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FUTEBOL
Heróis, quadrinhos e futebol
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Heróico leitor, superpoderosa leitora, vamos imaginar duas cidades.
A primeira é escura e triste. Lá,
os dias são quase sempre chuvosos, e as pessoas se escondem em
suas casas, temerosas diante da
ameaça de vilões malignos. Desesperados e já sem saber o que
fazer para restaurar a ordem, o
prefeito e as autoridades chegam
a uma conclusão inevitável:
- Teremos que recorrer ao velho Batman!
Então, eles mandam o batsinal
e logo o homem-morcego estaciona seu batmóvel em frente à prefeitura. De início, Batman faz tremer os inimigos do bem. Com o
tempo, porém, nota-se que o herói
parece meio fatigado: não atira o
bat-rangue com a mesma eficiência e o bat-laço não prende os ladrões com a facilidade de outros
tempos. Além disso, o herói já ostenta uma incômoda barriguinha
e dá graças a Deus pelo fato de a
máscara cobrir sua leve calva.
Pouco a pouco, os vilões vão
percebendo que ele já não tem
mais a força e a agilidade de antes. Para vencer todos seus inimigos, Batman precisaria da ajuda
de outros super-heróis, mas ele
olha para o lado e tudo o que vê
são policiais esforçados e bombeiros diligentes. Não há nem mesmo um Robin decente por ali. O
futuro não é muito animador.
A outra cidade é bela e feliz, os
dias são sempre ensolarados e a
população está satisfeita com a
ação das autoridades na luta contra o crime. Apesar de tudo andar
tão bem e a cidade já contar com
a inestimável ajuda dos Superamigos, o prefeito resolve contratar
um reforço para melhorar sua estratégia:
- Vamos trazer o Super-Homem para o nosso lado.
Depois de alguns entraves burocráticos, o homem de Kripton
chega e é recebido com euforia pela população rosada e feliz. Seu
uniforme chega a cintilar de tão
limpo, sua capa balança graciosamente ao sopro do vento e seus
músculos indicam que ele está no
auge da força.
Pasmos, os poucos vilões da cidade se reúnem e pensam seriamente em mudar de profissão.
Adeus vida de crimes e contravenções. O futuro da segunda cidade é dos mais promissores.
A primeira história, obviamente, é a história do Fluminense, que
andava mal das pernas (apesar
do campeonato carioca) e contratou Romário para ser o salvador
da pátria. Diretores e torcida anteviam um futuro de memoráveis
conquistas. A estréia, de fato, foi
animadora, com 70 mil pessoas
no Maracanã e dois bonitos gols
contra o Cruzeiro. Aos poucos,
porém, a verdade foi-se impondo,
e o Fluminense começou a cair.
Romário precisa de um Robin, digo, de um Euller, para ajudá-lo. O
meia Beto ajuda, mas não chega
a ser um garoto-prodígio.
A segunda história, como todos
já perceberam, é a história do São
Paulo. O time, que já tinha os Superamigos Rogério Ceni e Kaká,
reforçou-se com superferas do
porte de Jorginho Paulista e Leandro. Como se isso não bastasse,
ainda completou o elenco com a
chegada do superpenta Ricardinho. Desde já é o favorito para a
conquista do título.
Dois tricolores, dois grandes jogadores e duas situações bem distintas: uma equipe é o líder sobranceira, a outra está apenas
numa modesta 15ª colocação.
E de cada uma destas histórias
tiramos uma lição.
Da primeira: "Pobre do time
que precisa de um herói".
Da segunda: "Feliz do clube que
tem vários".
Hulk
Os palmeirenses têm certa razão em ficar verde de raiva e
reclamar do time e de Murtosa, mas precisam levar em
conta que a equipe perdeu
muito sem César, Zinho, Lopes, Pedrinho e Muñoz. Mas
isso não o isenta de erros, como a insistência em alguns
craques do "mundo bizarro",
como Juninho e Adauto, e o
lançamento precipitado de
garotos do Palmeiras B, como Pedro, Alceu e Wagner.
Lanterna Verde
De qualquer forma, com a
volta de jogadores mais experientes e um novo técnico,
deve voltar a vencer, afastando-se do perigo de segurar a
lanterna do campeonato.
He-Man
Enquanto isso, Galeano, desprezado pelo Palmeiras, se
consagra no Botafogo. Já são
três gols, fora o prestígio e o
carinho da torcida. Ele, quem
diria, tem a força.
E-mail torero@uol.com.br
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