|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUIZ CARLOS BARRETO
Os "terroristas" do Senegal
O dia 31 de maio de 2002
ficará na história do futebol mundial como o
dia em que 11 bravos senegaleses
mandaram pelos ares a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, assim como os agentes de Bin Laden explodiram as torres do World Trade Center e o Pentágono. Essa data terá para o futebol francês e
mundial importância equivalente ao 11 de setembro de 2001 para
a história política e social dos
EUA e do resto do mundo.
Os jogadores franceses chegaram ao Japão desfilando envoltos
na aura de campeões do mundo e
alguns deles deram declarações,
no mínimo, inconvenientes e surpreendentes, tais como: ""O futebol brasileiro está decadente";
""Estamos melhores que em 98, dificilmente seremos batidos"; ""O
time brasileiro não estará entre
os quatro finalistas da Copa".
Todas essas provocações visavam criar um clima psicológico
para um possível confronto entre
os times da França e do Brasil na
fase de quartas-de-final. No entanto os franceses esqueceram
que, antes de pensar no Brasil,
deveriam concentrar sua atenção
no seu primeiro rival, o Senegal.
Tal qual os norte-americanos negligenciaram, do alto de seu poderio, as potencialidades e o poder de fogo do adversário oculto.
Assim como os norte-americanos, os franceses se assustaram e,
tomados de perplexidade, ficaram impotentes diante daqueles
11 "terroristas" senegaleses que,
em estado de missão, se lançaram
à "batalha" com uma bravura e
uma determinação incomuns.
Aqueles 90 minutos de jogo restarão como um simbolismo, uma
metáfora de uma fome de libertação colonial. Aliás, a história das
Copas está marcada por várias
passagens como esta.
Em 1950, aqui no Brasil, um time de peladeiros universitários
representando os EUA derrotou o
legendário e até então quase imbatível "English Team", que chegou ao Brasil também envolto
numa aura de inventores do futebol e foram se refugiar no ameno
clima de Belo Horizonte, onde
acabaram sendo derrotados, logo
na estréia, pelos seus súditos norte-americanos, que, num ato insolente, impuseram aos "players"
da rainha um 1 x 0 que espantou
o mundo. Este também foi um
ato de vingança do colonizado
contra o colonizador.
Numa outra perspectiva e circunstâncias bem diferentes, em
1958, na Suécia, a seleção brasileira teve seu ato de coragem e rebeldia ao derrotar e impor sua incontestável superioridade sobre o
time soviético que chegou àquela
Copa apontado como um supertime e ajudado pela façanha de
Gagarin no bojo de seu Sputnik.
Os 11 jogadores soviéticos eram
apontados e encarados como 11
superatletas, 11 ""Gagarins" , superdotados física e mentalmente.
Tudo isso começou a ruir logo
nos primeiros três minutos de jogo, quando aquele rapaz nascido
em Pau Grande, na raiz da Serra
de Petrópolis, com suas pernas
tortas, começou a colocar em fila
a defesa do time soviético e, com
seus dribles, fez todos caírem de
bunda no chão, transformando-os em simples zagueiros desnudados de suas fantasias de astronauta que a imprensa mundial,
inclusive a brasileira, lhes emprestara. Este também foi um jogo de superação de um complexo.
No dia seguinte, o crítico Gabriel
Hanot, dos jornais "France Football" e "L'Équipe", abria a manchete: "Garrincha: Um Extraterrestre baixou na Suécia".
P.S.: Há muito não se via a seleção do Brasil jogar tão bem. Durante todo o tempo nosso time teve o controle absoluto da partida,
inclusive criando várias e nítidas
chances de gol em jogadas de toques rápidos e muita habilidade.
Pelo que vi ontem no jogo contra a Turquia, tenho a impressão
de que o Scolari vai devolver ao
futebol brasileiro seu verdadeiro
estilo -picardia, jogo de cintura
e criatividade. A convocação de
Ricardinho para a vaga de Emerson é o maior sintoma de que Felipão está a fim de craque.
Luiz Carlos Barreto, é produtor de
cinema, fotógrafo e jornalista
Texto Anterior: Turista Ocidental: Macholândia Próximo Texto: FOLHA ESPORTE Tênis: No ano da contusão, Guga pode ter pior posição na Corrida Índice
|