São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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FUTEBOL

Não falta centroavante

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Depois de um ano sem vencer um grande rival paulista, a vitória do São Paulo sobre o Corinthians na quarta-feira poderá recuperar a confiança e incendiar a equipe na decisão do Torneio Rio-São Paulo.
Mas sem França e Kaká as chances diminuem. A grande força do São Paulo estava no quarteto formado por França, Kaká, Souza e Reinaldo. Sandro Hiroshi, Dill ou Júlio Baptista podem estar num dia de sorte e fazerem o que não sabem: finalizar no canto, onde o goleiro não está. Parece que eles procuram o goleiro.
A defesa do São Paulo melhorou nos últimos dois jogos. A ausência do França enfraqueceu o ataque, mas fortaleceu o sistema defensivo porque Nelsinho escalou mais um armador com função também de marcação. Ele não conseguiu no São Paulo o que o Parreira fez no Corinthians: atacar com muitos jogadores sem fragilizar a marcação. Este é o desafio de todos os treinadores.
Souza e Belletti não podem ser reservas do São Paulo. A melhor posição do Belletti é na lateral direita, onde tem espaços para atacar e defender, já que possui muita mobilidade e velocidade. O meio-campo é setor de marcação, mas também de criação e intimidade com a bola.
No início de sua carreira, Souza foi rotulado de apático e injustamente responsabilizado pelas deficiências das equipes. Sempre que o São Paulo atua mal, Nelsinho, como faziam os técnicos anteriores, substitui o jogador. Somente no Paraná Souza foi mais valorizado e compreendido. Por isso, brilhou intensamente. Alguns jogadores mais frágeis emocionalmente precisam de apoio e carinho. Souza é um deles.
No Brasil, sempre que um armador habilidoso atua mal e o time perde, dizem que ele "não chamou o jogo para si". Quando joga bem, dizem que é um craque. Não é uma coisa nem outra. Esses jogadores se destacam quando atuam em equipes organizadas e superiores às outras. Raramente um jogador sozinho muda a história de uma partida.
Ricardinho está muito bem porque o Corinthians tem vários jogadores responsáveis pela armação das jogadas. A principal virtude do Corinthians, além do Dida, está na passagem da bola de pé em pé, sem pressa, de uma intermediária até a outra. É o que falta à seleção brasileira.
Fabrício, Vampeta, Ricardinho, Rogério e Kléber ditam o ritmo da equipe, não se perturbam, nem rifam a bola, como se diz na gíria do futebol. Quando abrem-se espaços na defesa adversária, o time também é veloz no contra-ataque. Não se pode confundir velocidade com afobação.
Parreira corrigiu vários defeitos desses jogadores. Vampeta não corre mais com a bola, nem tenta jogadas impossíveis, como antes. Kléber aprendeu a se posicionar corretamente, a fazer a cobertura dos zagueiros e a atacar no momento certo. Rogério não cruza mais para se livrar da bola. Ricardinho continua com a mesma habilidade e talento -e marcando melhor. Fabrício é um volante que desarma e passa bem a bola.
O Corinthians não atua com três atacantes e três armadores. O encanto do time é não ter essa rigidez e divisão de setores. Leandro é um atacante que também recua e arma as jogadas. Gil e Deivid voltam à linha de meio-campo, desarmam e avançam. Ricardinho, Vampeta, Rogério, Kléber e até Fabrício defendem e atacam. Tudo sincronizado.
Não falta ao Corinthians mais finalizações e um típico centroavante, como pedem. É melhor ter um time em que vários jogadores têm condições de fazer gols do que apenas um único artilheiro. O que falta à equipe são atacantes de mais talento, com as mesmas características dos atuais. Deivid, Gil e Leandro não têm a qualidade dos grandes atacantes. Deivid é o que mais se destaca porque está sempre bem posicionado para finalizar. Os três têm futuro.
Já imaginou a seleção brasileira atuando com a mesma lucidez e toque de bola que o Corinthians e com jogadores como Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo, França, Kaká e outros excepcionais atacantes? Seria um timaço!
Apesar do melhor momento do Corinthians, o São Paulo ganhou no meio da semana e pode vencer novamente. É um clássico! Mesmo que perca os títulos da Copa do Brasil e o Torneio Rio-São Paulo, o Corinthians já deu o seu recado. Não se pode analisar uma equipe somente pelos títulos.
O time de Parreira resgatou um estilo bonito, cadenciado e eficiente, que há muito não se via no futebol brasileiro. Mas, na prática, só se ganhar títulos servirá de modelo para outros treinadores.

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