São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010 |
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XICO SÁ Silêncio do papa-capim
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, mesmo sendo o único colunista do país que pedia o direito de ser do contra sem desculpas técnico-ludopédicas, não consigo neste momento tragar os fumos do escárnio. Até o papa-capim do bar do Expedito, aqui na esquina da minha casa na Pompeia, calou junto com o silvo final do japa. Respeito o barulho dos homens soltos e respeito mais ainda o silêncio zen dos pássaros engaiolados. Sim, também é muito duro para as crianças e para quem gosta de futebol apenas durante a Copa. Eles estão menos adaptados às decepções do varejão de quartas e domingos. A vida é dura, Sizenando, como bem disse o Rubem Braga a um derrotado na mais enlameada de todas as várzeas da existência: o amor por uma mulher de verdade. A vida é a própria várzea escorregadia, jamais será a feira de futebol da Fifa. A vida é o Linense, velho Prata; o Juventus da Mooca, o Icasa de Juazeiro, o Treze, o galo da Borborema, o Botafogo de Guaianazes, time do Maníaco da Câmera. Mas, pensando bem e com o devido respeito às lágrimas, claro que os holandeses fizeram um grande favor para todos nós, não permitindo que vingasse uma filosofia de jogo e de vida no contrafluxo do prazer e da liberdade. Que me permitam uma rápida autoajuda à moda do velho Reich: quem não goza não vence, não triunfa, vai ficar mais interessado em reprimir outrem. Em vez de um segundo gol, a obsessão é impedir o tento do adversário. É, amigo, depois dos benefícios do conde Maurício de Nassau no Pernambuco holandês do século 17, a derrota de ontem foi o segundo grande presente que ganhamos da pátria em tulipas e cataventos, com os devidos descontos para as não sabidas mutretas históricas. Hoje não vou deixar o corvo Edgar -seria muito óbvio e perverso- erguer a cartolina rosa do "eu já sabia". Cala-te boca e vai consolar o teu novo amigo Chico Bacon em um safári de abstrações alcoólicas. Cala-te, cuervo de mierda, que o papo é sério. Quero saber do amor à pátria. Por que sempre é de mão única? O torcedor chora na esquina sugando a latinha do desgosto e, no comando da CBF, ninguém derrama uma lágrima? Tomara que o Dunga pelo menos tenha chorado escondido. É o mínimo que se espera de um homem. xico.folha@uol.com.br Texto Anterior: Wraak Próximo Texto: Com as mãos, Uruguai vai à semifinal Índice |
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