São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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TOSTÃO

Um grande negócio


O futebol, e não só a Fifa, é hoje grande balcão de negócio. Compra--se e vende-se de tudo, até a alma

JÉRÔME VALCKE, secretário-geral da Fifa, disse que o Qatar comprou o direito de realizar a Copa de 2022. Depois, tentou explicar o inexplicável, falou que usou de uma linguagem informal e que o país árabe apenas utilizou o poder econômico para ter o apoio de que precisava.
Qual é a diferença entre o corruptor, que entrega dinheiro ao corrupto, e o que trafica, troca favores, dá presentes e outros agrados interesseiros? A corrupção é a mesma. Muitos não pensam assim, mesmo sem dizer. Acham que isso faz parte das relações humanas.
Querem oficializar a desonestidade.
Há tráfico de influências na Fifa, nos governos, na política, na CBF, nas federações, nos clubes e em grande parte da sociedade.
Joseph Blatter, reeleito pela quarta vez presidente da Fifa, irritado com os jornalistas, que querem saber a verdade e que não são promoters, falou que a Fifa não é um bazar. O futebol, e não só a Fifa, é um grande balcão de negócios. Compra-se e vende- -se de tudo, até a alma.
Tudo que dura e cresce demais tende a implodir. A federação inglesa deu o pontapé inicial para as mudanças, mas nenhuma outra federação quis trocar passes.
Fazem parte da patota. Mesmo os bem intencionados adoram ficar próximos do poder. Pior, como ensina a história, os sucessores, mesmo com ideias opostas, costumam fazer tudo o que criticavam.
Os maiores problemas do mundo são a ganância, a estupidez e a idiotice humanas.
Quanto mais sofre acusações de corrupção, mais a Fifa distribui dinheiro para as federações, principalmente às mais pobres, com o objetivo de ganhar votos e posar de benfeitora da humanidade. Da mesma forma, a cada dia, aumenta o número de maus cidadãos travestidos de defensores do bem.
Como não tenho pretensão nem poder de salvar o mundo, tento ser um cidadão correto. É minha obrigação. Não é fácil. São muitas as tentações.
Refugio-me também na fantasia. Achei em Lisboa, após procurar a fita cassete, depois o DVD, por mais de 30 anos, o musical "Dom Quixote de La Mancha", com Peter O'toole, Sophia Loren e a belíssima canção "Um sonho impossível".
Dom Quixote queria vencer o inimigo invencível. Isso está tão distante da realidade que seus nobres ideais são cada dia mais vistos apenas como uma engraçada comédia.
Assisti ao filme, pela primeira vez, quando foi lançado o videocassete. Era adolescente. Como diz um belo fado, "não é o tempo que passa, nós é que passamos".


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