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FÁBIO SEIXAS
Está nas mãos dos pilotos
Ao decidir contra-atacar a
Ferrari, Dennis tenta ganhar
tempo para que seus pilotos
tornem eliminação inviável
HÁ TRÊS hipóteses para explicar a decisão da McLaren de
contra-atacar a Ferrari, acusando-a, com detalhes técnicos, de
ter corrido na Austrália com assoalho e aerofólios traseiros ilegais.
A primeira: Ron Dennis é burro.
Porque, afinal, a base de sua acusação são as informações levadas a Mike Coughlan por Nigel Stepney. E o
dirigente deixa isso claro na carta
que enviou ao Automobile Club D'Italia, com cópias para Ferrari e FIA.
Diz o missivista: "Em março de
2007, o senhor Stepney, da Ferrari,
contatou o senhor Coughlan e o informou sobre dois aspectos do carro
da Ferrari que infringiam o regulamento. Especificamente, ele contou
ao senhor Coughlan sobre um mecanismo móvel no assoalho e sobre
um separador da asa (...) A McLaren
tomou as providências para averiguar se essas alegações eram verdadeiras, e eram. Em seguida, reportamos as duas irregularidades à FIA".
Ou seja, o chefe da McLaren admite que, lá atrás, quando o mais imundo caso de espionagem da história
da F-1 ainda não havia explodido,
usou informações obtidas da Ferrari
para atacar, veja só, a Ferrari. A ilegalidade sobre a forma como os dados foram obtidos pode ser discutida. A imoralidade me parece líquida
e certa. Pode ter sido um tiro no pé.
Mas não. Não parece ser o caso.
Essa seria uma análise simplista demais. Na F-1 desde os 18, quando arrumou emprego de mecânico da
Cooper, Dennis se converteu numa
das principais peças do que se convencionou chamar "The Piranha
Club". E piranhas comem burros.
A segunda hipótese: encurralado,
Dennis resolveu desviar o foco do
problema. Ao tirar da manga uma
acusação contra a Ferrari, usando
dados da própria Ferrari, o inglês
busca conferir credibilidade aos dados. Em suma, Dennis pode afundar, mas tentará de todas as formas
levar a turma de Maranello consigo.
De quebra, conturba mais a situação, ganhando tempo para que seus
pilotos tornem inviável uma punição, como a eliminação do Mundial.
No primeiro cenário, derrota por
pouco. No segundo, empate. A terceira conjectura aponta, então, para
uma tentativa de volta por cima, de
sair do caso vitorioso, bonito e cheiroso. Para isso, no entanto, Dennis
precisaria do apoio cego dos integrantes da Corte de Apelações da
FIA, na audiência que deve acontecer no fim do mês. E, historicamente, essa é uma arma ferrarista.
Coluna do meio, portanto, na opinião desta coluna. Hoje, Hamilton
lidera o campeonato, com 70 pontos, seguido por Alonso, com 68.
Que, a continuar a toada da McLaren em circuitos travados neste ano,
abrirão ainda mais vantagem para
os ferraristas no GP da Hungria.
Por mais que tente emplacar um
discurso de Justiça, a Corte de Apelações não encontrará ambiente para punir a McLaren caso ela esteja
disparada na frente. Essa, pelo menos, parece ser a aposta de Dennis.
Ele está nas mãos de seus pilotos.
fseixas@folhasp.com.br
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