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FUTEBOL
Goleadores vinícolas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Um dos axiomas mais conhecidos no mundo do futebol
diz o seguinte: "Um bom goleiro é
como um bom vinho: quanto
mais velho, melhor".
Longe de mim querer questionar a veracidade dessa sentença.
Contudo talvez possa fazer uma
pequena e respeitosa emenda: hoje em dia alguns centroavantes
também têm-se provado dignos
dessa comparação.
Quanto mais velhos, melhores.
Não é sem alguma perplexidade
que faço essa observação, pois nos
meus primeiros tempos de futebol, os homens-gol não atingiam
as vetustas marcas etárias de hoje. Trinta anos era, mais ou menos, o limite da carreira, pois o futebol, apesar de mais lento, exigia
jogadores rápidos na frente. César, Palhinha, Mirandinha, Nunes e os vários Toninhos eram todos velozes e, quando deixaram
de o ser, abandonaram os gramados para entrar na história.
Com a chegada de novos métodos de preparação física, esse conceito começou a mudar e mesmo
alguns dos centroavantes movidos à explosão, como Jairzinho,
Claudio Adão e Roberto Dinamite, encerraram a carreira como
pensadores capazes de sutilezas
inimagináveis no começo.
Outros que estavam apenas
principiando, como Muller e Assis, chegaram a um senso de aproveitamento dos pequenos espaços
tão sofisticado que deixaram os
campos como gênios da grande
área. Evair, que ainda exibe sua
arte pelo Goiás, é um exemplo vivo da espécie, o goleador vinícola.
Na primeira rodada da semifinal, dois velhos artilheiros deixaram sua marca e foram decisivos
nas vitórias de seus times: um deles foi Alberto, outro foi Romário.
Alberto, reconheçamos, nem é
tão velho assim. Diante da juventude do elenco santista, porém,
seus quase 30 anos soam como
uma terceira idade futebolística.
De todo modo, o que importa é
que ele fez uma grande exibição.
No primeiro gol, destruiu o esquema defensivo do Grêmio com
um drible seco em Claudiomiro e
com um chute forte e bem direcionado. No segundo, adiantou-se à
marcação e deu um toque de letra
que surpreendeu Danrlei, a torcida e, talvez, até a ele mesmo.
Mas os dois gols não foram tudo. Alberto também voltou para
marcar, movimentou-se com inteligência, colocou companheiros
na cara do gol e executou a função de pivô para facilitar as entradas de Diego e Robinho.
Nada mal para quem começou
o campeonato sob o signo da desconfiança e sendo vaiado por
uma torcida cansada de experiências frustrantes.
Assim como Alberto, Romário
também reluziu. Fez o gol num
lance simples, mas no qual pudemos ver, mais uma vez, a facilidade com que ajeita o corpo, a tranquilidade com que domina a bola
e a rapidez com que decide o golpe final. Nada parece difícil para
ele diante do gol.
Após os três passes decisivos no
primeiro jogo contra o São Caetano, podemos dizer, sem exagero,
que é graças a ele que o Fluminense continua respirando. Se
mantiver a performance que costuma ter nos jogos contra o Corinthians, poderemos estar testemunhando a um de seus últimos
e mais impressionantes milagres.
Alberto e Romário estão agora
a um passo de chegar à final. Vivem as graças da boa fase, são
cumprimentados na rua e têm o
reconhecimento das torcidas. É
uma deliciosa embriaguez dos
sentidos, mas só o destino dirá se
a última lembrança terá gosto de
vinho ou de vinagre.
Segunda-1
O leitor Roosevelt Barbosa
envia os versos: "Minha terra
tem Palmeiras,/ Lusa e Paraná./ Paraná escapou na hora,/
Mas os dois foram pra lá./ Estarão onde merecem,/ Na segunda divisão,/ Jogarão para ninguém,/ Com o Gama e o
Fogão./ Na segunda é uma
pedreira,/ Futebol que ninguém vê,/ Mas, ó Porco, fica
esperto,/ Vacilou: é Série C".
Segunda-2
Rose Angélica e Beto Rosemberg dão a seleção dos rebaixados: Marcos; Arce, Sandro, Odvan e Leonardo; Galeano,
Zinho, Lúcio e Jackson; Dimba e Ricardo Oliveira.
Retificação
Na coluna escrevi que o Bangu fez 16 pontos a mais que o
Coritiba. Atentos leitores informaram-me que estes 16
pontos não têm tanto valor,
pois o Bangu jogou em outro
grupo, contra times bem inferiores aos rivais do Coxa.
E-mail torero@uol.com.br
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