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Brasileiro é quem apita
O sul-coreano Kim Young-joo, 44, mostrou ontem que, no apito, o Brasil parece estar protegido. Com o pênalti inexistente que marcou,
entrou para a lista dos árbitros que erraram a favor da
seleção após o início da era Ricardo Teixeira na CBF,
em 1989. Membro do Comitê Executivo da Fifa, o dirigente vive seu melhor momento na entidade mundial.
E afirma, com orgulho: "Dentro dos limites da ética,
uma Copa também pode ser vencida nos bastidores".
DO ENVIADO A GWANGJU
E DOS ENVIADOS A ULSAN
No hotel da seleção em Ulsan,
Ricardo Teixeira, presidente da
CBF, em nada lembra o taciturno
cartola que há menos de um ano
era alvo de duas CPIs do Congresso e que teve sua renúncia defendida até pelo Ministério do Esporte e Turismo. O dirigente é só sorrisos, está alegre, fortalecido pela
reeleição de Joseph Blatter na Fifa
e por sua ascensão na entidade.
"É claro que o Brasil passou a ter
um peso ainda maior no jogo de
poder", afirmou Teixeira na véspera do jogo contra a Turquia.
No sábado retrasado, quando a
Fifa anunciou em Seul os árbitros
que iriam trabalhar nas partidas
das duas rodadas iniciais da Copa-2002, Teixeira não escondia a
satisfação pela escolha do sul-coreano Kim Young-joo para apitar
o jogo entre Brasil e Turquia.
Anteontem, após a Fifa ter autorizado a substituição do volante
Emerson por Ricardinho menos
de cinco horas após o pedido da
CBF, ele dizia, ainda que em tom
de brincadeira: "Ganhar a eleição
da Fifa tem lá as sua vantagens".
Membro do Comitê Executivo
da Fifa, Teixeira foi peça importante na vitória do suíço Blatter
no último dia 29 para comandar a
entidade por mais quatro anos. O
brasileiro amealhou votos nas
Américas, na Ásia e na África.
Além disso, o ex-genro de João
Havelange, presidente de honra
da Fifa e "mentor" da primeira
candidatura Blatter, se manteve
fiel ao suíço nos momentos mais
difíceis da campanha, quando um
série de denúncias de corrupção
foi desferida pelos adversários.
E, assim, no jogo dos bastidores,
Teixeira passou ontem como um
rolo compressor sobre o presidente da Comissão de Arbitragem da Fifa, o turco Senes Erzik.
Mesmo sendo vice-presidente
da comissão, o brasileiro assistiu
o jogo ao lado de Blatter e viu um
dos mais inexperientes dos 36 árbitros do Mundial marcar para o
Brasil um pênalti em que a falta
foi cometida fora da área.
Kim é o típico juiz que dirigiu
boa parte dos confrontos brasileiros nas últimas Copas: tem pouca
vivência em grandes partidas.
O coreano começou a apitar, segundo dados da própria Fifa, apenas em 1994. No mesmo ano, já
fazia parte do quadro internacional. Seu apogeu foi uma semifinal
da Copa das Confederações.
Ele vem de uma escola sem tradição na arbitragem. Até este ano,
a Coréia do Sul nunca tinha mandado juiz para uma Copa.
Antes do jogo, o sul-coreano já
parecia intimidado com a importância do duelo de ontem. Em entrevista oficial realizada pela Fifa,
disse que antes de aplicar um cartão iria ter uma "conversa de pai"
com os jogadores. Contra os turcos, o Brasil cometeu 19 faltas,
sendo que nenhuma delas foi advertida com um amarelo.
Como auxiliares ontem, Kim tinha dois bandeirinhas de países
de futebol também inexpressivos
-El Salvador e Cingapura.
Árbitros de "nanicos" da bola
estiveram em momentos-chave
da seleção nas últimas Copas.
Em 1994, o costariquensse Rodrigo Badilla foi fundamental na
vitória sobre a Holanda nas quartas-de-final -os holandeses reclamam de dois gols ilegais.
Em 1998, o Brasil teve jogos apitados por árbitros dos Estados
Unidos, dos Emirados Árabes
Unidos e de Marrocos.
Mas não é só com a escolha de
juízes inexperientes que o Brasil
está protegido na Copa-2002.
Sob a influência de Teixeira na
Fifa, a América do Sul, para irritação dos europeus, é a região mais
bem representada nas Copas.
Na Coréia e no Japão, dos 36 árbitros, 6 são sul-americanos
-60% das federações da região
mandaram juízes. Já a Europa
tem menos de um terço de seus filiados representados.
(FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO
BOMBIG, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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