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Fé cega se faz presente no Morumbi
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A fé, atributo necessário
ao corintiano, define-se no
dicionário pela certeza das
coisas que não foram vistas. No Morumbi ontem,
entre os mais de 63 mil pagantes, havia uma perfeita
tradução do sentimento
que mais caracteriza a Fiel
torcida do time alvinegro.
O corintiano Marcos
Bobadilla Fidalgo, 24,
acompanhou o jogo no
Morumbi, pela rádio Bandeirantes. Em lances de
perigo, apertava o fone direito com a mão, enquanto
a outra continha o nervosismo segurando o fio. Não
perderia a final por nada,
mesmo que não tenha podido ver um único lance.
Desde os 22 anos, um
glaucoma congênito lhe tirou 100% da visão nos dois
olhos, que sempre enxergaram com dificuldade.
"Ele assistia à TV sempre a
um palmo de distância, e
usava binóculos nos estádios", lembra o pai de Marcos, o anestesista Pedro
Fidalgo, 56.
A paixão, no entanto, levou o hoje assessor de comunicação ao estádio,
acompanhado do pai e do
amigo Jorge Piccolli, 23.
"Como eu já enxerguei, tenho uma memória e uma
noção das coisas que acontecem no gramado", afirma Marcos, que passou o
tempo todo de pé.
Assim que o jogo começa, pergunta ao pai para
que lado o time ataca.
Além do radinho -em que
mantém um dedo pronto
para mudar de estação
sempre que entra a publicidade-, conta com a narração do pai e do amigo.
"E obviamente, tem a
torcida, que sempre grita o
gol em cima. Mesmo com
todo o barulho, às vezes
tudo o que eu preciso ouvir é um "tirou" [da área],
isso basta", declara.
Nos ataques contra o
Corinthians, seu pai muitas vezes pára a narração
para "rezar" -o que amplificava a sensação de perigo vindo do Sport. Nessas horas, xinga, desabafa
-ainda que mais discretamente que os demais.
Quando a zaga alivia, bate
palmas, canta.
No primeiro tempo,
achou que o time estava
bem, embora tenha sentido mais necessidade de
troca de passes. Elogiou a
marcação de Carlos Alberto e gostou da movimentação de Herrera. "Ele me
parece ser um Luizão mais
magro, mais guerreiro."
Se houve, no segundo
tempo, a explosão com o
terceiro gol, de Acosta, o
sofrimento também foi
grande. Em dado momento, a tensão da torcida o fez
virar-se para o pai e perguntar onde estava a bola.
Com o gol de Enilton, bateu o fone com força no
ferro da cadeira da frente.
"Está bom, mas não pode dar essa desatenção.
Com 3 a 0, já éramos campeões", falou Marcos.
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