São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Ex-Timão

JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA

Jornalistas e torcedores. Boa parte se confunde, perde a razão, fala com rancor ou simplesmente esquece. Para salvar o Corinthians basta mudar a diretoria? A culpa é do cartola que não sabe nada!
De 1998 para cá, o time paulista levantou seus mais importantes troféus. Conquistou duas vezes o Brasileiro (98/99); três o Paulistão; o Mundial de Clubes em 2000; a Copa do Brasil em 2002 e o vice Brasileiro no mesmo ano.
Ninguém ganhou mais. E a diretoria... Não era a mesma?
Por que foi competente num passado recente e agora é crucificada? Por que, ao contrário do Flamengo -que propaga sua pré-falência e quer virar empresa-, o Corinthians, em sua pior situação, não encara a verdade de seu cofre vazio? Dirigir clube em tempos de crise financeira é como administrar um país em época de recessão, que o diga o corintiano Lula. Nos tempos de grana era fácil juntar Dida, Gamarra, Vampeta, Rincon, Edílson, Marcelinho, Ricardinho, Luizão...
Hoje tem que ouvir um sonoro "não quero jogar no Timão" por parte de peças de reposição como Edu Dracena, Gilberto, Aristizábal, Alex, Deivid e outros que preferiram melhores salários, pagos em dia e longe da fiel patrulha.
Por outro lado, faltou inteligência para uma saída após o fracasso da parceria com o fundo HMTF. Erros primários e amadores para um futebol profissional.
No Santos, alguém manda, gasta milhões do próprio bolso, investe e saca depois, e o Conselho Fiscal fecha os olhos. No Cruzeiro, ninguém explica como entra e sai tanto dinheiro. O mesmo acontece em São Caetano, onde alguém vira dono e não precisa dar satisfação a ninguém. Mas o Corinthians não suportaria virar lavanderia. Então espere a crise passar ou um bom parceiro chegar. Com dinheiro, verde e limpo.

Novo rei
Depois de Romário, veio o depoimento espontâneo de Maradona. Agora só falta o Edson ter um minuto de Pelé e reconhecer que Ronaldinho Gaúcho é hoje, de longe, o novo rei da bola. Porque Ronaldinho está quilômetros à frente de Zidane, Henry e quem se apresentar. Encanta pela magia dos dribles. Evolui em todos os fundamentos. Gols de cabeça, de falta, desarmes e assistências.
Sem retrovisor seus passes traseiros são inigualáveis -que me perdoe o doutor Sócrates.
Mais completo é impossível. O gaúcho é o jogador-show que atrai todas as torcidas.

Dúvida cruel
Não me sai da cabeça a discussão sobre a evolução dos jovens talentos brasileiros na Europa. Por que alguns, como Ronaldinho, Kaká, Edu e Juninho Pernambucano, melhoraram tanto? Taticamente, nem se fala. Eis a dúvida: nossos treinadores são culpados, conhecem pouco de tática? Não temos a cultura tática? Ou não é nada disso, o futebol europeu é que é tão comum que os brazucas desequilibram e viram deuses? Ajudem-me ou esperem pela volta do Tostão.

Mídia de porre
Como é bom recordar artigos do Tostão. Em "Papai Noel eletrônico", vibrei quando ele imortalizou: "No mundo moderno ou pós-moderno, da cultura, da vulgaridade e do exibicionismo, vende-se de tudo, principalmente a própria imagem. Quem não aparece não se vende, não tem prestígio, nem fatura. O importante não é fazer bem, e sim vender bem. Às vezes, percebendo ou não, vende-se também a alma. São jornalistas virando garoto-propaganda, exercendo dupla função".
A lembrança do que definiu Tostão deve-se a outro artigo, de Marcos Augusto Gonçalves nesta mesma Folha. Mag, do time ético de Tostão, discute o papel de Ronaldo como garoto-propaganda de cerveja. Proponho o debate sobre a mistura de jornalismo com publicidade na TV. Há diferença entre jogador e jornalista na venda de cerveja? Sim, o jornalista não é artista e sobrevive de sua opinião e credibilidade.
O jogador vive dos pés, não da boca. Tem algo mais antiético ou imoral do que chamar o conhecido Parque Antarctica de Parque Schincariol só porque sua emissora tem patrocínio da Schin? Infelizmente jornalismo esportivo de verdade é raridade na TV. Muitos se embebedaram de vez, e os poucos que recusam esse tipo de porre logo poderão ser chamados de estranhos ou de dinossauros, como concluiu Tostão.
Prefiro a pré-história.


Jorge Kajuru, 43, é apresentador do "Esporte Total" da TV Bandeirantes
Tostão está em férias


Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Cadê ele?
Próximo Texto: Futebol: Corinthians leva inferno para seu paraíso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.