São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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AUTOMOBILISMO

GP do Bahrein tenta retribuir investimentos que trouxeram tecnologia e profissionalismo para a categoria

F-1 corre para pagar dívida com árabes

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SAKHIR

Quando a luz verde se apagar hoje em Sakhir e 20 carros largarem para o primeiro GP do Oriente Médio, com Michael Schumacher à frente, a F-1 começará a pagar uma dívida com o mundo árabe. De quase 20 anos.
Começará a agradecer sua existência nos moldes atuais. Sua transformação, no final dos anos 70 e início dos 80, de uma liga quase amadora para um campeonato de altíssima tecnologia, com custos estratosféricos, em que o profissionalismo é palavra de ordem e chega às raias do exagero.
É fato: a F-1 de hoje não existiria sem o dinheiro do Oriente Médio.
O GP do Bahrein, terceira etapa do Mundial, acontece a partir das 8h30 (de Brasília), com TV. Na primeira posição do grid, invicto em treinos oficiais neste ano, o hexacampeão. Rubens Barrichello sai em segundo (leia ao lado).
Atrás deles, equipes que talvez já tivessem virado pó não fosse a ajuda de empresários árabes.
Foi graças aos sauditas, por exemplo, que Williams e McLaren dominaram a categoria nos anos 80 e ainda se mantêm fortes.
Em 1979, o então obscuro time de Frank Williams foi adotado por um esquadrão de patrocinadores sauditas que queria exibir suas marcas ao mundo. Entre eles, empresas do pai de Osama bin Laden, líder da rede Al Qaeda.
O grupo Bin Laden, a Albilad (rede de hotéis) e a Saudia (companhia aérea) passaram a estampar seus logotipos nos carros da equipe, que apenas engatinhava. Não por coincidência, a Williams começou a colher resultados.
Naquele mesmo ano, o time conquistou suas três primeiras poles e suas cinco primeiras vitórias. No seguinte, Alan Jones, um piloto mediano, ganhou o título.
A parceria com os árabes foi até 1985, virou uma espécie de folclore -no pódio, seus pilotos não podiam beber champanhe, uma ofensa para o islã- e fez da Williams uma das grandes da F-1.
Ao fim do namoro, a equipe já acumulava dois Mundiais de Pilotos e dois de Construtores.
Com esse cartel, passou a um outro patamar. Tornou-se mais fácil buscar novos patrocinadores e exigir mais do bolo da categoria.
A McLaren também cresceu com dinheiro árabe. Em 1981, o time fechou um contrato com Mansour Ojeh, filho de Akram Ojjeh, um intermediário na venda de armas da Europa e dos EUA para países do Oriente Médio.
Sua empresa, a Techniques d'Avant Garde, já havia estado na Williams, mas queria mais. E, em 1984, Ojeh tornou-se o sócio majoritário da McLaren.
Mais uma vez, não foi coincidência. Com o TAG estampado no carro, a McLaren foi campeã em 84, com Niki Lauda. E a partir daí viveu um "boom", os anos de ouro, com a dupla Ayrton Senna e Alain Prost, que lhe renderam seis Mundiais de Pilotos.
A cúpula da F-1 também deve à região. A começar pelo mais alto dirigente, Bernie Ecclestone.
No final dos anos 50, o inglês começou a fazer fortuna negociando veículos de guerra com países da região. Foi o início de uma carreira que o tornou bilionário.
Segundo reportagem publicada no mês passado pelo jornal "The Daily Mail", da Inglaterra, Ecclestone é hoje o sétimo homem mais rico do Reino Unido, com estimados US$ 3,9 bilhões (cerca de R$ 11,5 bilhões) em conta.
Por trás da aura de novidade da corrida de hoje, existe, na verdade, uma história antiga. Que começou quando a F-1 era uma turma de jovens cabeludos, que fumavam no grid, colecionavam namoradas e brigavam em público. E que o dinheiro árabe ajudou a transformar em uma categoria de pilotos sem rosto, que evitam atritos, que nada falam sem passar pelo crivo das equipes.
Mas que, até pelo ineditismo da pista, talvez produzam uma boa corrida, quando a luz verde se apagar hoje em Sakhir.


NA TV - GP do Bahrein, Globo, ao vivo, às 8h30


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