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FUTEBOL
Ex-Timão
JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Jornalistas e torcedores.
Boa parte se confunde, perde a
razão, fala com rancor ou simplesmente esquece. Para salvar o
Corinthians basta mudar a diretoria? A culpa é do cartola que
não sabe nada!
De 1998 para cá, o time paulista
levantou seus mais importantes
troféus. Conquistou duas vezes o
Brasileiro (98/99); três o Paulistão; o Mundial de Clubes em
2000; a Copa do Brasil em 2002 e
o vice Brasileiro no mesmo ano.
Ninguém ganhou mais. E a diretoria... Não era a mesma?
Por que foi competente num
passado recente e agora é crucificada? Por que, ao contrário do
Flamengo -que propaga sua
pré-falência e quer virar empresa-, o Corinthians, em sua pior
situação, não encara a verdade
de seu cofre vazio? Dirigir clube
em tempos de crise financeira é
como administrar um país em
época de recessão, que o diga o corintiano Lula. Nos tempos de grana era fácil juntar Dida, Gamarra, Vampeta, Rincon, Edílson,
Marcelinho, Ricardinho, Luizão...
Hoje tem que ouvir um sonoro
"não quero jogar no Timão" por
parte de peças de reposição como
Edu Dracena, Gilberto, Aristizábal, Alex, Deivid e outros que preferiram melhores salários, pagos
em dia e longe da fiel patrulha.
Por outro lado, faltou inteligência para uma saída após o fracasso da parceria com o fundo
HMTF. Erros primários e amadores para um futebol profissional.
No Santos, alguém manda, gasta milhões do próprio bolso, investe e saca depois, e o Conselho
Fiscal fecha os olhos. No Cruzeiro,
ninguém explica como entra e sai
tanto dinheiro. O mesmo acontece em São Caetano, onde alguém
vira dono e não precisa dar satisfação a ninguém. Mas o Corinthians não suportaria virar lavanderia. Então espere a crise
passar ou um bom parceiro chegar. Com dinheiro, verde e limpo.
Novo rei
Depois de Romário, veio o depoimento espontâneo de Maradona. Agora só falta o Edson ter
um minuto de Pelé e reconhecer
que Ronaldinho Gaúcho é hoje,
de longe, o novo rei da bola. Porque Ronaldinho está quilômetros
à frente de Zidane, Henry e quem
se apresentar. Encanta pela magia dos dribles. Evolui em todos os
fundamentos. Gols de cabeça, de
falta, desarmes e assistências.
Sem retrovisor seus passes traseiros são inigualáveis -que me
perdoe o doutor Sócrates.
Mais completo é impossível. O
gaúcho é o jogador-show que
atrai todas as torcidas.
Dúvida cruel
Não me sai da cabeça a discussão sobre a evolução dos jovens
talentos brasileiros na Europa.
Por que alguns, como Ronaldinho, Kaká, Edu e Juninho Pernambucano, melhoraram tanto?
Taticamente, nem se fala. Eis a
dúvida: nossos treinadores são
culpados, conhecem pouco de tática? Não temos a cultura tática?
Ou não é nada disso, o futebol europeu é que é tão comum que os
brazucas desequilibram e viram
deuses? Ajudem-me ou esperem
pela volta do Tostão.
Mídia de porre
Como é bom recordar artigos do
Tostão. Em "Papai Noel eletrônico", vibrei quando ele imortalizou: "No mundo moderno ou pós-moderno, da cultura, da vulgaridade e do exibicionismo, vende-se
de tudo, principalmente a própria
imagem. Quem não aparece não
se vende, não tem prestígio, nem
fatura. O importante não é fazer
bem, e sim vender bem. Às vezes,
percebendo ou não, vende-se
também a alma. São jornalistas
virando garoto-propaganda,
exercendo dupla função".
A lembrança do que definiu
Tostão deve-se a outro artigo, de
Marcos Augusto Gonçalves nesta
mesma Folha. Mag, do time ético
de Tostão, discute o papel de Ronaldo como garoto-propaganda
de cerveja. Proponho o debate sobre a mistura de jornalismo com
publicidade na TV. Há diferença
entre jogador e jornalista na venda de cerveja? Sim, o jornalista
não é artista e sobrevive de sua
opinião e credibilidade.
O jogador vive dos pés, não da
boca. Tem algo mais antiético ou
imoral do que chamar o conhecido Parque Antarctica de Parque
Schincariol só porque sua emissora tem patrocínio da Schin? Infelizmente jornalismo esportivo de
verdade é raridade na TV. Muitos
se embebedaram de vez, e os poucos que recusam esse tipo de porre
logo poderão ser chamados de estranhos ou de dinossauros, como
concluiu Tostão.
Prefiro a pré-história.
Jorge Kajuru, 43, é apresentador do
"Esporte Total" da TV Bandeirantes
Tostão está em férias
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