Decisão foi impulsionada por TV italiana, que mostrou uma tentativa de agressão do volante em Julio Cruz após o jogo de sexta-feira

Após ter dito que nenhum atleta do time anfitrião seria punido por confusão com argentinos, entidade suspende Frings

GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Cada seleção tem três títulos mundiais. Os visitantes levam folgada vantagem no retrospecto, os anfitriões nunca perderam no palco da partida.
Razões não faltam para tornar atrativo o clássico de hoje em Dortmund. Uma decisão polêmica da Fifa, porém, incendiou de vez o duelo entre Alemanha e Itália, que decide às 16h (de Brasília) o primeiro finalista da Copa do Mundo.
Tudo começou anteontem pela manhã, quando o Comitê Disciplinar da entidade que controla o futebol no planeta falou que nenhum jogador alemão seria punido pela confusão após o duelo com a Argentina.
O treinador Jürgen Klinsmann, assim, teria todos os titulares. Só que o cenário mudou totalmente depois que uma TV italiana exibiu imagens exclusivas do embate.
Nelas, Torsten Frings, volante alemão, acerta o atacante argentino Julio Cruz após os pênaltis que asseguraram a classificação dos anfitriões, quando brilhou a estrela do goleiro alemão Jens Lehmann.
Com as imagens divulgadas, um julgamento emergencial foi marcado, e, na tarde de ontem, Frings acabou suspenso da partida. Os ânimos, então, afloraram. "Não cabe a mim comentar esse caso. Posso dizer que a Itália é a favorita. Eles ganharam por 4 a 1 da gente em março, estão invictos contra a Alemanha em Copas e levam vantagem até nos duelos entre os clubes dos países. Tudo está a favor deles. É incrível", disse, em tom irônico, o meia Michael Ballack, capitão alemão.
A Fifa assegura que a pressão da mídia italiana -as emissoras de TV do país exibiam sem parar a imagem da contenda Frings-Cruz- não influenciou no resultado do julgamento.
De todo modo, recebeu críticas. Três horas antes de saber que perderia uma peça importante em seu meio-campo, Klinsmann já reclamava.
"Havia muita emoção naquele momento, que envolvia dois times que lutaram durante 120 minutos. O juiz do jogo puniu quem achou que deveria punir [deu cartão vermelho ao argentino Cufré]. Acho que não deveríamos insistir no julgamento." Depois, foi ainda mais contundente. "Estamos convencidos de que Frings é inocente."
Klinsmann afirma ter boas recordações da Itália, onde atuou como jogador. Diz apreciar a comida e guardar amigos queridos. Espera, assim, que o jogo não ganhe clima bélico pelo que ocorreu nos bastidores.
"Nosso objetivo é não levar essa polêmica para o campo", declarou o treinador.
Logo após o anúncio da suspensão, a Itália também se apressou em seguir a mesma vereda. "A iniciativa é da Fifa. Não temos interesse em criar atrito nem em punir Frings", afirmou Antonello Valentini, porta-voz da Squadra Azzurra.
Tanta preocupação tem justificativa. Seis jogadores, no total, estão pendurados -os alemães Friedrich (lateral), Podolski (atacante) e Odonkor (meia) e os italianos Grosso e Zambrotta (ambos laterais) e Gattuso (volante).
Parece tarde demais. Ontem, a tensão na Alemanha era tão evidente que produziu cenas curiosas. O diário "Bild" instigou a população a boicotar restaurantes italianos por causa da celeuma com Frings.
Mais: um porta-voz da federação alemã, cansado de receber indagações dos jornalistas sobre a situação dos dois cozinheiros da seleção -ambos italianos-, apressou-se em anunciar: "Eles torcem como doidos pela Alemanha."