São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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Estudo inédito do Incor revela que 58% dos árbitros de São Paulo apresentam algum problema

Maioria dos juízes precisa de tratamento psicológico

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

À beira de um ataque de nervos, os árbitros paulistas terão a partir de amanhã de deitar no divã.
Após o escândalo do apito protagonizado pelo juiz Edilson Pereira de Carvalho, a Federação Paulista de Futebol encomendou ao Incor estudo inédito e de resultado revelador: 58% da arbitragem estadual apresenta algum problema, sobretudo por estresse ou reclamações financeiras.
Segundo a FPF e o Instituto do Coração, as características são incompatíveis com a profissão e podem levar a desvios de conduta. Assim, 220 dos 378 árbitros e assistentes da entidade passarão a ter acompanhamento psicológico. Tecnicamente, eles têm recomendação para atuar, mas com a condição de passarem por dez consultas individuais ou em grupo para verificar a saúde mental.
Outros problemas detectados são ansiedade, insegurança, dificuldades de decisão e assumir responsabilidade. Caberá à Comissão de Arbitragem da FPF definir se os mantém ou não.
"O número [220] de árbitros que farão acompanhamento psicológico é alto, mas necessário para que eles não desenvolvam traços de personalidade parecidos com o do Edilson", diz o presidente da Comissão de Arbitragem, Marcos Marinho.
Após denúncia anônima, Edilson foi flagrado em escutas telefônicas feitas pelo Ministério Público que apontaram o envolvimento dele com a venda de resultados de jogos de futebol para favorecer apostadores de sites. Tanto a FPF quanto a CBF o baniram em 2005.
Dentre as justificativas apresentadas por Edilson à Policia Federal para ter participado do esquema estava o fato de ser viciado em bingos e ter contraído dívidas.
Por isso, explica a psicóloga Vera Lúcia Bonato, coordenadora do projeto "Apto para o Apito", do Incor, os juízes foram entrevistados e mapeados sob três faces:
1) Biológica: checa como o indivíduo está fisicamente. Exemplo: se tem predisposição a alergia.
2) Social: verifica como a pessoa se relaciona com o dinheiro, economicamente, quanto gasta etc.
3) Psicológica: avalia a tipologia psíquica do árbitro, como ele lida com decisões sob pressão.
"A partir desses três itens, produzimos o laudo biopsicossocial", afirmou Bonato. "Esse trabalho não é milagroso. Desvios de caráter você não corrige. Identifica."
Os 378 árbitros foram então divididos em três grupos. O primeiro, que reuniu os que foram batizados de "recomendados" (ou seja, sem restrições para apitar), tem 151 juízes ou assistentes.
A seguir, vieram os "recomendados com suporte" -o grupo que receberá ajuda a partir de amanhã. O terceiro bloco é o dos não-recomendados, formado por sete pessoas que, segundo os critérios do estudo, têm perfil autoritário, tendência depressiva e dificuldade de controle em situação de estresse. Estes refarão os testes.


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