São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Está nas mãos dos pilotos

Ao decidir contra-atacar a Ferrari, Dennis tenta ganhar tempo para que seus pilotos tornem eliminação inviável

HÁ TRÊS hipóteses para explicar a decisão da McLaren de contra-atacar a Ferrari, acusando-a, com detalhes técnicos, de ter corrido na Austrália com assoalho e aerofólios traseiros ilegais.
A primeira: Ron Dennis é burro.
Porque, afinal, a base de sua acusação são as informações levadas a Mike Coughlan por Nigel Stepney. E o dirigente deixa isso claro na carta que enviou ao Automobile Club D'Italia, com cópias para Ferrari e FIA.
Diz o missivista: "Em março de 2007, o senhor Stepney, da Ferrari, contatou o senhor Coughlan e o informou sobre dois aspectos do carro da Ferrari que infringiam o regulamento. Especificamente, ele contou ao senhor Coughlan sobre um mecanismo móvel no assoalho e sobre um separador da asa (...) A McLaren tomou as providências para averiguar se essas alegações eram verdadeiras, e eram. Em seguida, reportamos as duas irregularidades à FIA".
Ou seja, o chefe da McLaren admite que, lá atrás, quando o mais imundo caso de espionagem da história da F-1 ainda não havia explodido, usou informações obtidas da Ferrari para atacar, veja só, a Ferrari. A ilegalidade sobre a forma como os dados foram obtidos pode ser discutida. A imoralidade me parece líquida e certa. Pode ter sido um tiro no pé.
Mas não. Não parece ser o caso. Essa seria uma análise simplista demais. Na F-1 desde os 18, quando arrumou emprego de mecânico da Cooper, Dennis se converteu numa das principais peças do que se convencionou chamar "The Piranha Club". E piranhas comem burros.
A segunda hipótese: encurralado, Dennis resolveu desviar o foco do problema. Ao tirar da manga uma acusação contra a Ferrari, usando dados da própria Ferrari, o inglês busca conferir credibilidade aos dados. Em suma, Dennis pode afundar, mas tentará de todas as formas levar a turma de Maranello consigo.
De quebra, conturba mais a situação, ganhando tempo para que seus pilotos tornem inviável uma punição, como a eliminação do Mundial.
No primeiro cenário, derrota por pouco. No segundo, empate. A terceira conjectura aponta, então, para uma tentativa de volta por cima, de sair do caso vitorioso, bonito e cheiroso. Para isso, no entanto, Dennis precisaria do apoio cego dos integrantes da Corte de Apelações da FIA, na audiência que deve acontecer no fim do mês. E, historicamente, essa é uma arma ferrarista. Coluna do meio, portanto, na opinião desta coluna. Hoje, Hamilton lidera o campeonato, com 70 pontos, seguido por Alonso, com 68.
Que, a continuar a toada da McLaren em circuitos travados neste ano, abrirão ainda mais vantagem para os ferraristas no GP da Hungria.
Por mais que tente emplacar um discurso de Justiça, a Corte de Apelações não encontrará ambiente para punir a McLaren caso ela esteja disparada na frente. Essa, pelo menos, parece ser a aposta de Dennis.
Ele está nas mãos de seus pilotos.


fseixas@folhasp.com.br

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