São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

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XICO SÁ

Carta aberta a Mr. Bridge


Levanta-te, pois só um chifre humaniza um homem. Nunca fui lateral, porém já levei muitas bolas nas costas


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, venho por meio desta, uma vez mais, pedir a providencial licença, data venia, para me dirigir ao jovem inglês Wayne Bridge, cujo destino o encobriu com a mais ingrata das bolas nas costas.
Caro Bridge, assim como os teus colegas de Manchester City, esta é uma manifestação pública de solidariedade, um ombro latino, que tanto entende do assunto, para que chores e te livres o mais rápido possível dessa farsa shakespereana.
Quem nunca viveu tal infortúnio? Basta estar vivo, amigo. Na companhia de uma mulher como Vanessa Perroncel, a francesa, tua ex, ampliamos as chances do amor e de outros objetos pontiagudos, como no título do livro do Marçal Aquino.
Sim, dói mais por ser escândalo de tabloide, dói mais por ser público, dói mais por se tratar de um amigo urso, o capitão da seleção inglesa, John Terry, o cara do Chelsea.
Ei, Bridge, não fique mal, escute uma música triste dos Beatles e se sinta bem melhor.
Ei, Bridge, venha para a noite de São Paulo que te apresento garotas legais. Se não der no processo burguês da conquista, caímos no Love Story ou no Amistosas.
Ei, Bridge, te ligas em um velho mantra que me ajuda a curar todas as traições da existência: quando a vida dói, drinque caubói.
Ei, Bridge, hello!, levanta-te e anda, miras o Lázaro e bola pra frente. Ora, reparas quantas moças querem te consolar a essa altura. É, bem sabemos que nestes momentos o sexo mais selvagem do mundo não arremata todos os males. Pô, velho, mas como ajuda!
Ei, Bridge, só a lama cura.
Pera lá, vamos fazer a Pollyana: eis um cara de sorte, belo salário, seleção inglesa, pegou uma das mulheres mais gostosas da França, quantos rapazes têm a manha? Raríssimos, amigo, vamos chutar o balde, assobiemos no ouvido da próxima.
Sem essa de julgar o Terry, mui amigo, o destino poderia te reservar o doloroso papel na comédia de erros. É sacanagem, mas aplicas, de novo, a autoajuda Beatles, deixa estar, a vida cuida. Em matéria de amor, e só em matéria de amor, aqui se faz, aqui se paga. O capitão um dia também perde as graças do mar e das sereias, eis a lei dos homens.
Tampouco vale demonizar a bela Eva com biquinho francês. Existem três coisas, camarada, que nada detém: água ladeira abaixo, fogo ladeira acima e mulher quando põe na cabeça que vai dar para algum sujeito.
É, meu caro, são dois ingleses e o amor, a vida imita o pior do clichê da sétima arte. Ei, amigo, o ideal é tirar uma licença do futiba, ninguém merece coro de torcida sobre o tema, mesmo que seja de apoio e força.
Boys choram sim, meu rapaz, gastas logo essas lágrimas, qualquer coisa é só ligar, tens o ombro, o quarto de hóspede e vinis de matar o mais "cool" dos ingleses.
Ei, Bridge, Rolling Stones na radiola de ficha, uísque duplo e a sinuca do Bahia, Baixo Augusta, também são um baita programa de cura.
Levanta-te, bem sabes que só um chifre humaniza um homem. Daqui para a frente serás um grande garoto. Palavra de quem nunca foi lateral de ofício, mas que já levou muitas bolas nas costas. Sem essa de vingança ou queixa contra as mulheres, amigo, a vida te chama para o jogo.

xico.folha@uol.com.br


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