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São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2003

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De "muso" a "véio", Giovane ressurge para a seleção

Jefferson Coppola/Folha Imagem
O ponta Giovane, peça-chave na conquista da Copa do Mundo, posa com a taça da competição


Eleito o melhor atacante da Copa, atleta de 33 anos se firma como peça-chave de Bernardinho

LUÍS FERRARI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1989, Giovane Gavio sentiu pela primeira vez o gosto de ser o melhor. Aos 19 anos, foi o mais eficiente bloqueador da Copa do Mundo. Estava sozinho no pódio. O Brasil amargara o quinto lugar.
No domingo, a cena se repetiu. Novamente no Japão, o ponta, hoje com 33 anos, ganhou o título de melhor atacante da Copa.
Mas agora, antes de receber seu prêmio, conquistou com a seleção o inédito troféu do torneio.
"Quando eu comecei, meu sonho era ir para a seleção. Depois, quis ser o melhor do mundo. Consegui em 1993 [na Liga Mundial], mas não acrescentou muito à minha vida", disse ele, que, como Escadinha, dividiu os US$ 50 mil da premiação com a equipe.
"O prêmio individual é muito ingrato em um esporte coletivo. Não dá para você ser bom sozinho em um time", completou ele, que chegou ontem a São Paulo com os jogadores que atuam no país e a comissão técnica.
Peça-chave na conquista da Copa, Giovane consolidou sua posição na seleção de Bernardinho.
De reserva "talismã", que fez o ponto do título mundial de 2002, desbancou Giba, tornou-se titular e provou que ainda pode jogar bem em nível internacional.
"Eu estou bem fisicamente, treinando muito e, principalmente, tenho alegria para jogar", disse ele, que no domingo fez questão de dar a Bernardinho sua primeira medalha como técnico -só os atletas costumam ser premiados.
O jovem bonitão que subiu ao pódio em Barcelona-92 também viu sua condição de "muso" da seleção de ouro se transformar.
No atual grupo, ele é o "véio". Não por ser o mais velho -Maurício tem 35 anos-, mas por sua influência entre os jogadores.
"Ele sempre dá uma de filósofo, fala coisas que ninguém espera. Escutamos, mas, depois, tiramos sarro dele", contou Ricardinho.
No Mundial, Giovane deu uma de poeta e escreveu o "Diamante de 12 faces", em alusão à coesão do grupo. Naquele torneio e na Copa-03, foi o guardião da mandala -os jogadores fazem um desenho que representa o caminho que seguirão até o título e pregam no vestiário a cada jogo.
Espírita, ele também compartilha suas aflições com o grupo.
"Tive um sonho ruim antes da partida com o Japão [último da Copa]. Contei para eles. Ajudou a tirar a "zica'", disse o atacante.
Giovane já assistira a seus pesadelos virarem realidade na equipe em que obteve sua maior glória.
Após o ouro olímpico, viu o time, aos poucos, se desmantelar por rachas internos e ficar em quinto em Atlanta-96. No mesmo ano, foi para a areia com Tande, mas não conseguiu seu principal objetivo: a vaga em Sydney-2000.
Resgatado pelo técnico Radamés Lattari e longe da melhor forma, fracassou novamente: ficou em sexto nos Jogos australianos.
O jogador voltou à seleção em 2001 ainda marcado pela má atuação em Sydney: foi direto para o banco e viu Giba se firmar.
"Não me importava. Se eu entrasse para fazer só um pontinho e ajudar, estava bom."
Na final do Mundial-2002, seu ponto foi fundamental. Entrou para sacar no tie-break e anotou o ace da vitória sobre a Rússia.
Na Copa, começou como titular após Giba sentir dores no pescoço. Não saiu mais. "A mudança mostra como o grupo é maduro. Contra Sérvia e Montenegro, meu passe estava ruim. O Giba me orientou a mudar a posição dos braços. Fui o melhor em quadra."


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