinito. Latas de cerveja no gramado. Cheiro de maconha.
Na praça cercada por quatro museus, seu principal
ponto de manifestações,
Amsterdã vibrou com gosto.
Com um quê de desabafo,
outro de pirraça. Com vários
quês de vingança. Em 94 e
98, o Brasil foi o algoz da Holanda. Ontem, a desforra.
Mas eles querem mais.
"Queremos a Alemanha,
queremos muito. Seria a final
dos sonhos", diz Joost Zwart,
um dos 50 mil torcedores que
lotaram a praça ontem.
Os vizinhos foram os vilões da grande tragédia do
futebol holandês, a derrota
na decisão do Mundial de 74.
"Aquele era nosso grande
time, mas não deu. Quem sabe esses garotos não nos vingam? Aprendi nesses anos
todos que a bola é redonda, e
que você nunca sabe ao certo
para onde ela vai", declara
Willem Duykers, 68, o senhor das orelhas de leão.
Amsterdã foi a 21ª parada
da série "Um Mundo Que
Torce", a quarta na Europa.
Uma Amsterdã quente,
com jeito de feriado: em um
calor de 32ºC, os holandeses deixaram o trabalho depois
do almoço e transformaram a
área da "praça do museu"
numa enorme praia laranja.
"Vamos chutar umas bundas brasileiras hoje. E depois
vamos chutar umas da Alemanha", lança, antes da partida, Renco Lushnis, cartola
na cabeça. Laranja, claro.
No primeiro tempo, porém, quem chutou foi Robinho: 1 a 0. "A Holanda não
está bem. Toda a defesa está
num dia ruim", afirma o comentarista do Nederland 1, o
canal que transmite o jogo.
Na praça, o sentimento é o
mesmo. "Não estamos bem o
suficiente", afirma Jurgen
Stans, rosto desanimado pintado de vermelho, branco e
azul, uma bandeira.
Vem o segundo tempo, e a
metamorfose é rápida. O
crescimento da seleção holandesa tinha reflexos imediatos no ânimo da torcida.
No empate, canhões sob o
telão jogam fitas vermelhas
sobre a torcida. Seis minutos
depois, chegou uma nova
carga. Que explodiu quando
Sneijder estabeleceu o 2 a 1.
Explosão é a palavra.
Abraços, gritos, abraços,
gritos. Um torcedor corta o
supercílio no cotovelo de outro, é atendido pelos médicos
e logo retorna, camiseta
cheia de sangue. O sossego
só volta nos minutos finais
da partida. Nervosismo.
O juiz apita o fim de jogo. A
festa começa, a cidade invade a noite de sexta festejando
pelas ruas. E se você acordou
cedo, saiba que, enquanto lê
esta reportagem, ainda tem
holandês bebendo cerveja.
A festa, provavelmente,
ainda não terminou.
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