São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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José Roberto Torero

Aleleblê!, aleleblê!

Pelo menos durante os dias de jogos os franceses estão bem discretos

ESTOU EM PARIS para ver como torcem aqueles que nos venceram. E pelo menos durante os dias de jogos da França eles estão bem discretos. Nas ruas não vi ninguém com a camisa francesa, não há bandeiras penduradas nas janelas e nem ouvi gente conversando sobre futebol.
A única exceção foi um bêbado no metrô, que comia um sanduíche de atum e, com hálito pouco agradável, gritava com sotaque africano: "Aleleblê!, aleleblê!", que é a pronúncia de "Allez les Bleus!", algo como "vamos lá, Azuis!", o grito de guerra dos franceses.
Curiosamente, ninguém reprimia o bêbado. Pelo contrário. Até davam sorrisos e faziam sinais de condescendência para ele, como se, no fundo, quisessem fazer a mesma coisa, e só não fizessem porque são parisienses e isso não lhes fica bem.
De vez em quando, o sujeito mudava um pouco o discurso, dizendo que tinha vencido o time de Pelé, que ninguém podia com eles e que Zidane era novamente o melhor do mundo. Mas o discurso articulado durava pouco e ele logo voltava ao seu bordão: "Aleleblê!, aleleblê!".
O bêbado com cheiro de atum não está tão longe da verdade. Realmente Zidane fez a melhor apresentação individual até a essa altura da Copa. Mas hoje as coisas serão diferentes. O time de Felipão (aliás, já recebi alguns irados e-mails lusitanos por chamar Portugal de "time de Felipão"), mas como ia dizendo, o time de Felipão será o oposto do de Parreira. Ele terá garra de sobra e escassez de talento.
Figo, Maniche, Cristiano e Pauleta são bons jogadores, mas times brasileiros como São Paulo e Corinthians têm mais talento que a seleção nacional portuguesa. De qualquer forma, será interessante ver se Portugal, com vontade mas sem grandes talentos, passará pela França, que derrotou um Brasil com talentos mas sem vontade.
Ontem, na primeira semifinal, venceu a Itália, com vontade e habilidade. O jogo foi disputadíssimo, mas os italianos tinham um tanto mais de talento e isso fez a diferença.


torero@uol.com.br

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