São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TOSTÃO

Um craque é pouco


Robinho apresentou uma espetacular atuação pela seleção, mas o time não pode depender de um só jogador


DIFERENTEMENTE DAS outras partidas sob comando do Dunga, quando atuou pela direita, defendendo e atacando, Elano jogou contra o Chile de terceiro volante. É um exagero defensivo.
A Argentina também atua com três volantes (Mascherano, Verón e Cambiasso). Por isso, a crítica e o torcedor argentino querem ver o meia Aimar no lugar do Cambiasso.
A diferença dos volantes argentinos para os brasileiros está na qualidade. Verón tem características de meia, ótimo passe e finaliza muito bem de fora da área.
Jogar com três volantes apenas marcadores é uma coisa. Outra é a necessidade de se ter três jogadores que marcam no meio-campo. Dois deles precisam avançar.
Desde a Copa de 58 que a seleção brasileira joga assim. No Mundial de 70, a linha de três marcadores era formada por Clodoaldo, Gerson e Rivellino. Quando o time recuperava a bola, Gerson e Rivellino se aproximavam do ataque.
Não se pode confundir também armadores que marcam e atacam, como Gerson, Rivellino, Deco, Juninho Pernambucano, Verón e outros, com meias ofensivos, como Diego, Anderson, Riquelme, que recuam só para receber a bola e que não participam da marcação no meio-campo.
Uma coisa que me incomoda é citarem a seleção de 70 como exemplo de uma época em que os jogadores só pensavam em fazer gols, não marcavam, só praticavam treinos coletivos, faziam o que queriam em campo e resolviam as partidas.
Zagallo dava muitos treinos táticos, mais que hoje. Antes dos treinos e jogos, ele mostrava com detalhes e com clareza a movimentação dos jogadores por meio de um campo pequeno e de botões.
Havia um planejamento tático, e todos cumpriam, além de inventar e improvisar jogadas.
Não adianta nada um técnico moderno, com um fantástico computador, como existem muitos por aí, dar instruções se ele não conhece nem o esquema tático do adversário.
Após o jogo, para espanto de alguns jornalistas presentes, Dunga disse que o Chile tinha jogado com duas linhas de quatro. O Chile atuou com três zagueiros.
Muito melhor que todas essas discussões foram as jogadas do Robinho pela direita no segundo tempo. O terceiro gol foi magistral.
Se foi o Dunga que mudou a posição do Robinho, o técnico merece elogios, e não apenas críticas.
Isso não significa que ele deva atuar sempre assim. Cada jogo tem sua história.
Não podemos esquecer ainda que Robinho, depois que saiu do Santos, talvez tenha aproveitado pela primeira vez a sua enorme velocidade e habilidade para ser o grande craque de um jogo. Foi uma das mais espetaculares atuações de um jogador pela seleção. Havia tempos que Robinho ameaçava fazer isso e errava a finalização ou o último passe.
Não podemos esquecer também que é exceção um jogador brilhar tanto enquanto seu time está perdido em campo.
Se o Brasil continuar atuando mal, for eliminado e o Robinho jogar mal, será injusto e cruel dizer que ele fracassou no momento decisivo. Um time não pode depender somente de um jogador.
Ainda mais o Brasil.

tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Régis Andaku: A sensação do controle
Próximo Texto: Reclamação marca 1º dia de bilheteria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.