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AUTOMOBILISMO
GP do Bahrein tenta retribuir investimentos que trouxeram tecnologia e profissionalismo para a categoria
F-1 corre para pagar dívida com árabes
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SAKHIR
Quando a luz verde se apagar
hoje em Sakhir e 20 carros largarem para o primeiro GP do Oriente Médio, com Michael Schumacher à frente, a F-1 começará a pagar uma dívida com o mundo árabe. De quase 20 anos.
Começará a agradecer sua existência nos moldes atuais. Sua
transformação, no final dos anos
70 e início dos 80, de uma liga
quase amadora para um campeonato de altíssima tecnologia, com
custos estratosféricos, em que o
profissionalismo é palavra de ordem e chega às raias do exagero.
É fato: a F-1 de hoje não existiria
sem o dinheiro do Oriente Médio.
O GP do Bahrein, terceira etapa
do Mundial, acontece a partir das
8h30 (de Brasília), com TV. Na
primeira posição do grid, invicto
em treinos oficiais neste ano, o hexacampeão. Rubens Barrichello
sai em segundo (leia ao lado).
Atrás deles, equipes que talvez
já tivessem virado pó não fosse a
ajuda de empresários árabes.
Foi graças aos sauditas, por
exemplo, que Williams e McLaren dominaram a categoria nos
anos 80 e ainda se mantêm fortes.
Em 1979, o então obscuro time
de Frank Williams foi adotado
por um esquadrão de patrocinadores sauditas que queria exibir
suas marcas ao mundo. Entre
eles, empresas do pai de Osama
bin Laden, líder da rede Al Qaeda.
O grupo Bin Laden, a Albilad
(rede de hotéis) e a Saudia (companhia aérea) passaram a estampar seus logotipos nos carros da
equipe, que apenas engatinhava.
Não por coincidência, a Williams
começou a colher resultados.
Naquele mesmo ano, o time
conquistou suas três primeiras
poles e suas cinco primeiras vitórias. No seguinte, Alan Jones, um
piloto mediano, ganhou o título.
A parceria com os árabes foi até
1985, virou uma espécie de folclore -no pódio, seus pilotos não
podiam beber champanhe, uma
ofensa para o islã- e fez da Williams uma das grandes da F-1.
Ao fim do namoro, a equipe já
acumulava dois Mundiais de Pilotos e dois de Construtores.
Com esse cartel, passou a um
outro patamar. Tornou-se mais
fácil buscar novos patrocinadores
e exigir mais do bolo da categoria.
A McLaren também cresceu
com dinheiro árabe. Em 1981, o time fechou um contrato com
Mansour Ojeh, filho de Akram
Ojjeh, um intermediário na venda
de armas da Europa e dos EUA
para países do Oriente Médio.
Sua empresa, a Techniques d'Avant Garde, já havia estado na Williams, mas queria mais. E, em
1984, Ojeh tornou-se o sócio majoritário da McLaren.
Mais uma vez, não foi coincidência. Com o TAG estampado
no carro, a McLaren foi campeã
em 84, com Niki Lauda. E a partir
daí viveu um "boom", os anos de
ouro, com a dupla Ayrton Senna e
Alain Prost, que lhe renderam seis
Mundiais de Pilotos.
A cúpula da F-1 também deve à
região. A começar pelo mais alto
dirigente, Bernie Ecclestone.
No final dos anos 50, o inglês começou a fazer fortuna negociando veículos de guerra com países
da região. Foi o início de uma carreira que o tornou bilionário.
Segundo reportagem publicada
no mês passado pelo jornal "The
Daily Mail", da Inglaterra, Ecclestone é hoje o sétimo homem mais
rico do Reino Unido, com estimados US$ 3,9 bilhões (cerca de R$
11,5 bilhões) em conta.
Por trás da aura de novidade da
corrida de hoje, existe, na verdade, uma história antiga. Que começou quando a F-1 era uma turma de jovens cabeludos, que fumavam no grid, colecionavam
namoradas e brigavam em público. E que o dinheiro árabe ajudou
a transformar em uma categoria
de pilotos sem rosto, que evitam
atritos, que nada falam sem passar pelo crivo das equipes.
Mas que, até pelo ineditismo da
pista, talvez produzam uma boa
corrida, quando a luz verde se
apagar hoje em Sakhir.
NA TV - GP do Bahrein, Globo,
ao vivo, às 8h30
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