São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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Nação arco-íris

Hoje, contra os argentinos, Alemanha desfila a seleção mais multiétnica e multinacional de sua história, com 11 atletas de origem estrangeira

DO ENVIADO À CIDADE DO CABO

A seleção alemã que entra em campo hoje contra a Argentina é a mais multinacional e multiétnica de sua história. Onze dos 23 jogadores têm origem estrangeira: cinco deles nasceram fora da Alemanha e outros seis são filhos de imigrantes.
"É a verdadeira "rainbow nation" [nação arco-íris]", estampou o jornal "Sowetan", de Johannesburgo, brincando com a expressão cunhada pelo bispo Desmond Tutu para designar a África do Sul pós-apartheid.
Os membros dessa "legião estrangeira" têm as trajetórias mais diversas entre si.
Miroslav Klose e Lukas Podolski, por exemplo, nasceram na Polônia e emigraram para a Alemanha ainda durante a infância. Curiosamente, ambos são filhos de futebolistas profissionais.
Já o brasileiro Cacau, nascido em Mogi das Cruzes (a 57 km de São Paulo), com o nome de Claudemir Jerônimo Barreto, chegou à Alemanha quando tinha 17 anos.
Amargou dois anos no Türk Gücü München, da quinta divisão, antes de ser descoberto pelo Nuremberg e depois brilhar no Stuttgart.
Em fevereiro do ano passado, adquiriu cidadania germânica. Casado, com uma filha nascida na Alemanha, Cacau se diz hoje "100% brasileiro e 100% alemão".
Há ainda os filhos de turcos Özil e Tasci, o filho de nigeriano Aogo, o filho de tunisiano Khedira e o filho de espanhol Gomez -todos eles com mães alemãs -e o bósnio de nascimento Marin.
Mas o caso mais curioso talvez seja o do zagueiro Jerome Boateng, nascido em Berlim, filho de pai ganense e mãe alemã. Seu irmão mais velho, Kevin-Prince Boateng, atacante do Portsmouth, da Inglaterra, optou por jogar pela seleção de Gana.
Os dois se enfrentaram na partida Alemanha 1 x 0 Gana, na primeira fase desta Copa.
Já o polonês Trochowski, antes de ir parar na esquadra alemã, ofereceu seus préstimos à seleção de seu país, mas foi ignorado.
E como a população germânica, que tem histórico de relações espinhosas com outras etnias, vê essa invasão estrangeira em sua seleção?
"A maioria vê como um fator positivo, de arejamento do velho estilo de futebol alemão", afirma Lars Wallrodt, do jornal "Die Welt".
Thomas Mäher, do "Stuttgart Nachritten", concorda."Eles se destacaram na Bundesliga. Os torcedores
sabem quanto são valiosos para seus clubes e reconhecem que são ainda mais valiosos para a seleção", diz.
O perigo de haver divergências internas e formação de "panelinhas", como aconteceu nas seleções de França e Holanda em momentos distintos, não preocupa a imprensa alemã.
"Esse risco não existe", acredita Wallrodt, "porque não há grupos específicos, como os do Suriname na Holanda dos anos 90".
Mäher complementa: "São de diferentes origens, mas se sentem alemães. É só ver como eles cantam o hino". (JOSÉ GERALDO COUTO)


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