São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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TOSTÃO

Futebol de clichês


Na Libertadores, há chavões que falam do torcedor e até do espírito do time, o que faz o torneio parecer outro esporte

O FUTEBOL é um paraíso de frases feitas e de mesmas explicações para situações bem diferentes.
Quando trabalhava na televisão e fazia comentários ao vivo, esforçava-me para não dizer lugares-comuns e, de repente, já tinha dito. Isso também ocorre hoje no meu trabalho no rádio. Mesmo quando escrevo, com tempo para corrigir, não consigo fugir de algumas repetições. O clichê é um vício. Só os loucos e os raríssimos gênios são completamente originais.
A Libertadores é rica em clichês. Na última semana, escutei várias vezes que existe um "estilo de jogar de Libertadores", "árbitro de Libertadores", "técnico de Libertadores", "jogador de Libertadores" e até "torcedor de Libertadores".
Alguns repórteres adoram perguntar depois da partida: "Como foi estrear na Libertadores?". A maioria dos novatos responde sempre: "É um torneio diferente, difícil de jogar, os árbitros não marcam faltas e os argentinos são muito catimbeiros."
Parece até que a Libertadores é outro esporte e que, para ganhar o título, é preciso jogar feio e duro. Alguns narradores adoram dizer que há no estádio um "clima de Libertadores" e que, para vencer, é preciso ter "espírito de Libertadores".
A Libertadores é a mais importante competição sul-americana, mais importante que os torneios nacionais. Ganhar a Libertadores dá prestígio e dinheiro. Por isso, há mais público, mais vibração, os jogos são mais disputados, corridos, com mais faltas e, às vezes, mais violentos.
Existem "torcedores de Libertadores", como muitos do São Paulo. Dizem também que o clube tem a "cara de Libertadores". Mas, por causa do elevado preço dos ingressos, o público tem, progressivamente, diminuído, como na quarta-feira. Para os dirigentes, torcedor paga qualquer preço para um jogo da Libertadores. Não é bem assim.
Há também "técnicos de Libertadores". O argentino Carlos Bianchi é chamado de "Mister Libertadores", pelos títulos conquistados. Se Luxemburgo não ganhar essa competição, será lembrado como um grande treinador, estrategista, mas que não sabia disputar a Libertadores.
Falam que "árbitros de Libertadores" são diferentes porque marcam poucas faltas e deixam o jogo correr. Por outro lado, os árbitros brasileiros, quando apitam jogos de campeonatos nacionais, são os que mais marcam faltas e pênaltis desnecessários em todo o mundo. Qualquer disputa de bola em que o jogador cai é marcada a falta. Os espertos jogadores brasileiros se aproveitam disso e enganam os árbitros.
A contratação do zagueiro argentino Schiavi pelo Grêmio foi bastante elogiada porque ele é "jogador de Libertadores". Há vários assim rotulados. Qualquer perna-de-pau da Argentina tem a "cara de Libertadores". Não é o caso do Schiavi, que é um bom zagueiro para qualquer campeonato.
Dizem ainda que é bom para os clubes brasileiros contratar jogadores sul-americanos para a Libertadores porque eles "falam a língua dos árbitros". Mas também dizem que "a língua dos jogadores de futebol é universal". Qual é a verdade? Depende. "No futebol, não há verdade que dure mais que 24 horas."

Cabeças podem rolar
Continuando os clichês, Palmeiras e Corinthians fazem um jogo de vida ou morte. Dizem que a cabeça de um dos técnicos vai rolar hoje. Se der empate, rolam duas ou nenhuma? Falam que o trunfo hoje do Palmeiras é o veterano Edmundo, que está bem preparado, mas somente para jogar bem um tempo. Será no primeiro ou no segundo?
Será que o Corinthians mudará o esquema tático, o vapt-vupt, de muita correria e chutões à frente? Às vezes dá certo.

tostao.folha@uol.com.br


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