São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Heróis, quadrinhos e futebol

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Heróico leitor, superpoderosa leitora, vamos imaginar duas cidades.
A primeira é escura e triste. Lá, os dias são quase sempre chuvosos, e as pessoas se escondem em suas casas, temerosas diante da ameaça de vilões malignos. Desesperados e já sem saber o que fazer para restaurar a ordem, o prefeito e as autoridades chegam a uma conclusão inevitável:
- Teremos que recorrer ao velho Batman!
Então, eles mandam o batsinal e logo o homem-morcego estaciona seu batmóvel em frente à prefeitura. De início, Batman faz tremer os inimigos do bem. Com o tempo, porém, nota-se que o herói parece meio fatigado: não atira o bat-rangue com a mesma eficiência e o bat-laço não prende os ladrões com a facilidade de outros tempos. Além disso, o herói já ostenta uma incômoda barriguinha e dá graças a Deus pelo fato de a máscara cobrir sua leve calva.
Pouco a pouco, os vilões vão percebendo que ele já não tem mais a força e a agilidade de antes. Para vencer todos seus inimigos, Batman precisaria da ajuda de outros super-heróis, mas ele olha para o lado e tudo o que vê são policiais esforçados e bombeiros diligentes. Não há nem mesmo um Robin decente por ali. O futuro não é muito animador.
A outra cidade é bela e feliz, os dias são sempre ensolarados e a população está satisfeita com a ação das autoridades na luta contra o crime. Apesar de tudo andar tão bem e a cidade já contar com a inestimável ajuda dos Superamigos, o prefeito resolve contratar um reforço para melhorar sua estratégia:
- Vamos trazer o Super-Homem para o nosso lado.
Depois de alguns entraves burocráticos, o homem de Kripton chega e é recebido com euforia pela população rosada e feliz. Seu uniforme chega a cintilar de tão limpo, sua capa balança graciosamente ao sopro do vento e seus músculos indicam que ele está no auge da força.
Pasmos, os poucos vilões da cidade se reúnem e pensam seriamente em mudar de profissão. Adeus vida de crimes e contravenções. O futuro da segunda cidade é dos mais promissores.
A primeira história, obviamente, é a história do Fluminense, que andava mal das pernas (apesar do campeonato carioca) e contratou Romário para ser o salvador da pátria. Diretores e torcida anteviam um futuro de memoráveis conquistas. A estréia, de fato, foi animadora, com 70 mil pessoas no Maracanã e dois bonitos gols contra o Cruzeiro. Aos poucos, porém, a verdade foi-se impondo, e o Fluminense começou a cair. Romário precisa de um Robin, digo, de um Euller, para ajudá-lo. O meia Beto ajuda, mas não chega a ser um garoto-prodígio.
A segunda história, como todos já perceberam, é a história do São Paulo. O time, que já tinha os Superamigos Rogério Ceni e Kaká, reforçou-se com superferas do porte de Jorginho Paulista e Leandro. Como se isso não bastasse, ainda completou o elenco com a chegada do superpenta Ricardinho. Desde já é o favorito para a conquista do título.
Dois tricolores, dois grandes jogadores e duas situações bem distintas: uma equipe é o líder sobranceira, a outra está apenas numa modesta 15ª colocação.
E de cada uma destas histórias tiramos uma lição.
Da primeira: "Pobre do time que precisa de um herói".
Da segunda: "Feliz do clube que tem vários".

Hulk
Os palmeirenses têm certa razão em ficar verde de raiva e reclamar do time e de Murtosa, mas precisam levar em conta que a equipe perdeu muito sem César, Zinho, Lopes, Pedrinho e Muñoz. Mas isso não o isenta de erros, como a insistência em alguns craques do "mundo bizarro", como Juninho e Adauto, e o lançamento precipitado de garotos do Palmeiras B, como Pedro, Alceu e Wagner.

Lanterna Verde
De qualquer forma, com a volta de jogadores mais experientes e um novo técnico, deve voltar a vencer, afastando-se do perigo de segurar a lanterna do campeonato.

He-Man
Enquanto isso, Galeano, desprezado pelo Palmeiras, se consagra no Botafogo. Já são três gols, fora o prestígio e o carinho da torcida. Ele, quem diria, tem a força.

E-mail torero@uol.com.br



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