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Nação arco-íris
Hoje, contra os
argentinos,
Alemanha
desfila a seleção
mais multiétnica
e multinacional
de sua história,
com 11 atletas
de origem
estrangeira
DO ENVIADO À CIDADE DO CABO
A seleção alemã que entra
em campo hoje contra a Argentina é a mais multinacional e multiétnica de sua história. Onze dos 23 jogadores
têm origem estrangeira: cinco deles nasceram fora da
Alemanha e outros seis são
filhos de imigrantes.
"É a verdadeira "rainbow
nation" [nação arco-íris]", estampou o jornal "Sowetan",
de Johannesburgo, brincando com a expressão cunhada
pelo bispo Desmond Tutu para designar a África do Sul
pós-apartheid.
Os membros dessa "legião
estrangeira" têm as trajetórias mais diversas entre si.
Miroslav Klose e Lukas Podolski, por exemplo, nasceram na Polônia e emigraram
para a Alemanha ainda durante a infância. Curiosamente, ambos são filhos de
futebolistas profissionais.
Já o brasileiro Cacau, nascido em Mogi das Cruzes (a 57
km de São Paulo), com o nome de Claudemir Jerônimo
Barreto, chegou à Alemanha
quando tinha 17 anos.
Amargou dois anos no
Türk Gücü München, da
quinta divisão, antes de ser
descoberto pelo Nuremberg
e depois brilhar no Stuttgart.
Em fevereiro do ano passado, adquiriu cidadania germânica. Casado, com uma filha nascida na Alemanha,
Cacau se diz hoje "100% brasileiro e 100% alemão".
Há ainda os filhos de turcos Özil e Tasci, o filho de nigeriano Aogo, o filho de tunisiano Khedira e o filho de espanhol Gomez -todos eles
com mães alemãs -e o bósnio de nascimento Marin.
Mas o caso mais curioso
talvez seja o do zagueiro Jerome Boateng, nascido em Berlim, filho de pai ganense e
mãe alemã. Seu irmão mais
velho, Kevin-Prince Boateng,
atacante do Portsmouth, da
Inglaterra, optou por jogar
pela seleção de Gana.
Os dois se enfrentaram na
partida Alemanha 1 x 0 Gana,
na primeira fase desta Copa.
Já o polonês Trochowski,
antes de ir parar na esquadra
alemã, ofereceu seus préstimos à seleção de seu país,
mas foi ignorado.
E como a população germânica, que tem histórico de
relações espinhosas com outras etnias, vê essa invasão
estrangeira em sua seleção?
"A maioria vê como um fator positivo, de arejamento
do velho estilo de futebol alemão", afirma Lars Wallrodt,
do jornal "Die Welt".
Thomas Mäher, do "Stuttgart Nachritten", concorda."Eles se destacaram na
Bundesliga. Os torcedores
sabem quanto são valiosos
para seus clubes e reconhecem que são ainda mais valiosos para a seleção", diz.
O perigo de haver divergências internas e formação
de "panelinhas", como aconteceu nas seleções de França
e Holanda em momentos distintos, não preocupa a imprensa alemã.
"Esse risco não existe",
acredita Wallrodt, "porque
não há grupos específicos,
como os do Suriname na Holanda dos anos 90".
Mäher complementa: "São
de diferentes origens, mas se
sentem alemães. É só ver como eles cantam o hino".
(JOSÉ GERALDO COUTO)
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