São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Goleadores vinícolas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Um dos axiomas mais conhecidos no mundo do futebol diz o seguinte: "Um bom goleiro é como um bom vinho: quanto mais velho, melhor".
Longe de mim querer questionar a veracidade dessa sentença. Contudo talvez possa fazer uma pequena e respeitosa emenda: hoje em dia alguns centroavantes também têm-se provado dignos dessa comparação.
Quanto mais velhos, melhores.
Não é sem alguma perplexidade que faço essa observação, pois nos meus primeiros tempos de futebol, os homens-gol não atingiam as vetustas marcas etárias de hoje. Trinta anos era, mais ou menos, o limite da carreira, pois o futebol, apesar de mais lento, exigia jogadores rápidos na frente. César, Palhinha, Mirandinha, Nunes e os vários Toninhos eram todos velozes e, quando deixaram de o ser, abandonaram os gramados para entrar na história.
Com a chegada de novos métodos de preparação física, esse conceito começou a mudar e mesmo alguns dos centroavantes movidos à explosão, como Jairzinho, Claudio Adão e Roberto Dinamite, encerraram a carreira como pensadores capazes de sutilezas inimagináveis no começo.
Outros que estavam apenas principiando, como Muller e Assis, chegaram a um senso de aproveitamento dos pequenos espaços tão sofisticado que deixaram os campos como gênios da grande área. Evair, que ainda exibe sua arte pelo Goiás, é um exemplo vivo da espécie, o goleador vinícola.
Na primeira rodada da semifinal, dois velhos artilheiros deixaram sua marca e foram decisivos nas vitórias de seus times: um deles foi Alberto, outro foi Romário.
Alberto, reconheçamos, nem é tão velho assim. Diante da juventude do elenco santista, porém, seus quase 30 anos soam como uma terceira idade futebolística. De todo modo, o que importa é que ele fez uma grande exibição.
No primeiro gol, destruiu o esquema defensivo do Grêmio com um drible seco em Claudiomiro e com um chute forte e bem direcionado. No segundo, adiantou-se à marcação e deu um toque de letra que surpreendeu Danrlei, a torcida e, talvez, até a ele mesmo.
Mas os dois gols não foram tudo. Alberto também voltou para marcar, movimentou-se com inteligência, colocou companheiros na cara do gol e executou a função de pivô para facilitar as entradas de Diego e Robinho.
Nada mal para quem começou o campeonato sob o signo da desconfiança e sendo vaiado por uma torcida cansada de experiências frustrantes.
Assim como Alberto, Romário também reluziu. Fez o gol num lance simples, mas no qual pudemos ver, mais uma vez, a facilidade com que ajeita o corpo, a tranquilidade com que domina a bola e a rapidez com que decide o golpe final. Nada parece difícil para ele diante do gol.
Após os três passes decisivos no primeiro jogo contra o São Caetano, podemos dizer, sem exagero, que é graças a ele que o Fluminense continua respirando. Se mantiver a performance que costuma ter nos jogos contra o Corinthians, poderemos estar testemunhando a um de seus últimos e mais impressionantes milagres.
Alberto e Romário estão agora a um passo de chegar à final. Vivem as graças da boa fase, são cumprimentados na rua e têm o reconhecimento das torcidas. É uma deliciosa embriaguez dos sentidos, mas só o destino dirá se a última lembrança terá gosto de vinho ou de vinagre.

Segunda-1
O leitor Roosevelt Barbosa envia os versos: "Minha terra tem Palmeiras,/ Lusa e Paraná./ Paraná escapou na hora,/ Mas os dois foram pra lá./ Estarão onde merecem,/ Na segunda divisão,/ Jogarão para ninguém,/ Com o Gama e o Fogão./ Na segunda é uma pedreira,/ Futebol que ninguém vê,/ Mas, ó Porco, fica esperto,/ Vacilou: é Série C".

Segunda-2
Rose Angélica e Beto Rosemberg dão a seleção dos rebaixados: Marcos; Arce, Sandro, Odvan e Leonardo; Galeano, Zinho, Lúcio e Jackson; Dimba e Ricardo Oliveira.

Retificação
Na coluna escrevi que o Bangu fez 16 pontos a mais que o Coritiba. Atentos leitores informaram-me que estes 16 pontos não têm tanto valor, pois o Bangu jogou em outro grupo, contra times bem inferiores aos rivais do Coxa.

E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Basquete - Melchiades Filho: Jogo baixo
Próximo Texto: Automobilismo: FIA corta Arrows, e F-1 terá seu menor Mundial em 32 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.