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Nem elite cuida do coração do atleta, diz especialista
Nabil Ghorayeb afirma que, mesmo após morte de Serginho, exames não são feitos corretamente e empresários evitam até levar jogadores ao médico
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os corações dos atletas estão
desamparados, e a maior parte
das recentes mortes no esporte
poderia ter sido evitada com
uma simples ida ao médico.
Nem mesmo a elite da mais
rica e badalada modalidade do
mundo tem se preocupado com
os cuidados para evitar tragédias como a ocorrida na Espanha, na semana passada, com o
jogador Antonio Puerta.
O diagnóstico alarmante é
dado por um dos principais cardiologistas ligados ao esporte,
que acompanha de perto, há
mais de 20 anos, os corações
dos principais atletas do país.
Nabil Ghorayeb, do Hospital
do Coração, é responsável
atualmente pelos exames de
São Paulo e Palmeiras. Também comandou a equipe que
testou todos os atletas da delegação do Brasil no Pan do Rio.
"Hoje o exame médico é obrigatório. O problema é como ele
é feito. Os testes específicos
não têm sido feitos de maneira
obrigatória nem competente.
Os atletas vão a qualquer lugar
e são atendidos por profissionais que, por falta de conhecimento do esporte, não estão
aptos a diagnosticar certos problemas", afirma Ghorayeb.
"Não me conformo com essas mortes. Várias delas poderiam ter sido evitadas com um
bom diagnóstico ou com socorro adequado", completa.
Só na última semana ao menos sete atletas, amadores e
profissionais, haviam morrido
durante a prática esportiva.
O Brasil conheceu esse drama de perto em 2004, com a
morte do zagueiro Serginho.
Desde então, o desfibrilador
tornou-se equipamento obrigatório de socorro. O número
de pedidos de exames aumentou. E o medo de ter doença
grave diagnosticada também.
"Muitos atletas simplesmente se recusam a fazer os testes.
Existem também casos de empresários que não querem que
seus clientes sejam examinados", conta Ghorayeb.
Caso emblemático aconteceu antes do Pan. A pivô Katia
Regina dos Santos teve detectadas irregularidades no ritmo
cardíaco e foi afastada da seleção de basquete. A jogadora sabia do problema desde 2004 e,
mesmo sem autorização médica, atuava na Espanha.
Entre os clubes do futebol
paulista, só o São Paulo fez
acompanhamento do elenco
ininterruptamente na última
década, segundo Ghorayeb.
A ausência de exames específicos também já criou muitos
casos de diagnósticos errados.
"O William, do Palmeiras,
por exemplo, foi afastado dos
gramados por cinco médicos.
Quando o analisei, vi que poderia voltar", diz o cardiologista.
O cenário da elite brasileira
dos esportes olímpicos é ainda
mais preocupante. Exames cardíacos são luxo para uma legião
de atletas que não têm nenhum
tipo de acompanhamento médico. Mais da metade do elenco
que foi ao Pan nunca havia pisado em um consultório.
"Muitas mulheres não haviam ido nem ao ginecologista.
Cerca de 8% tinha verminose.
Lombriga era problema recorrente", relembra Ghorayeb.
Só a pivô Katia foi afastada de
suas atividades por problemas
cardíacos. Mas 4% dos competidores apresentaram algum tipo de alteração nos exames.
Nas equipes de luta, a preocupação com o coração aparecia na dieta. Alguns atletas bebiam vinho todos os dias para prevenirem doenças. E comiam fartas porções de carne
três vezes ao dia para ficarem
fortes. "Minha impressão final
é a de que quem ganha medalha
é um herói", afirma Ghorayeb.
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