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preliminares
África planeja usar prostituta em ação anti-Aids na Copa
Para coibir transmissão, comitê do governo quer treinar "trabalhadores do sexo" para relações seguras no Mundial
Projeto, que deve sofrer só ajustes em votação amanhã, descriminaliza a prostituição no período do torneio; doença é epidemia no país
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
A trégua no combate à prostituição durante a Copa da África
do Sul é uma das recomendações para evitar que a Aids se
espalhe durante o torneio, segundo documento preliminar
do órgão do governo responsável pela luta contra a doença.
O texto obtido pela Folha,
com oito páginas, é de autoria
do Conselho Nacional de Aids
da África do Sul (Sanac, na sigla
em inglês), principal formulador de políticas anti-Aids no
país, onde a doença atinge níveis epidêmicos. O órgão é chefiado pelo vice-presidente sul-
-africano, Kgalema Motlanthe.
O documento será votado
pela plenária do Sanac amanhã, mas não se esperam grandes mudanças, de acordo com o
coordenador do grupo que o
elaborou, Mabalane Mfundisi.
"Com o objetivo de assegurar
a proteção de trabalhadores do
sexo e de seus clientes durante
a Copa, o governo sul-africano
está sendo instado, por meio do
Sanac, a pôr em prática uma
moratória na implementação
de todas as leis relacionadas ao
trabalho sexual", diz o texto,
produto de seis seminários
desde novembro de 2009.
Na África do Sul, a prostituição é criminalizada, mas largamente praticada. Durante a
Copa, o mercado do sexo deve
aumentar, prevê o documento.
"Espera-se que muitos trabalhadores do sexo se instalem
na África do Sul durante a Copa. E que alguns dos torcedores, tanto locais como estrangeiros, envolvam-se em atividades sexuais", diz o texto.
Segundo o Sanac, a prostituição é um dos principais vetores
de transmissão da Aids no país.
O círculo começa com homens
que pegam a doença e geralmente não sabem disso, pois
não fazem o teste de HIV. Acabam passando o vírus para suas
mulheres, que depois darão à
luz crianças doentes.
Na África do Sul, a Aids atinge 10,9% da população, ou 5
milhões de pessoas, o maior
número absoluto do mundo.
No Brasil, segundo o escritório
da ONU que lida com a Aids, a
taxa de infectados é de 0,6% da
população. Num evento da
magnitude da Copa, em que
quase meio milhão de estrangeiros chegarão para um mês
de diversão, o risco de o HIV se
alastrar é considerável.
"Os trabalhadores do sexo
precisam de aconselhamento e
informação sobre Aids, de modo a não passarem o vírus
adiante. Mas como vou organizar um workshop quando a atividade é criminalizada? Como
vou convencer que é apenas
um seminário e não uma armadilha da polícia?", diz Mfundisi.
O conselho pede que sejam
elaborados programas específicos de aconselhamento em
"zonas quentes" de prostituição nas nove cidades-sedes, especialmente nos arredores de
locais frequentados por turistas. Também defende treinamento para policiais lidarem
com prostitutas e o estabelecimento de "áreas seguras" -em
clínicas, por exemplo-, em que
possam receber assistência.
Na África do Sul, as recomendações do Sanac carregam
peso político, até porque o órgão é chefiado pelo vice-presidente. Mas o governo não está
obrigado a seguir suas orientações, especialmente num tema
tão polêmico. O presidente Jacob Zuma terá a palavra final.
Fundado em 2000, o Sanac
tem como função "aconselhar
o governo em política e estratégia relacionadas à Aids", segundo seu estatuto, e também monitorar a atuação do Executivo.
Sete ministros e 17 representantes da sociedade civil também compõem o órgão.
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