São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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Fé cega se faz presente no Morumbi

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A fé, atributo necessário ao corintiano, define-se no dicionário pela certeza das coisas que não foram vistas. No Morumbi ontem, entre os mais de 63 mil pagantes, havia uma perfeita tradução do sentimento que mais caracteriza a Fiel torcida do time alvinegro.
O corintiano Marcos Bobadilla Fidalgo, 24, acompanhou o jogo no Morumbi, pela rádio Bandeirantes. Em lances de perigo, apertava o fone direito com a mão, enquanto a outra continha o nervosismo segurando o fio. Não perderia a final por nada, mesmo que não tenha podido ver um único lance.
Desde os 22 anos, um glaucoma congênito lhe tirou 100% da visão nos dois olhos, que sempre enxergaram com dificuldade. "Ele assistia à TV sempre a um palmo de distância, e usava binóculos nos estádios", lembra o pai de Marcos, o anestesista Pedro Fidalgo, 56.
A paixão, no entanto, levou o hoje assessor de comunicação ao estádio, acompanhado do pai e do amigo Jorge Piccolli, 23. "Como eu já enxerguei, tenho uma memória e uma noção das coisas que acontecem no gramado", afirma Marcos, que passou o tempo todo de pé.
Assim que o jogo começa, pergunta ao pai para que lado o time ataca. Além do radinho -em que mantém um dedo pronto para mudar de estação sempre que entra a publicidade-, conta com a narração do pai e do amigo.
"E obviamente, tem a torcida, que sempre grita o gol em cima. Mesmo com todo o barulho, às vezes tudo o que eu preciso ouvir é um "tirou" [da área], isso basta", declara.
Nos ataques contra o Corinthians, seu pai muitas vezes pára a narração para "rezar" -o que amplificava a sensação de perigo vindo do Sport. Nessas horas, xinga, desabafa -ainda que mais discretamente que os demais. Quando a zaga alivia, bate palmas, canta.
No primeiro tempo, achou que o time estava bem, embora tenha sentido mais necessidade de troca de passes. Elogiou a marcação de Carlos Alberto e gostou da movimentação de Herrera. "Ele me parece ser um Luizão mais magro, mais guerreiro."
Se houve, no segundo tempo, a explosão com o terceiro gol, de Acosta, o sofrimento também foi grande. Em dado momento, a tensão da torcida o fez virar-se para o pai e perguntar onde estava a bola. Com o gol de Enilton, bateu o fone com força no ferro da cadeira da frente.
"Está bom, mas não pode dar essa desatenção. Com 3 a 0, já éramos campeões", falou Marcos.


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