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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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Volta da França, 100, larga pelo jogo limpo

Joel Saget/France Presse
O americano Lance Armstrong, que teve câncer nos testículos e pode ser o mais velho a conseguir cinco títulos da Volta da França, lidera treino da equipe US Postal



Abalada por escândalos de doping nos últimos anos, principal prova do ciclismo mundial usa centenário para tentar recuperar orgulho perdido


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MAGNY-COURS

A efeméride é perfeita e muito bem-vinda: cem anos. Apoiada nela, começa hoje a Volta da França, com um prólogo de 6,5 quilômetros da Torre Eiffel à avenida Motte-Piquet, em Paris.
A organização da principal prova do ciclismo festeja como pode seu centenário. Montou exposição na prefeitura parisiense, emplacou shows na TV e barracas de suvenires por todos os cantos.
O motivo para tanto empenho em celebrar é claro. O centenário, sempre o tema central dos eventos, serve de válvula de escape para os organizadores da Volta. É uma forma de driblar assuntos como doping, subornos e trapaças, marcas das últimas edições.
"A prova deste ano, por razões óbvias, não será normal. Será um evento raro, com um itinerário equilibrado, que proporcionará momentos emocionantes. Tinha que ser ser assim no ano do centenário. Será uma oportunidade para recuperarmos nosso orgulho", disse Jean-Marie Leblanc, o diretor geral da Volta, em entrevista coletiva na última terça.
Tudo foi cuidadosamente montado. A exposição no Hôtel de Ville, a prefeitura parisiense, foi preparada para impressionar.
Conta quase tudo sobre a prova. Só esquece das mutretas.
São muitas. E contam, também, a centenária história da Volta.
Desde 1903 a competição convive com as trapaças. No mesmo ritmo da evolução dos equipamentos, os ciclistas sofisticaram ao longo das décadas as suas estratégias para burlar as regras.
Naquele primeiro ano, competidores pegavam caronas em trens e eram rebocados por carros. Trapaças amadoras, ingênuas até, se comparadas às atuais.
Nas edições recentes, as relacionadas ao doping têm se tornado mais frequentes e visíveis.
A do ano passado gerou um dos maiores anticlímax da história da prova. Afinal, explodiu exatamente no dia da chegada, após uma prova teoricamente "limpa". Enquanto o lituano Raymundas Rumsas comemorava a terceira posição na classificação geral em plena avenida Champs-Elysée, sua mulher era presa com 37 tipos de drogas em seu carro.
É para abafar essas lembranças que a organização preparou uma edição cheia de referências a 1903.
Após o prólogo, a largada para valer, amanhã de manhã, será exatamente no mesmo ponto da primeira edição da corrida, em Montgeron, na periferia de Paris, onde há cem anos já funcionava o café Réveil Matin, um lugar sagrado para o ciclismo mundial.
As principais cidades do percurso são as mesmas da edição inaugural: Paris, Lyon, Marselha, Toulouse, Bordeaux e Nantes.
"Será uma grande releitura da história, uma oportunidade para todos conhecerem mais sobre a França e sobre esse esporte. Temos que deixar de lado o sentimento de culpa pelos casos dos últimos anos [referência aos escândalos de doping] e seguir em frente, confiantes", disse Leblanc.
Seus dedos estarão cruzados hoje, às 10h50 (de Brasília), na largada do primeiro ciclista. E assim devem continuar pelos próximos 22 dias e 3.427 quilômetros.


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