São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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Brasileiro é quem apita

O sul-coreano Kim Young-joo, 44, mostrou ontem que, no apito, o Brasil parece estar protegido. Com o pênalti inexistente que marcou, entrou para a lista dos árbitros que erraram a favor da seleção após o início da era Ricardo Teixeira na CBF, em 1989. Membro do Comitê Executivo da Fifa, o dirigente vive seu melhor momento na entidade mundial. E afirma, com orgulho: "Dentro dos limites da ética, uma Copa também pode ser vencida nos bastidores".

DO ENVIADO A GWANGJU
E DOS ENVIADOS A ULSAN

No hotel da seleção em Ulsan, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, em nada lembra o taciturno cartola que há menos de um ano era alvo de duas CPIs do Congresso e que teve sua renúncia defendida até pelo Ministério do Esporte e Turismo. O dirigente é só sorrisos, está alegre, fortalecido pela reeleição de Joseph Blatter na Fifa e por sua ascensão na entidade.
"É claro que o Brasil passou a ter um peso ainda maior no jogo de poder", afirmou Teixeira na véspera do jogo contra a Turquia.
No sábado retrasado, quando a Fifa anunciou em Seul os árbitros que iriam trabalhar nas partidas das duas rodadas iniciais da Copa-2002, Teixeira não escondia a satisfação pela escolha do sul-coreano Kim Young-joo para apitar o jogo entre Brasil e Turquia.
Anteontem, após a Fifa ter autorizado a substituição do volante Emerson por Ricardinho menos de cinco horas após o pedido da CBF, ele dizia, ainda que em tom de brincadeira: "Ganhar a eleição da Fifa tem lá as sua vantagens".
Membro do Comitê Executivo da Fifa, Teixeira foi peça importante na vitória do suíço Blatter no último dia 29 para comandar a entidade por mais quatro anos. O brasileiro amealhou votos nas Américas, na Ásia e na África.
Além disso, o ex-genro de João Havelange, presidente de honra da Fifa e "mentor" da primeira candidatura Blatter, se manteve fiel ao suíço nos momentos mais difíceis da campanha, quando um série de denúncias de corrupção foi desferida pelos adversários.
E, assim, no jogo dos bastidores, Teixeira passou ontem como um rolo compressor sobre o presidente da Comissão de Arbitragem da Fifa, o turco Senes Erzik.
Mesmo sendo vice-presidente da comissão, o brasileiro assistiu o jogo ao lado de Blatter e viu um dos mais inexperientes dos 36 árbitros do Mundial marcar para o Brasil um pênalti em que a falta foi cometida fora da área.
Kim é o típico juiz que dirigiu boa parte dos confrontos brasileiros nas últimas Copas: tem pouca vivência em grandes partidas.
O coreano começou a apitar, segundo dados da própria Fifa, apenas em 1994. No mesmo ano, já fazia parte do quadro internacional. Seu apogeu foi uma semifinal da Copa das Confederações.
Ele vem de uma escola sem tradição na arbitragem. Até este ano, a Coréia do Sul nunca tinha mandado juiz para uma Copa.
Antes do jogo, o sul-coreano já parecia intimidado com a importância do duelo de ontem. Em entrevista oficial realizada pela Fifa, disse que antes de aplicar um cartão iria ter uma "conversa de pai" com os jogadores. Contra os turcos, o Brasil cometeu 19 faltas, sendo que nenhuma delas foi advertida com um amarelo.
Como auxiliares ontem, Kim tinha dois bandeirinhas de países de futebol também inexpressivos -El Salvador e Cingapura.
Árbitros de "nanicos" da bola estiveram em momentos-chave da seleção nas últimas Copas.
Em 1994, o costariquensse Rodrigo Badilla foi fundamental na vitória sobre a Holanda nas quartas-de-final -os holandeses reclamam de dois gols ilegais.
Em 1998, o Brasil teve jogos apitados por árbitros dos Estados Unidos, dos Emirados Árabes Unidos e de Marrocos.
Mas não é só com a escolha de juízes inexperientes que o Brasil está protegido na Copa-2002.
Sob a influência de Teixeira na Fifa, a América do Sul, para irritação dos europeus, é a região mais bem representada nas Copas.
Na Coréia e no Japão, dos 36 árbitros, 6 são sul-americanos -60% das federações da região mandaram juízes. Já a Europa tem menos de um terço de seus filiados representados. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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